Vejamos por que as soft skills na Geriatria são tão relevantes. Um médico deve ser capaz de receitar protocolos clínicos de memória, prescrever cada fármaco com precisão e estabelecer diagnósticos tão exatos quanto um bisturi.
Esse mesmo profissional, diante de um idoso que fala pausadamente, enfrenta dificuldade para ouvir e traz no olhar a insegurança de quem sofre, deve compreender suas necessidades e prestar a assistência adequada. Se faltar acolhimento, paciência e sensibilidade, todo esse conhecimento técnico converge para um atendimento impessoal, truncado e pouco eficaz.
Na Geriatria, onde cada paciente carrega uma história longa e complexa, as soft skills são tão importantes quanto o conhecimento técnico. Neste artigo, vamos explorar cinco competências comportamentais fundamentais para médicos que atuam ou desejam atuar com idosos — habilidades que transformam o cuidado em acolhimento e a Medicina em humanidade. Confira!
Soft skills são habilidades interpessoais e comportamentais que influenciam diretamente a qualidade das relações humanas.
Na prática médica, elas se manifestam na forma como o profissional se comunica, escuta, colabora e lida com emoções — suas e dos pacientes.
Na Geriatria, essas competências ganham ainda mais relevância. O atendimento ao idoso exige sensibilidade para lidar com limitações físicas, emocionais e sociais, além de respeito à autonomia e à dignidade.
O envelhecimento populacional brasileiro demanda uma formação médica mais integral, interdisciplinar e humanizada, com foco na atenção à saúde do idoso.
Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), habilidades como empatia, escuta ativa e comunicação clara potencializam a adesão ao tratamento e melhoram a qualidade de vida do paciente.
Uma das principais soft skills na Geriatria é a comunicação empática. A comunicação com o paciente idoso vai muito além de transmitir informações clínicas. É preciso saber ouvir com atenção, explicar com clareza e acolher com respeito.
Muitos idosos enfrentam dificuldades cognitivas, sensoriais ou emocionais que tornam a comunicação um desafio. Siga essas dicas para tornar a comunicação empática:
Ao mencionar qualquer palavra do jargão médico, acrescente uma definição clara ou um exemplo do cotidiano. Isso evita confusão e permite que o idoso compreenda o diagnóstico e o plano de tratamento, participe das decisões e se sinta mais confiante.
Prefira frases diretas e palavras simples, sem recorrer a diminutivos ou apelos condescendentes. Trate o paciente como um adulto experiente, valorizando seu conhecimento de vida. Isso mantém sua autoestima e estimula o engajamento no cuidado.
Olhar para o paciente, com o tronco voltado e gestos suaves, sinaliza presença e atenção. Um sorriso discreto, acenos de cabeça e inclinações do corpo ajudam a criar um ambiente confortável, encorajando o idoso a compartilhar medos, dores e necessidades.
Reconhecer o que o idoso sente — dizendo “entendo seu receio” ou “vejo como isso tem sido difícil” — demonstra empatia real. Esse acolhimento reduz a ansiedade, fortalece a relação médico-paciente e facilita conversas honestas sobre o tratamento.
O tempo do idoso é diferente. Consultas podem ser mais demoradas, relatos mais extensos e sintomas menos objetivos. Por isso, a escuta ativa é uma ferramenta diagnóstica poderosa. Considere esses aspectos:
Essa postura melhora a precisão clínica, como também fortalece o vínculo terapêutico. A empatia e a comunicação eficaz são pilares de um atendimento humanizado.
A Geriatria é, por natureza, uma especialidade multidisciplinar. Médicos trabalham lado a lado com enfermeiros, terapeutas ocupacionais, psicólogos, cuidadores e familiares. Por isso, a capacidade de cooperação é um destaque entre as soft skills na Geriatria:
Reconheça o conhecimento e as habilidades específicas de enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e psicólogos. Quando cada membro se sente valorizado, a colaboração flui melhor e o cuidado ao idoso se torna mais completo.
Envolva todos na definição do plano terapêutico: discuta metas, escolhas de tratamento e possíveis riscos. Essa corresponsabilização estimula o comprometimento de cada um e melhora a adesão do paciente.
