Confira 5 soft skills essenciais para atuar com Geriatria

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Vejamos por que as soft skills na Geriatria são tão relevantes. Um médico deve ser capaz de receitar protocolos clínicos de memória, prescrever cada fármaco com precisão e estabelecer diagnósticos tão exatos quanto um bisturi.

Esse mesmo profissional, diante de um idoso que fala pausadamente, enfrenta dificuldade para ouvir e traz no olhar a insegurança de quem sofre, deve compreender suas necessidades e prestar a assistência adequada. Se faltar acolhimento, paciência e sensibilidade, todo esse conhecimento técnico converge para um atendimento impessoal, truncado e pouco eficaz.

Na Geriatria, onde cada paciente carrega uma história longa e complexa, as soft skills são tão importantes quanto o conhecimento técnico. Neste artigo, vamos explorar cinco competências comportamentais fundamentais para médicos que atuam ou desejam atuar com idosos — habilidades que transformam o cuidado em acolhimento e a Medicina em humanidade. Confira!

A importância das soft skills na Geriatria

Soft skills são habilidades interpessoais e comportamentais que influenciam diretamente a qualidade das relações humanas.

Na prática médica, elas se manifestam na forma como o profissional se comunica, escuta, colabora e lida com emoções — suas e dos pacientes.

Na Geriatria, essas competências ganham ainda mais relevância. O atendimento ao idoso exige sensibilidade para lidar com limitações físicas, emocionais e sociais, além de respeito à autonomia e à dignidade.

O envelhecimento populacional brasileiro demanda uma formação médica mais integral, interdisciplinar e humanizada, com foco na atenção à saúde do idoso.

Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), habilidades como empatia, escuta ativa e comunicação clara potencializam a adesão ao tratamento e melhoram a qualidade de vida do paciente.

1. Comunicação empática

Uma das principais soft skills na Geriatria é a comunicação empática. A comunicação com o paciente idoso vai muito além de transmitir informações clínicas. É preciso saber ouvir com atenção, explicar com clareza e acolher com respeito.

Muitos idosos enfrentam dificuldades cognitivas, sensoriais ou emocionais que tornam a comunicação um desafio. Siga essas dicas para tornar a comunicação empática:

1.1 Evite termos técnicos sem explicação

Ao mencionar qualquer palavra do jargão médico, acrescente uma definição clara ou um exemplo do cotidiano. Isso evita confusão e permite que o idoso compreenda o diagnóstico e o plano de tratamento, participe das decisões e se sinta mais confiante.

1.2 Use uma linguagem acessível, mas nunca infantilizada

Prefira frases diretas e palavras simples, sem recorrer a diminutivos ou apelos condescendentes. Trate o paciente como um adulto experiente, valorizando seu conhecimento de vida. Isso mantém sua autoestima e estimula o engajamento no cuidado.

1.3 Mantenha contato visual e postura acolhedora

Olhar para o paciente, com o tronco voltado e gestos suaves, sinaliza presença e atenção. Um sorriso discreto, acenos de cabeça e inclinações do corpo ajudam a criar um ambiente confortável, encorajando o idoso a compartilhar medos, dores e necessidades.

1.4 Valide sentimentos e preocupações do paciente

Reconhecer o que o idoso sente — dizendo “entendo seu receio” ou “vejo como isso tem sido difícil” — demonstra empatia real. Esse acolhimento reduz a ansiedade, fortalece a relação médico-paciente e facilita conversas honestas sobre o tratamento.

2. Paciência e escuta ativa

O tempo do idoso é diferente. Consultas podem ser mais demoradas, relatos mais extensos e sintomas menos objetivos. Por isso, a escuta ativa é uma ferramenta diagnóstica poderosa. Considere esses aspectos:

  • para garantir que o idoso se sinta à vontade, ofereça espaço para que ele expresse seus sentimentos e queixas sem pressa;
  • preste atenção a sinais não verbais, como postura, tom de voz e expressões faciais, que podem revelar emoções subjacentes;
  • evite interromper ou julgar o que é dito, mantendo uma atitude de escuta aberta;
  • ao reagir com gestos ou palavras que reforcem o entendimento, o paciente percebe que está sendo ouvido e valorizado, fortalecendo a relação de confiança e facilitando a comunicação honesta.

Essa postura melhora a precisão clínica, como também fortalece o vínculo terapêutico. A empatia e a comunicação eficaz são pilares de um atendimento humanizado.

3. Capacidade de trabalho em equipe

A Geriatria é, por natureza, uma especialidade multidisciplinar. Médicos trabalham lado a lado com enfermeiros, terapeutas ocupacionais, psicólogos, cuidadores e familiares. Por isso, a capacidade de cooperação é um destaque entre as soft skills na Geriatria:

3.1 Respeite as contribuições de cada profissional

Reconheça o conhecimento e as habilidades específicas de enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e psicólogos. Quando cada membro se sente valorizado, a colaboração flui melhor e o cuidado ao idoso se torna mais completo.

3.2 Compartilhe decisões e responsabilidades

Envolva todos na definição do plano terapêutico: discuta metas, escolhas de tratamento e possíveis riscos. Essa corresponsabilização estimula o comprometimento de cada um e melhora a adesão do paciente.

3.3 Mantenha uma comunicação clara e objetiva com a equipe

Use relatórios concisos, reuniões breves e linguagem direta para atualizar o grupo sobre mudanças no quadro clínico. A objetividade reduz ruídos, evita retrabalho e garante segurança no atendimento.

