Fala, meu povo, tudo bem com vocês? Hoje a nossa conversa é sobre o manejo clínico da crise asmática. Essa é uma condição caracterizada por broncoespasmo que ocasiona um fluxo de ar reduzido nas vias aéreas e, consequentemente, dispneia.
Imagina um paciente chegar com uma crise de asma intensa, com muita falta de ar no PS que você estiver trabalhando. Sabe o que deve ser feito? E mais, o que não deve ser feito? O texto de hoje vai servir para amarrar esse conhecimento!
Respira fundo e vamos juntos!
Não há como nos jogarmos diretamente no manejo clínico sem antes compreendermos, pelo menos, o básico sobre crise de asma. Então, vamos nessa!
A asma é uma condição caracterizada por inflamação crônica das vias aéreas e hiperresponsividade brônquica. Além disso, exacerbações se apresentam como crises de dispneia, normalmente secundárias a uma exposição ambiental.
Durante um episódio de crise de asma, o broncoespasmo acarreta em aumento da resistência das vias aéreas e aprisionamento aéreo, com redução da capacidade vital pulmonar.
Imagem mostrando 3 exemplificações de vias aéreas: a da esquerda normal; a do centro de um paciente com asma (principalmente com inflamação brônquica); e a da direita de um paciente com crise de asma (com broncoespasmo – perceba a musculatura lisa contraída – e piora da inflamação e secreção)
O paciente com crise de asma costuma se apresentar principalmente com dispneia, além de tosse seca, sibilância (famoso chiado no peito) e, em alguns casos, dor torácica.
Já no exame físico, podemos encontrar:
Como já falamos, a asma é uma doença crônica que em alguns momentos pode se apresentar como exacerbações (crises de asma). Diversas situações podem ser as desencadeadoras, e as mais comuns estão listadas abaixo:
Agora, antes de partirmos para a classificação de gravidade, já deixo a dica do nosso e-book Crise de asma: da Clínica Médica à Pediatria, em que falamos mais sobre o essencial do manejo de uma crise asmática – tanto na população adulta quanto na população pediátrica, incluindo fatores desencadeantes, tratamentos e classificação da gravidade e um guia de consulta rápido para o PS. Clique AQUI e baixe agora.
É muito importante sabermos classificar a crise de asma pela gravidade, pois precisamos saber o tamanho da “bomba” que está diante de nós. Mas como classificar?
Se liga nessa tabela:
Sinal clínico | Leve/moderada | Grave | Muito grave |
Cianose | Ausente | Ausente | Presente |
Sudorese | Ausente | Ausente | Presente |
Estado mental | Sem alteração | Agitado | Confuso / sonolento |
Fala | Completa | Entrecortada | Curta / monossilábica |
Dispneia | Ausente ou leve | Moderada | Grave |
Uso de musculatura acessória | Leve retração intercostal | Uso de ECM e batimento de fúrcula | Retrações acentuadas e uso de musc abdominal |
Sibilos | Leves | Mais acentuados | Tórax silencioso |
Frequência respiratória | 20 a 30 | > 30 | > 30 ou < 10 |
Frequência cardíaca | < 120 | 120 – 140 | > 140 |
Pico de Fluxo Expiratório (PFE) | > 50% | 30 a 50% | < 30% |
SatO2 | > 95% | 90 a 95% | < 90% |
PaO2 | Normal | ~ 60 mmHg | < 60 mmHg |
PaCO2 | < 40 mmHg | < 40 mmHg | > 45 mmHg |
Calma, é claro que não precisa decorar tudo isso, mas é importante ter uma ideia geral e saber quais são os parâmetros utilizados para estratificar o paciente e que, inclusive, guiarão nossas condutas. Além de ter essa tabela com fácil acesso para sempre que for preciso (pode printar!)
Chegamos onde todo mundo estava esperando, finalmente! Sabemos que vocês estavam ansiosos para discutirmos sobre o manejo na crise de asma, mas não podíamos simplesmente cair de paraquedas aqui.
Agora, com um entendimento, pelo menos básico, sobre crise asmática, vamos destrinchar tudo sobre o manejo clínico da crise de asma.
E quais são os nossos objetivos?
Primeiro passo: definir/estratificar a gravidade do paciente!
Esses pacientes podem ser manejados ambulatorialmente, não precisam ficar na emergência ou internar (a não ser se tenha algum outro motivo que indique a internação).
O recomendado, nesses cenários de crise de asma leve/moderada, é associar um beta-2-agonista de curta duração (ou um anticolinérgico de curta duração) com corticoterapia sistêmica.
1) Beta-2-agonista de curta duração:
2) Anticolinérgico de curta duração:
Observação: beta-2-agonista de longa duração + corticoide inalatório (conforme recomendação mais atual do GINA 2021 – Global Initiative for Asthma):
3) Corticoterapia sistêmica:
Orientações na alta: é comum valorizarmos apenas o que tange sobre medicamentos, no entanto, também faz parte do manejo orientarmos corretamente o paciente para reduzir o risco de novas crises de asma.
Nesses casos, o que se recomenda é associar um Beta-2-agonista de curta duração + Anticolinérgico de curta duração + Corticoterapia sistêmica.
Considerações sobre a corticoterapia:
Outras opções (podem ser associadas caso não haja melhora com as medicações acima):
Oxigenoterapia: apesar do principal sintomas ser dispneia, o oxigênio não deve ser ofertado para todos pacientes. O nosso alvo de saturação será entre 93-95% e se o paciente já estiver em ar ambiente com estes parâmetros, não devemos ofertar oxigênio.
Intubação orotraqueal: cenário não muito comum, mas que se for necessário devemos estar preparados. E quais seriam as indicações de via aérea definitiva?
Take Home Messages
Muita coisa foi falada aqui neste texto, mas o que é mais importante? O que não podemos esquecer? Se liga nessa tabela com os highlights!
TAKE HOME MESSAGES |
Principais manifestações clínicas: dispneia / tosse / sibilância |
Principais causas de crise: má adesão terapêutica / infecções / exposição a alérgenos |
Classificação de gravidade (tenha fácil acesso à tabela e classifique seu paciente) |
Casos leves: beta-2-agonista curta duração OU anticolinérgico curta duração |
Casos graves: beta-2-agonista curta duração E anticolinérgico curta duração |
Associar corticoterapia (se possível por via oral) e manter por 5-7 dias |
Meta saturação: 93-95% |
Início ou otimização do tratamento pós alta |
Revisar adesão e técnica |
Reavaliação em 2-7 dias |
Esperamos ter esclarecido as dúvidas em torno do que é a crise asmática e qual é o manejo correto dessa condição. Aqui, no nosso blog, disponibilizamos uma série de conteúdos sobre Medicina de Emergência e residência médica para contribuir com sua preparação.
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Gaúcho, de Pelotas, nascido em 1997 e graduado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Residente de Clínica Médica na Escola Paulista de Medicina (UNIFESP). Filho de um médico e de uma professora, compartilha de ambas paixões: ser médico e ensinar.