Use relatórios concisos, reuniões breves e linguagem direta para atualizar o grupo sobre mudanças no quadro clínico. A objetividade reduz ruídos, evita retrabalho e garante segurança no atendimento.
Inclua parentes nas conversas sobre diagnóstico e rotina, acolhendo dúvidas e alinhando expectativas. A participação familiar fortalece o suporte emocional e otimiza a continuidade do tratamento.
O trabalho em equipe assegura uma abordagem mais completa e eficaz, promovendo o bem-estar físico, emocional e social do paciente.
Lidar com idosos é lidar com histórias de perdas, limitações, doenças crônicas e, muitas vezes, com a terminalidade da vida. O médico precisa estar emocionalmente preparado para enfrentar essas situações com equilíbrio e compaixão.
Nesse sentido, é recomendável seguir os aspectos abaixo.
Manter a calma em situações críticas começa por reconhecer suas reações instintivas (irritação, ansiedade, medo) e adotar técnicas de regulação, como respiração profunda e micropausas.
Treine a resposta em vez da reação. Esse autocontrole preserva a clareza de julgamento e transmite segurança ao idoso e à equipe.
Colocar-se no lugar do outro exige escuta ativa e compreensão das emoções alheias, mas sem sobrecarregar-se com elas.
Use a técnica do “copo transbordante”: sinta compaixão, reconheça a dor do paciente e deixe-a fluir de maneira controlada. Assim, você oferece acolhimento genuíno sem internalizar o sofrimento.
Identifique sinais de cansaço mental, irritabilidade ou desmotivação como indicadores de que suas reservas estão baixas.
Esse reconhecimento auxilia na prevenção do esgotamento e orienta a busca de estratégias de alívio — um dia de folga, atividades prazerosas ou conversas reflexivas. Saber parar é tão importante quanto saber atuar.
Utilize redes de suporte profissional e pessoal: grupos de estudo, supervisões clínicas, sessões de mentoria ou terapias.
Compartilhar desafios em fóruns de colegas ou em encontros de equipe não é sinal de fraqueza, mas de responsabilidade. O apoio externo renova perspectivas, oferece soluções práticas e ameniza o peso emocional.
Dedique tempo a atividades que recarreguem sua energia física e mental: exercícios, hobbies, meditação ou momentos de lazer com amigos e família.
O autocuidado diário reforça sua resiliência, aumenta o bem-estar geral e permite que você mantenha compassividade e eficácia no cuidado ao idoso.
Não existe um “modelo único” de paciente idoso. Cada indivíduo tem sua própria trajetória, condições clínicas, valores e expectativas. Por isso, a capacidade de adaptação é uma das soft skills para Geriatria indispensáveis.
Proceda da seguinte forma:
A adaptabilidade garante que o cuidado seja realmente centrado na pessoa, respeitando sua singularidade e promovendo um envelhecimento mais saudável e digno.
Desenvolver essas competências é um processo contínuo, que exige reflexão, prática e abertura para o aprendizado. Médicos que cultivam soft skills oferecem um atendimento mais eficaz e também constroem relações mais humanas e significativas com os pacientes.
Investir no desenvolvimento dessas habilidades fortalece a confiança mútua entre médico e paciente. A prática constante e o autoquestionamento permitem que o profissional se torne mais consciente de suas atitudes e escolhas.
Ao aprimorar a escuta ativa e a empatia, o cuidado clínico ganha em qualidade e assertividade. A habilidade de se comunicar de forma clara e acolhedora reduz a ansiedade e contribui para a adesão ao tratamento.
Profissionais abertos ao aprendizado contínuo estão mais preparados para experienciar dificuldades e imprevistos. Esse compromisso com o aprimoramento pessoal espelha-se na satisfação e no bem-estar dos pacientes.
Em última análise, as soft skills para Geriatria são alicerces para uma Medicina verdadeiramente centrada no ser humano e em seus pacientes.Quer aprofundar seus conhecimentos sobre carreira médica, especialidades e competências profissionais? Acesse o blog da Medway e descubra conteúdos exclusivos para transformar sua prática médica.
Foi residente de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) de 2016 a 2018. É um dos cofundadores da Medway e hoje ocupa o cargo de Chief Executive Officer (CEO). Siga no Instagram: @alexandre.remor