3.4 Valorize o papel da família no cuidado ao idoso

Inclua parentes nas conversas sobre diagnóstico e rotina, acolhendo dúvidas e alinhando expectativas. A participação familiar fortalece o suporte emocional e otimiza a continuidade do tratamento.

O trabalho em equipe assegura uma abordagem mais completa e eficaz, promovendo o bem-estar físico, emocional e social do paciente.

4. Inteligência emocional

Lidar com idosos é lidar com histórias de perdas, limitações, doenças crônicas e, muitas vezes, com a terminalidade da vida. O médico precisa estar emocionalmente preparado para enfrentar essas situações com equilíbrio e compaixão.

Nesse sentido, é recomendável seguir os aspectos abaixo.

4.1 Desenvolver autocontrole diante de quadros difíceis

Manter a calma em situações críticas começa por reconhecer suas reações instintivas (irritação, ansiedade, medo) e adotar técnicas de regulação, como respiração profunda e micropausas.

Treine a resposta em vez da reação. Esse autocontrole preserva a clareza de julgamento e transmite segurança ao idoso e à equipe.

4.2 Praticar a empatia sem absorver o sofrimento

Colocar-se no lugar do outro exige escuta ativa e compreensão das emoções alheias, mas sem sobrecarregar-se com elas.

Use a técnica do “copo transbordante”: sinta compaixão, reconheça a dor do paciente e deixe-a fluir de maneira controlada. Assim, você oferece acolhimento genuíno sem internalizar o sofrimento.

4.3 Reconhecer seus próprios limites emocionais

Identifique sinais de cansaço mental, irritabilidade ou desmotivação como indicadores de que suas reservas estão baixas.

Esse reconhecimento auxilia na prevenção do esgotamento e orienta a busca de estratégias de alívio — um dia de folga, atividades prazerosas ou conversas reflexivas. Saber parar é tão importante quanto saber atuar.

4.4 Buscar apoio quando necessário

Utilize redes de suporte profissional e pessoal: grupos de estudo, supervisões clínicas, sessões de mentoria ou terapias.

Compartilhar desafios em fóruns de colegas ou em encontros de equipe não é sinal de fraqueza, mas de responsabilidade. O apoio externo renova perspectivas, oferece soluções práticas e ameniza o peso emocional.

4.5 Investir em práticas regulares de autocuidado

Dedique tempo a atividades que recarreguem sua energia física e mental: exercícios, hobbies, meditação ou momentos de lazer com amigos e família.

O autocuidado diário reforça sua resiliência, aumenta o bem-estar geral e permite que você mantenha compassividade e eficácia no cuidado ao idoso.

5. Adaptabilidade

Não existe um “modelo único” de paciente idoso. Cada indivíduo tem sua própria trajetória, condições clínicas, valores e expectativas. Por isso, a capacidade de adaptação é uma das soft skills para Geriatria indispensáveis.

Proceda da seguinte forma:

  • ajuste a abordagem conforme o perfil do paciente: identifique as capacidades cognitivas, mobilidade e preferências individuais; adapte o ritmo da consulta, a profundidade das explicações e o tipo de exame; personalize o plano terapêutico para respeitar limitações e potencialidades;
  • reavalie condutas clínicas diante de novas informações: monitore sinais vitais, resultados de exames e relatos do idoso; atualize diagnósticos e terapias ao surgir mudança no quadro clínico; mantenha flexibilidade para interromper ou redirecionar procedimentos quando necessário;
  • seja flexível na comunicação e nas decisões terapêuticas: alterne entre diferentes formatos de explicação (oral, escrita, visual); envolva o paciente e a família nas escolhas, ajustando metas conforme evolução; esteja aberto a feedbacks e pronto para negociar alternativas;
  • considere aspectos culturais, sociais e familiares: investigue crenças, hábitos alimentares e rotinas religio­sas que influenciem a saúde; respeite valores e tradição familiar ao propor mudanças de estilo de vida; envolva cuidadores e parentes no suporte cotidiano e no acompanhamento do tratamento.

A adaptabilidade garante que o cuidado seja realmente centrado na pessoa, respeitando sua singularidade e promovendo um envelhecimento mais saudável e digno.

Agora você conhece as soft skills mais importantes na Geriatria!

Desenvolver essas competências é um processo contínuo, que exige reflexão, prática e abertura para o aprendizado. Médicos que cultivam soft skills oferecem um atendimento mais eficaz e também constroem relações mais humanas e significativas com os pacientes.

Investir no desenvolvimento dessas habilidades fortalece a confiança mútua entre médico e paciente. A prática constante e o autoquestionamento permitem que o profissional se torne mais consciente de suas atitudes e escolhas.

Ao aprimorar a escuta ativa e a empatia, o cuidado clínico ganha em qualidade e assertividade. A habilidade de se comunicar de forma clara e acolhedora reduz a ansiedade e contribui para a adesão ao tratamento.

Profissionais abertos ao aprendizado contínuo estão mais preparados para experienciar dificuldades e imprevistos. Esse compromisso com o aprimoramento pessoal espelha-se na satisfação e no bem-estar dos pacientes.

Em última análise, as soft skills para Geriatria são alicerces para uma Medicina verdadeiramente centrada no ser humano e em seus pacientes.Quer aprofundar seus conhecimentos sobre carreira médica, especialidades e competências profissionais? Acesse o blog da Medway e descubra conteúdos exclusivos para transformar sua prática médica.

Alexandre Remor

Alexandre Remor

Foi residente de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) de 2016 a 2018. É um dos cofundadores da Medway e hoje ocupa o cargo de Chief Executive Officer (CEO). Siga no Instagram: @alexandre.remor