Pré-diabetes: o que é, diagnóstico, tratamento e mais!

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O pré-diabetes representa uma fase crítica e silenciosa do espectro da disfunção glicêmica. Embora muitas vezes negligenciado na prática clínica, esse estado metabólico intermediário pode ser o primeiro sinal de alarme para uma progressão iminente ao diabetes tipo 2 e ao aumento de risco cardiovascular. 

Dessa forma, entender seus critérios diagnósticos e opções terapêuticas é essencial. Continue a leitura para saber o que é essa condição, como diagnosticar, tratamento e mais! 

O que é pré-diabetes?

O pré-diabetes é uma condição caracterizada por níveis de glicose no sangue acima do normal, mas ainda abaixo dos pontos de corte para o diagnóstico de diabetes mellitus tipo 2. Apesar de assintomática, essa condição está fortemente associada a:

  • Aumento do risco de progressão para DM2;
  • Maior probabilidade de eventos cardiovasculares;
  • Presença frequente de obesidade, dislipidemia e hipertensão arterial.

Estudos demonstram que até 70% dos indivíduos com pré-diabetes eventualmente desenvolverão diabetes tipo 2, se nenhuma intervenção for realizada.

Como diagnosticar o pré-diabetes?

O diagnóstico pode ser estabelecido com qualquer um dos seguintes critérios laboratoriais, conforme a American Diabetes Association (ADA) e a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD):

  • Glicemia de jejum: entre 100–125 mg/dL (impaired fasting glucose – IFG);
  • Glicemia 2h após TOTG (75g): entre 140–199 mg/dL (impaired glucose tolerance – IGT);
  • Hemoglobina glicada (A1C): entre 5,7% e 6,4%.

O ideal é confirmar o diagnóstico com dois testes alterados, na mesma amostra (testes diferentes) ou em amostras diferentes, especialmente na ausência de hiperglicemia franca.

A escolha do teste deve considerar condições clínicas específicas, como hemoglobinopatias, que podem interferir na acurácia da A1C.

Quem deve ser testado para pré-diabetes?

Segundo as diretrizes mais recentes, devem ser testados adultos com IMC ≥ 25 kg/m² (ou ≥23 kg/m² em asiáticos) com um ou mais fatores de risco, como:

  • Histórico familiar de diabetes;
  • Sedentarismo;
  • Doença cardiovascular prévia;
  • Dislipidemia – HDL < 35 mg/dL ou triglicérides > 250 mg/dL;
  • Hipertensão arterial (PA ≥ 140/90 mmHg ou uso de medicação anti-hipertensiva);
  • Síndrome dos ovários policísticos;
  • História de diabetes gestacional.

Além disso, a ADA recomenda rastrear todos os adultos a partir dos 35 anos, independentemente de fatores de risco, e repetir a cada 3 anos se os resultados estiverem normais. 

Tratamento do pré-diabetes

O objetivo principal do tratamento é prevenir ou retardar a progressão para o diabetes tipo 2 e reduzir o risco cardiovascular.

1. Mudança no estilo de vida (primeira linha)

O pilar central do tratamento é a intervenção no estilo de vida, comprovadamente eficaz, como demonstrado no Diabetes Prevention Program (DPP) da ADA.

As recomendações incluem:

  • Perda de 5–10% do peso corporal;
  • Atividade física moderada: pelo menos 150 minutos por semana;
  • Alimentação balanceada com redução da ingestão calórica e de açúcares simples;
  • Apoio comportamental e educacional, sempre que possível.

2. Controle de fatores de risco associados

Pacientes com essa condição frequentemente apresentam outras comorbidades. Por isso, é fundamental:

  • Tratar hipertensão arterial e dislipidemias;
  • Reduzir o risco cardiovascular global;
  • Incentivar a cessação do tabagismo.

3. Tratamento farmacológico – Metformina no pré-diabetes: quando indicar?

Nem todos os pacientes precisam de medicação. Contudo, a metformina é a única droga com forte recomendação nas diretrizes da ADA e da SBD para uso em pacientes com pré-diabetes. Embora não seja indicada de forma rotineira, sua introdução pode ser apropriada em casos selecionados:

  • IMC ≥ 35 kg/m²;
  • Idade < 60 anos;
  • Mulheres com histórico de diabetes gestacional;
  • Glicemia de jejum ≥ 110 mg/dL ou A1C ≥ 6,0%;
  • Quando a mudança de estilo de vida isolada não for suficiente.

Importante: A metformina tem eficácia limitada em idosos, e o seu uso deve ser bem avaliado nesse grupo. Além de ser contraindicada em pacientes com disfunção renal significativa (TFG < 30 mL/min/1,73m²).

A dose inicial costuma ser 500 mg 1–2x ao dia, podendo ser titulada até 2g/dia conforme tolerância gastrointestinal e resposta clínica.

Vale ressaltar que o uso da metformina com objetivo preventivo deve sempre vir associado à modificação do estilo de vida, e não como substituto.

Além da metformina, outros medicamentos como agonistas do GLP-1 têm mostrado benefício na prevenção do diabetes, mas ainda não são amplamente indicados para o tratamento de pré-diabetes em diretrizes formais.

Conclusão

O pré-diabetes é mais do que um alerta — é uma janela de oportunidade. Ao reconhecer e tratar essa condição de forma precoce, é possível evitar complicações futuras e promover saúde em longo prazo. 

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Ana Karoline Bittencourt Alves

Ana Karoline Bittencourt Alves

Professora da Medway. Formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com Residência em Clínica Médica (2019-2021) e Medicina Intensiva (2022-2025) pela Universidade de São Paulo (USP - SP). Siga no Instagram: @anakabittencourt