Quais são as especialidades com maior e menor número de residentes?

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Em um momento de desafios e oportunidades para a Medicina brasileira, entender como a residência médica está distribuída pelas especialidades é fundamental para traçar o futuro dos cuidados de saúde no país. É importante identificar as especialidades com maior e menor número de residentes!

A partir dos dados mais recentes da Demografia Médica, vamos mergulhar em um diagnóstico detalhado: quais especialidades atraem a maior parte dos recém-formados e quais enfrentam baixa procura? Vamos descobrir os motivos — desde questões de mercado e remuneração até o perfil dos estudantes — que moldam esse cenário.

Nesta jornada, você encontrará análises sobre as especialidades com maior e menor número de residentes, compreenderá a dinâmica entre áreas amplas e subespecialidades e terá uma visão clara das forças que direcionam o fluxo de talentos para dentro dos programas de residência.

Prepare-se para explorar uma realidade que reflete tanto o potencial quanto as lacunas do nosso sistema de formação médica.

Como está organizada a residência médica no Brasil?

A residência médica (RM) é o principal caminho de formação de especialistas no Brasil. Estruturada como um programa de pós-graduação lato sensu, ela oferece treinamento intensivo, presencial e supervisionado em ambiente de serviço, combinando prática clínica, atividades de ensino e pesquisa. Em termos gerais, a RM divide-se em:

  • especialidades básicas, que apresentam uma formação ampla e servem de base para subespecialidades;
  • áreas de atuação ou subespecialidades, que aprofundam conhecimentos em nichos mais específicos da Medicina.

Os programas de residência são avaliados e autorizados pelo Ministério da Educação (MEC) e pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), garantindo padrões mínimos de qualidade em infraestrutura, corpo docente e carga horária.

Para dimensionar o panorama atual, o censo 2024 da Demografia Médica aponta um total de aproximadamente 50 mil residentes ativos em todo o país.

Essa marca representa tanto o crescimento dos programas de ensino em diferentes estados quanto a demanda crescente por especialistas em diversas áreas da saúde.

As especialidades com maior número de residentes

Vamos falar quais são as especialidades com maior e menor número de residentes. Comecemos pelas áreas que se destacam pela alta demanda. Seis especialidades concentram mais da metade dos programas de residência no Brasil. São elas:

  • Clínica Médica;
  • Pediatria;
  • Cirurgia Geral;
  • Ginecologia e Obstetrícia;
  • Anestesiologia;
  • Medicina de Família e Comunidade.

Essa concentração não é acaso. A Clínica Médica, por exemplo, forma a espinha dorsal do atendimento hospitalar e ambulatorial, atendendo a demandas de urgência e cuidando de pacientes com múltiplas comorbidades.

Já a Pediatria acompanha o ciclo de vida desde o nascimento, o que naturalmente gera grande procura por vagas.

A Cirurgia Geral prepara o residente para efetuar procedimentos emergenciais e eletivos que ocorrem em centros cirúrgicos de praticamente qualquer hospital de ensino.

Ginecologia e Obstetrícia, por sua vez, tem forte apelo social devido à importância das maternidades e às políticas públicas de atenção à saúde da mulher.

Anestesiologia compõe um grupo crítico para a realização de procedimentos cirúrgicos, promovendo segurança ao paciente.

E, finalmente, Medicina de Família e Comunidade ganha força com a consolidação do SUS e a estratégia de saúde da família, direcionando recursos para atenção primária. Esses números evidenciam tendências:

  • necessidades essenciais do sistema de saúde;
  • políticas de incentivo a determinadas áreas (como a atenção primária);
  • tradição acadêmica de programas consolidados em universidades federais e estaduais.

As especialidades com menor número de residentes

No outro extremo do espectro, há especialidades que aparecem com menos de 25 residentes em todo o território nacional. Entre elas, destacam-se:

  • Angiologia;
  • Medicina do Tráfego;
  • Homeopatia;
  • Patologia Clínica;
  • Acupuntura.

Essas especialidades convivem com desafios de recrutamento. Alguns fatores comuns entre todas essas opções são:

  • mercado de trabalho reduzido, que limita oportunidades de atuação após a conclusão;
  • falta de reconhecimento institucional em alguns hospitais de ensino;
  • ausência de programas bem estruturados em diversas regiões do país;
  • perfil de estudantes que buscam especialidades com maior visibilidade e retorno financeiro.

Por exemplo, a Angiologia, apesar de relevante para o manejo de doenças vasculares, ainda é ofuscada pela Cirurgia Vascular, que costuma abrigar parte desses procedimentos em seus programas.

Homeopatia e Acupuntura, ligadas a abordagens integrativas, enfrentam barreiras de inserção no currículo tradicional e em serviços públicos.

A Medicina do Tráfego, que visa perícias e prevenção de acidentes, depende de políticas que valorizem essa subárea.

Quais áreas de atuação têm mais residentes?

As áreas de atuação correspondem às subespecialidades, programas que exigem formação prévia em uma especialidade-base.

Elas aprofundam o conhecimento em campos específicos e desenvolvem habilidades técnicas avançadas. As quatro áreas de atuação mais procuradas pelo residente brasileiro são:

  • Neonatologia;
  • Medicina Intensiva Pediátrica;
  • Neurologia Pediátrica;
  • Ecocardiografia.

A Neonatologia lidera a preferência por tratar da realidade dos recém-nascidos em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal, ambiente de alta sofisticação que demanda conhecimentos específicos de Fisiologia Neonatal, ventilação mecânica e suporte avançado.

