Quais são as áreas de atuação com maior e menor número de residentes

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O relatório de novembro de 2024 da Associação Médica Brasileira (AMB) traz uma visão detalhada do número de residentes em diferentes especialidades, expondo um cenário de desigualdades e desafios para o futuro da Medicina no país.

De acordo com o estudo, 47,7 mil médicos estavam matriculados na Residência Médica em 2024, representando 8% do total do país. Contudo, há uma defasagem crescente entre a oferta de vagas na residência e o número de médicos recém-formados.

Além disso, 14 especialidades tiveram redução de vagas nos últimos anos, enquanto cerca de 20% das vagas de RM permanecem ociosas.

Neste artigo, analisamos quais são as especialidades com maior e com menor número de residentes, destacamos as implicações dessa distribuição.

Áreas com maior número de residentes

Determinadas especialidades continuam sendo amplamente escolhidas pelos médicos residentes. Isso ocorre tanto pela alta demanda de profissionais no mercado quanto pelo prestígio e oportunidades que essas áreas oferecem.

Segundo o relatório da AMB, seis programas de RM concentram 54,8% de todos os residentes no Brasil:

  • Clínica Médica: 6.488 residentes (13,6%);
  • Pediatria: 5.014 residentes (10,5%);
  • Cirurgia Geral: 4.299 residentes (9,0%);
  • Ginecologia e Obstetrícia: 4.106 residentes (8,6%);
  • Anestesiologia: 3.158 residentes (6,6%);
  • Medicina de Família e Comunidade: 3.079 residentes (6,5%).

Clínica Médica

A especialidade Clínica Médica, ou Medicina Interna, é uma das que apresentam maior número de residentes. Essa alta demanda ocorre porque ela serve como base para diversas subespecialidades, como Cardiologia, Endocrinologia, Reumatologia e Nefrologia.

Além de que a formação abrangente e a alta procura por internistas fazem dessa uma escolha estratégica para muitos estudantes.

Pediatria

O atendimento infantil é uma necessidade constante, e a Pediatria segue como uma das especialidades mais procuradas. A demanda hospitalar, a variedade de áreas de atuação e a possibilidade de trabalho tanto no setor público quanto no privado são fatores que impulsionam a escolha por essa especialidade.

Ginecologia e Obstetrícia

A saúde da mulher é um campo especial da saúde, garantindo à Ginecologia e Obstetrícia um grande número de residentes.

A alta procura se deve à estabilidade do mercado e à importância da especialidade dentro do SUS e do setor privado.

Cirurgia Geral

A Cirurgia Geral é uma das portas de entrada para diversas subespecialidades cirúrgicas, como Cirurgia Plástica, Cirurgia Vascular e Cirurgia do Aparelho Digestivo.

O grande número de residentes nessa área reflete a alta competitividade para especializações futuras.

Medicina de Família e Comunidade

A Medicina de Família e Comunidade foca no cuidado integral e contínuo dos pacientes, abrangendo prevenção, diagnóstico e tratamento de diversas condições.

É relevante no SUS, especialmente na Atenção Primária. O aumento de residentes ocorre devido a incentivos governamentais, demanda crescente e programas estratégicos para fortalecer o atendimento básico no Brasil.

Anestesiologia

A Anestesiologia é a especialidade responsável pela sedação e analgesia de pacientes durante procedimentos cirúrgicos e exames invasivos.

Além da anestesia geral e local, os anestesiologistas atuam no controle da dor aguda e crônica, na Medicina Intensiva e na reanimação, sendo valiosas para a segurança cirúrgica e hospitalar.

Áreas com menor número de residentes

Enquanto algumas especialidades estão saturadas, outras enfrentam grande dificuldade para atrair médicos. Entre as especialidades com menor número de residentes no Brasil, destacam-se:

  • Angiologia: 3 residentes (0,006%);
  • Medicina do Tráfego: 4 residentes (0,008%);
  • Homeopatia: 9 residentes (0,018%);
  • Patologia Clínica/Medicina Laboratorial: 13 residentes (0,027%);
  • Acupuntura: 19 residentes (0,040%).

Essas especialidades sofrem com baixa adesão devido a diferentes fatores, como remuneração pouco atrativa, falta de reconhecimento da importância da área e ausência de contato direto com pacientes, como ocorre na Patologia Clínica.

