O pré-diabetes representa uma fase crítica e silenciosa do espectro da disfunção glicêmica. Embora muitas vezes negligenciado na prática clínica, esse estado metabólico intermediário pode ser o primeiro sinal de alarme para uma progressão iminente ao diabetes tipo 2 e ao aumento de risco cardiovascular.
Dessa forma, entender seus critérios diagnósticos e opções terapêuticas é essencial. Continue a leitura para saber o que é essa condição, como diagnosticar, tratamento e mais!
O pré-diabetes é uma condição caracterizada por níveis de glicose no sangue acima do normal, mas ainda abaixo dos pontos de corte para o diagnóstico de diabetes mellitus tipo 2. Apesar de assintomática, essa condição está fortemente associada a:
Estudos demonstram que até 70% dos indivíduos com pré-diabetes eventualmente desenvolverão diabetes tipo 2, se nenhuma intervenção for realizada.
O diagnóstico pode ser estabelecido com qualquer um dos seguintes critérios laboratoriais, conforme a American Diabetes Association (ADA) e a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD):
O ideal é confirmar o diagnóstico com dois testes alterados, na mesma amostra (testes diferentes) ou em amostras diferentes, especialmente na ausência de hiperglicemia franca.
A escolha do teste deve considerar condições clínicas específicas, como hemoglobinopatias, que podem interferir na acurácia da A1C.
Segundo as diretrizes mais recentes, devem ser testados adultos com IMC ≥ 25 kg/m² (ou ≥23 kg/m² em asiáticos) com um ou mais fatores de risco, como:
Além disso, a ADA recomenda rastrear todos os adultos a partir dos 35 anos, independentemente de fatores de risco, e repetir a cada 3 anos se os resultados estiverem normais.
O objetivo principal do tratamento é prevenir ou retardar a progressão para o diabetes tipo 2 e reduzir o risco cardiovascular.
O pilar central do tratamento é a intervenção no estilo de vida, comprovadamente eficaz, como demonstrado no Diabetes Prevention Program (DPP) da ADA.
As recomendações incluem:
Pacientes com essa condição frequentemente apresentam outras comorbidades. Por isso, é fundamental:
Nem todos os pacientes precisam de medicação. Contudo, a metformina é a única droga com forte recomendação nas diretrizes da ADA e da SBD para uso em pacientes com pré-diabetes. Embora não seja indicada de forma rotineira, sua introdução pode ser apropriada em casos selecionados:
Importante: A metformina tem eficácia limitada em idosos, e o seu uso deve ser bem avaliado nesse grupo. Além de ser contraindicada em pacientes com disfunção renal significativa (TFG < 30 mL/min/1,73m²).
A dose inicial costuma ser 500 mg 1–2x ao dia, podendo ser titulada até 2g/dia conforme tolerância gastrointestinal e resposta clínica.
Vale ressaltar que o uso da metformina com objetivo preventivo deve sempre vir associado à modificação do estilo de vida, e não como substituto.
Além da metformina, outros medicamentos como agonistas do GLP-1 têm mostrado benefício na prevenção do diabetes, mas ainda não são amplamente indicados para o tratamento de pré-diabetes em diretrizes formais.
O pré-diabetes é mais do que um alerta — é uma janela de oportunidade. Ao reconhecer e tratar essa condição de forma precoce, é possível evitar complicações futuras e promover saúde em longo prazo.
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Professora da Medway. Formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com Residência em Clínica Médica (2019-2021) e Medicina Intensiva (2022-2025) pela Universidade de São Paulo (USP - SP). Siga no Instagram: @anakabittencourt