A Medicina Intensiva Pediátrica, por sua vez, atende crianças em estado crítico, com doenças que dependem de protocolos de urgência e manejo intensivo, atraindo quem busca um perfil de atuação desafiador.

Na Neurologia Pediátrica, o foco recai sobre o desenvolvimento neurológico infantil e o diagnóstico de doenças congênitas e degenerativas, área em expansão diante do crescente reconhecimento de transtornos do espectro autista e outras condições neurológicas.

Já a Ecocardiografia se destaca pelo uso de tecnologia avançada de imagem para avaliar a função cardíaca, aplicável em Cardiologia Geral, Cardiologia Pediátrica e Cirurgia Cardíaca, conferindo ao profissional uma expertise valiosa no mercado.

E as menos procuradas?

Entre as áreas de atuação que registram apenas de 1 a 3 residentes no país, encontram-se:

  • Cirurgia Videolaparoscópica;
  • Foniatria;
  • Nutrição Parenteral e Enteral;
  • Sexologia.

Essas subespecialidades, embora com relevância clínica, envolvem-se com desafios particulares de mercado e infraestrutura.

A Cirurgia Videolaparoscópica exige alto investimento em equipamentos e centros cirúrgicos especializados, o que limita o número de vagas e o acesso em regiões menos desenvolvidas.

Foniatria, que trata de distúrbios de voz e deglutição, é muitas vezes vista como nicho associado à Fonoaudiologia, gerando confusão sobre sua atuação autônoma e diluindo a demanda por programas de residência dedicados.

Nutrição Parenteral e Enteral, indispensável para pacientes críticos que não se alimentam pela via oral, carece de reconhecimento como área independente em muitos hospitais, ficando à sombra da Nutrição Clínica ou da Medicina Intensiva.

Sexologia, que aborda saúde sexual e reprodutiva, enfrenta barreiras culturais e ausência de hospitais de ensino que ofereçam treinamento formal, malgrado sua importância para a abordagem integral do paciente.

O que explica essas diferenças entre áreas?

As variações na procura por especialidades e áreas de atuação podem ser atribuídas a diversos fatores. Esses fatores interagem de maneira complexa.

Por exemplo, a Medicina de Família e Comunidade cresceu graças a projetos de expansão da atenção primária. Mas, vale ressaltar, enfrenta resistência de parte dos hospitais universitários, que tradicionalmente priorizam outras especialidades.

Perfil do estudante

A escolha da especialidade muitas vezes depende da afinidade com determinados desafios, estilo de vida desejado e projeção de carreira.

Alguns optam por áreas mais difíceis e ritmo intenso, enquanto outros priorizam equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Remuneração e oportunidades de mercado

Especialidades mais valorizadas financeiramente e com maior demanda de trabalho tendem a ser atraentes para mais candidatos. A perspectiva de estabilidade e retorno rápido do investimento em formação é um fator decisivo.

Exigências de formação

O tempo de duração, a carga horária e o nível do exame de residência influenciam diretamente a decisão. Programas mais longos ou com pré-requisitos específicos podem afastar parte dos interessados.

Infraestrutura de formação

A disponibilidade de vagas, a qualidade dos equipamentos e a presença de um corpo docente qualificado são determinantes para a atratividade de uma especialidade. Hospitais com tradição e recursos robustos costumam concentrar mais residentes.

Políticas públicas

Incentivos governamentais, como programas de expansão da atenção primária ou áreas prioritárias para o SUS, podem direcionar o interesse dos médicos recém-formados para determinadas especialidades.

Tradição acadêmica

Programas consolidados em universidades federais e estaduais, com histórico de excelência e reconhecimento, interessam a um número maior de candidatos e mantêm um fluxo constante de residentes.

Visibilidade social

Especialidades que ganham destaque na mídia, em campanhas de saúde pública ou em pautas sociais suscitam maior interesse, influenciando a escolha dos futuros especialistas.

Agora você conhece as áreas com mais e menos residentes na Residência Médica!

Ao compreender onde os residentes se concentram e quais especialidades sofrem com baixa procura, temos em mãos um termômetro preciso das prioridades e lacunas do sistema de saúde brasileiro.

Sabemos que a formação médica não depende apenas do interesse individual, mas de um ecossistema que envolve políticas públicas, investimento em infraestrutura, mercado de trabalho e alinhamento com as necessidades da população.

Essa análise revela que a escolha da especialidade médica é resultado de múltiplas variáveis, que vão muito além da vocação pessoal. Aspectos como a disponibilidade de vagas, a valorização profissional e a demanda social influenciam diretamente o fluxo de residentes.

Ao mesmo tempo, áreas menos procuradas podem representar oportunidades estratégicas para quem busca nichos específicos de atuação. O equilíbrio entre oferta e demanda é necessário para assegurar cobertura assistencial adequada em todo o território nacional. Investir na formação de especialistas alinhados às necessidades reais da população é um desafio contínuo. Compreender quais são as especialidades com maior e menor número de residentes ajuda a planejar o futuro da residência médica.Quer se aprofundar ainda mais nesse universo? Explore nossos outros conteúdos no blog da Medway e fique por dentro de análises, guias de carreira e notícias sobre o mundo da saúde!

Djon Machado

Djon Machado

Professor da Medway. Formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com Residência em Clínica Médica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Siga no Instagram: @djondamedway