Outra questão que precisamos destacar é a ociosidade das vagas de residência médica. Em 2024, cerca de 20% das vagas oferecidas não foram preenchidas. Esse índice caiu em relação a anos anteriores, mas continua preocupante.

Angiologia

A Angiologia estuda e trata enfermidades dos vasos sanguíneos e linfáticos, incluindo varizes, tromboses e aneurismas.

Trabalha em conjunto com a Cirurgia Vascular para prevenir e tratar complicações circulatórias, sendo necessária para o manejo de doenças como insuficiência venosa crônica e arteriosclerose, que afetam diretamente a qualidade de vida dos pacientes.

Medicina do Tráfego

Dedica-se ao estudo da relação entre saúde e segurança no trânsito. Os especialistas avaliam motoristas, prevenindo acidentes e identificando condições que possam comprometer a direção.

Eles trabalham na reabilitação de vítimas de acidentes, promovendo políticas públicas para um trânsito mais seguro e acessível.

Homeopatia

A Homeopatia utiliza substâncias altamente diluídas para estimular a capacidade natural de cura do organismo. Baseia-se no princípio da semelhança, tratando sintomas com substâncias que, em doses maiores, poderiam causá-los.

Embora seja controversa, tem adeptos que buscam alternativas complementares, principalmente no controle de transtornos crônicos.

Patologia Clínica/Medicina Laboratorial

A Patologia Clínica é responsável pela realização e interpretação de exames laboratoriais, cuja utilidade para a avaliação médica é indiscutível.

Patologistas clínicos analisam sangue, urina e tecidos, auxiliando na identificação de infecções, distúrbios hormonais e cânceres.

Apesar da importância, a especialidade sofre com baixa adesão devido ao trabalho predominantemente laboratorial.

Acupuntura

A Acupuntura é uma prática baseada na inserção de agulhas em determinados pontos do corpo para aliviar dores, tratar doenças e melhorar o equilíbrio energético.

Reconhecida pela medicina ocidental, é aplicada no controle da dor crônica, reabilitação muscular e até em transtornos emocionais, como ansiedade e depressão.

Destrinchando por especialidades

Há dois grupos básicos de especialidades: as clínicas e as cirúrgicas. Vamos destrinchar o número de residentes por cada uma dessas categorias:

Especialidades clínicas

As especialidades clínicas oferecem um campo de atuação diversificado e muito procurado. Entre as mais procuradas estão:

  • Clínica Médica: 6.488 residentes;
  • Pediatria: 5.014 residentes;
  • Ginecologia e Obstetrícia: 4.106 residentes.

Por outro lado, algumas áreas clínicas têm baixa adesão, como Genética Médica, com apenas 72 residentes, e Medicina Preventiva e Social, com 24 residentes.

Especialidades cirúrgicas

Entre as especialidades cirúrgicas mais populares estão Cirurgia Geral e Ortopedia e Traumatologia.

  • Cirurgia Geral: 4.299 residentes;
  • Ortopedia e Traumatologia: 2.539 residentes.

A especialidade de Ortopedia atrai muitos residentes devido à busca por atendimento a traumas e problemas musculoesqueléticos. A área cirúrgica da ortopedia oferece, desse modo, boas oportunidades de remuneração e reconhecimento profissional. Porém, algumas especialidades cirúrgicas têm enfrentado queda na adesão, como:

  • Cirurgia Cardiovascular: 313 residentes;
  • Cirurgia Torácica: 73 residentes.

A redução no número de vagas em especialidades cirúrgicas pode estar ligada à extinção do Programa de Pré-Requisito em Área Cirúrgica Básica em 2021, que limitou o acesso a algumas áreas.

Cirurgia Cardiovascular

A Cirurgia Cardiovascular trata distúrbios do coração e grandes vasos, como infartos, insuficiência cardíaca e aneurismas.

Cirurgiões dessa área realizam cirurgias difíceis, como revascularização do miocárdio e transplantes cardíacos.

Cirurgia Torácica

A Cirurgia Torácica considera moléstias pulmonares, pleurais, traqueais e do mediastino, (câncer de pulmão, pneumotórax e deformidades torácicas, entre outros problemas).

Os especialistas realizam procedimentos minimamente invasivos e cirurgias de alta complexidade.

