Estudos epidemiológicos: entenda o que é estudo transversal e ecológico

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Olá futuros residentes, tudo bem com vocês? Hoje nós vamos mergulhar em um tema pra lá de queridinho nas provas de residência médica, os estudos epidemiológicos.

Neste post, vamos focar em dois deles: os estudos transversais e os ecológicos. Você vai entender como eles funcionam, quais são suas principais características, vantagens, limitações, além de exemplos que vão deixá-los mais claros.

Vamos juntos nessa?

Sobre os estudos epidemiológicos

Pessoal, primeiro de tudo vamos entender que a epidemiologia tem como um de seus principais fundamentos o uso de diferentes delineamentos de estudo para compreender os fatores determinantes da saúde e doença em populações. 

Entre os métodos observacionais (ou seja, em que nenhuma medida de intervenção é administrada aos participantes), destacam-se os estudos transversais e ecológicos, temas da nossa conversa de hoje.

Estudos transversais 

Vamos começar com os estudos transversais (também chamados de estudos de prevalência). Os estudos transversais são caracterizados pela coleta simultânea de informações sobre exposição e desfecho em um determinado momento, sem a observação de uma evolução temporal. 

Aqui você precisa fazer uma associação com uma foto. É como se o pesquisador tirasse um retrato daquele momento e somente dele. Este delineamento permite estimar a prevalência de uma doença ou condição de saúde em uma população específica e explorar associações entre fatores de risco e desfechos.

Vantagens e limitações do estudo transversal

Os estudos transversais apresentam vantagens como:

  • rapidez na obtenção de dados; 
  • menor custo em relação a outros delineamentos; 
  • possibilidade de gerar hipóteses epidemiológicas. 

Entretanto, a incapacidade de estabelecer relação temporal entre exposição e desfecho representa uma limitação significativa. Isso ocorre porque ambos os eventos são medidos simultaneamente, dificultando a distinção entre causa e efeito.

Exemplos

Um exemplo clássico de estudo transversal é a investigação da associação entre sedentarismo e hipertensão arterial em uma população adulta. Os pesquisadores realizam entrevistas e aferição da pressão arterial em um grande grupo de indivíduos no mesmo período. 

Se houver uma associação entre baixa atividade física e hipertensão, é possível sugerir que o sedentarismo seja um fator de risco. Contudo, não é possível determinar se o sedentarismo precedeu a hipertensão ou se os indivíduos já hipertensos tornaram-se sedentários. Conseguem entender os benefícios e as dificuldades atreladas a esse estudo na prática?

Quando falamos daquela famosa classificação, nós entendemos que estamos diante de um estudo observacional, individuado e transversal, sem que haja qualquer seguimento dos indivíduos participantes ao longo do tempo, combinado?

Estudos ecológicos

Agora vamos falar dos estudos ecológicos. Esses estudos analisam a relação entre exposição e desfecho utilizando dados agregados de populações ou grupos, ao invés de dados individuais. 

Esse delineamento é amplamente empregado para investigação de doenças em larga escala, principalmente no contexto de políticas públicas e fatores ambientais. 

Para ficar de mais fácil entendimento, pensem que ao invés de analisarmos dados individuais de cada participante do estudo, nós observamos os dados brutos de toda a população. Como se ao invés de eu perguntar a cada participante a sua frequência de atividade física, por exemplo, eu analisasse dados gerais da população sobre essa prática. 

Vantagens e limitações do estudo ecológico

A principal vantagem dos estudos ecológicos é sua capacidade de analisar grandes populações com dados de fácil acesso, muitas vezes provenientes de bases governamentais e institucionais. Além disso, eles são úteis para avaliar tendências temporais e disparidades regionais em saúde. 

No entanto, apresentam limitações, como a possibilidade de viés ecológico, no qual inferências sobre indivíduos são feitas com base em dados populacionais, podendo levar a interpretações equivocadas.

Exemplos

Um exemplo de estudo ecológico é a investigação sobre a associação entre a poluição do ar e a taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares em diferentes cidades. 

Os pesquisadores utilizam dados agregados sobre a concentração de material particulado no ar e as taxas de óbitos por doenças cardiovasculares em diversas regiões. Se identificarem uma correlação positiva entre altos níveis de poluição e aumento na mortalidade, isso pode sugerir um impacto ambiental negativo na saúde da população.

No entanto, devido à natureza do estudo, não é possível afirmar que todos os indivíduos que faleceram foram diretamente expostos aos poluentes.

O viés ecológico nesse exemplo estaria presente caso eu assumisse que todas as pessoas que residem em locais com maior poluição apresentam maior taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares, quando esse nexo causal não pode ser estabelecido. Aqui nós temos um estudo observacional, agregado e transversal.

Estudos transversais e estudos ecológicos: principais diferenças 

Agora um bate bola rápido comparando os dois estudos: enquanto os estudos transversais avaliam associações entre exposição e desfecho em indivíduos dentro de um período específico (foto), os estudos ecológicos avaliam relações com base em dados agregados de grupos populacionais – ou seja, apesar de ambos serem observacionais, um deles é agregado e o outro individuado, percebem? 

Ambos são úteis para investigações iniciais e formulação de hipóteses, mas apresentam limitações metodológicas que devem ser consideradas na interpretação dos resultados.

Os estudos transversais podem ser mais adequados para pesquisas em que a avaliação individual é essencial, como pesquisas sobre comportamentos de risco e doenças crônicas. Já os estudos ecológicos são vantajosos para análises ambientais, epidemiologia social e avaliação de impactos de políticas de saúde pública.

Conclusão

Em suma, os estudos transversais e ecológicos desempenham papéis fundamentais na pesquisa epidemiológica e na formulação de estratégias de saúde pública. Embora tenham limitações quanto à inferência causal, sua aplicação adequada pode fornecer informações valiosas para a compreensão de determinantes da saúde. 

A escolha entre esses delineamentos deve levar em consideração os objetivos da pesquisa, a disponibilidade de dados e a necessidade de inferência em nível individual ou populacional. Assim, o uso criterioso dessas abordagens pode contribuir para a produção de evidências robustas e fundamentadas para a saúde pública. 

Os estudos epidemiológicos são um tema que sempre cai nas provas de residência médica, então vale a pena estar afiado, combinado? 

Para se manter atualizado sobre os principais conteúdos médicos, além de ter acesso à dicas de preparação para a residência médica, continue de olho aqui, no nosso blog!

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Elisandra Pontes

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