Perigosa especialmente para crianças, a coqueluche volta a preocupar médicos e órgãos de saúde. Isso porque os casos da doença, ainda que não tão expressivos quanto no século passado, têm aumentado de forma significativa.
Por isso, a patologia, que até alguns anos atrás parecia estar restrita aos livros, tem recebido mais atenção. Logo, o tema tem sido muito cobrado nas provas de residência hospitalar. Pensando nisso, resolvemos trazer os aspectos mais importantes para identificar a doença. Continue a leitura!
Você provavelmente já sabe o que é coqueluche e conhece suas principais características. Porém, vale a pena relembrar para não deixar nenhum detalhe escapar. Por isso, vamos começar abordando conceitos gerais.
A doença é uma infecção respiratória causada pela Bordetella pertussis, bactéria gram-negativa que atinge a traqueia e os brônquios. Ela é endêmica no mundo todo, com incidência entre três e cinco anos.
Altamente contagiosa, a coqueluche é propagada por meio de gotículas de secreção eliminadas pela tosse, espirro ou fala da pessoa contaminada. A transmissão também pode ocorrer por objetos recentemente contaminados, contudo, essa possibilidade é pouco frequente.
Tradicionalmente, a doença acomete recém-nascidos e lactentes. Ainda hoje, ela é uma das principais causas de morte por doenças imunopreveníveis em menores de cinco anos. No entanto, pesquisas mostram que nos últimos anos o número de casos em adolescentes e adultos jovens aumentou.
Segundo dados apurados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), entre 2011 e 2014, houve um aumento de 283% do número de casos. Crianças menores de um ano ainda são a maior parte dos contaminados, 61%, devido à fragilidade de sistema imunológico.
O período de incubação da bactéria dura de 5 a 10 dias, mas pode variar de 4 a 21 dias e, raramente, até 42 dias. É durante esse intervalo, os sintomas da coqueluche irão aparecer. Porém, os indícios da doença variam de acordo com a fase clínica em que o paciente se encontra. A doença apresenta três fases, sendo elas:
Nesta primeira fase, os sintomas são leves e se parecem com os de um resfriado comum. Na fase catarral, o paciente apresenta febre baixa, astenia, rinorreia, mal-estar geral e tosse seca.
Como esses são traços comuns em qualquer infecção de vias aéreas superiores, o diagnóstico se torna mais complexo. Esse estágio dura de uma a duas semanas e tem alta taxa de transmissibilidade.
Dentre as fases da coqueluche, a paroxística é a mais emblemática. Isso porque, nela, surge o sintoma mais marcante da doença: a tosse “comprida” ou espasmódica. É uma forma severa da tosse que surgiu no início da infecção.
Pacientes nessa fase costumam ter diversas crises de tosse durante o dia, causando cansaço extremo e até mesmo vômitos por conta do esforço. Esses acessos ainda podem causar lacrimejamento, dispneia, hipoxemia, pletora facial e até cianose central.
Em lactentes, a situação pode ser mais séria, causando episódios de apneia, um sintoma muito grave e que demanda hospitalização imediata. Essa fase dura cerca de duas a seis semanas.
A última fase clínica da coqueluche é a convalescença. Nela, há uma diminuição gradual da intensidade da tosse e de outros sintomas. Geralmente, essa fase persiste durante duas a seis semanas, contudo, em alguns casos, pode demorar cerca de três meses para o desaparecimento completo dos sintomas.
A maior parte dos pacientes consegue se recuperar da coqueluche sem enfrentar muitos problemas. Contudo, especialmente crianças com menos de seis meses podem ser acometidas por uma série de complicações. Elas podem ser:
Apesar de ter um quadro clínico com características marcantes, fazer o diagnóstico de coqueluche não é uma tarefa fácil. Por exemplo, é comum que a doença seja confundida com laringites ou traqueítes, especialmente na fase catarral.
Por isso, não basta avaliar a apresentação clínica do paciente. Para obter a confirmação do diagnóstico, é necessário realizar o PCR ou cultura de secreção nasofaríngea. Hemogramas e raios-X de tórax não são determinantes, mas podem ser utilizados como exames complementares para confirmar ou descartar suspeitas.
O tratamento para coqueluche é feito com antibióticos. A primeira opção é utilizar antibióticos da classe dos macrolídeos (azitromicina, claritromicina e eritromicina). A dose geralmente é de 10 mg/kg por cinco dias.
Caso o paciente possua alguma intolerância, alergia ou qualquer contraindicação a esse tipo de medicamento, a recomendação é optar pelo sulfametoxazol + trimetoprim.
Vale lembrar que é essencial fazer uma avaliação cuidadosa de cada quadro clínico. Alguns pacientes necessitam de hospitalização para acompanhamento pelo risco de apresentarem quadros mais graves. Este é o caso, por exemplo, de recém-nascidos e lactentes prematuros, com patologias cardíacas ou pulmonares.
A vacinação é a melhor forma de prevenção. O imunizante faz parte do Calendário Nacional de Vacinação do Ministério da Saúde. Portanto, é oferecido gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Crianças precisam ser vacinadas com três doses da Pentavalente (Difteria, Tétano, Pertussis, Haemophilus B e Influenza), aos dois, quatro e seis meses de idade. Além disso, 2 doses de reforço precisam ser administradas aos 15 meses e 4 anos de idade, respectivamente.
A patologia pode gerar graves consequências para o paciente e a vacinação é o caminho mais efetivo para diminuir os casos. Aqui, no nosso blog, você encontra um apanhado geral sobre o calendário na pediatria para te manter bem informado sobre o assunto.
Como citamos um pouco acima, diagnosticar a coqueluche nem sempre é fácil. No Extensivo para Residência Médica da Medway você tem a oportunidade de se aprofundar neste e em outros temas. Aproveite a visita e venha conhecer nossos cursos!
Rondoniense, médica pela Universidade Federal de Rondônia (2019). Residência em Pediatria do segundo ano no Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto, apaixonada pela pediatria e suas nuances. “A palavra convence, o exemplo arrasta.