Especialidades de apoio e diagnóstico

Além das especialidades clínicas e cirúrgicas, podemos destacar as áreas importantes para suporte ao tratamento médico, como Radiologia e Patologia, as quais enfrentam dificuldades na atração de novos profissionais:

  • Radiologia e Diagnóstico por Imagem: 1.556 residentes;
  • Patologia: 306 residentes;
  • Radioterapia: 100 residentes.

Radioterapia

A Radioterapia é uma especialidade valiosa no tratamento do câncer. Ela usa radiação para destruir células tumorais ou impedir seu crescimento.

Além da Oncologia, é aplicada em patologias inflamatórias graves. A complexidade tecnológica e a necessidade de infraestrutura especializada tornam a área desafiadora, mas de extrema relevância.

Outras especialidades com menor representatividade

Além das citadas anteriormente, algumas especialidades apresentam um número de residentes bastante reduzido:

  • Medicina Nuclear: 48 residentes;
  • Psiquiatria Forense: 9 residentes;
  • Nutrição Parenteral e Enteral: 1 residente;
  • Sexologia: 1 residente.

Essas áreas são de especialização profunda e, em muitos casos, exigem formação adicional após a residência básica, o que pode desestimular a adesão.

Medicina Nuclear

A Medicina Nuclear utiliza substâncias radioativas para diagnosticar e tratar moléstias. Exames como PET-CT e cintilografia auxiliam na detecção precoce de tumores malignos, doenças cardíacas e neurológicas. Costuma ser usada em distúrbios da tireoide e metástases ósseas.

Psiquiatria Forense

A Psiquiatria Forense avalia transtornos mentais em contextos jurídicos, determinando a imputabilidade penal, interdições e guarda de menores. Atua em processos criminais e cíveis, analisando a capacidade mental de indivíduos.

Profissionais da área colaboram com juízes e advogados, oferecendo laudos periciais que influenciam decisões judiciais relevantes.

Nutrição Parenteral e Enteral

A Nutrição Parenteral e Enteral lida com a administração de nutrientes por vias alternativas quando a alimentação oral é impossível ou insuficiente.

Fundamental para pacientes críticos, oncológicos e pediátricos, requer um planejamento rigoroso para evitar complicações metabólicas e proporcionar suporte nutricional adequado.

Sexologia

A Sexologia estuda a sexualidade humana sob perspectivas biológica, psicológica e social. Atua na prevenção e no controle de disfunções sexuais, transtornos de identidade de gênero e dificuldades relacionais.

Implicações e perspectivas futuras

A distribuição desigual dos residentes médicos no Brasil pode gerar sérias consequências para o sistema de saúde. Entre os principais desafios identificados no relatório da AMB estão:

  • déficit de especialistas em algumas áreas estratégicas: determinadas especialidades ainda enfrentam resistência por parte dos profissionais recém-formados;
  • concentração geográfica: a maioria dos residentes está no Sudeste, enquanto regiões como o Norte e o Nordeste apresentam menor oferta de especialistas;
  • desvalorização de certas especialidades: áreas essenciais, como Patologia e Medicina Nuclear, submetem-se à falta de reconhecimento, afetando a qualidade do diagnóstico médico no país;

Para equilibrar essa distribuição e estimular a formação de especialistas, algumas medidas podem ser implementadas:

  • incentivos financeiros e bolsas para áreas menos procuradas:
  • criação de políticas públicas para incentivar a adesão a especialidades estratégicas;
  • melhoria da infraestrutura e condições de trabalho em regiões mais carentes.

A tendência para os próximos anos será a necessidade de maior planejamento na abertura de novas vagas e um esforço conjunto para tornar mais atrativas as especialidades e os locais que realmente precisam de mais profissionais.

O relatório da AMB nos mostra que a RM no Brasil ainda enfrenta alguns desafios. Para desenvolver um sistema de saúde mais equilibrado, será essencial repensar a distribuição das vagas e traçar estratégias que permitam o aumento do número de residentes em certas especialidades e regiões.

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Daniel Zaidan dos Santos

Daniel Zaidan dos Santos

Professor da Medway. Formado pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com Residência em Pediatria e Residência em Medicina Intensiva Pediátrica pela USP-SP. Siga no Instagram: @danzaidan