E aí, galera! Hoje, vamos falar sobre a profilaxia de meningite na gestante. O que temos de diferente? É igual à do adulto? Qual indicação? E como é feita a quimioprofilaxia nesses casos? Bora lá deixar tudo bem claro!
No Brasil, a principal causa de meningite é a meningocócica. A letalidade é alta, variando de 20-50%, dependendo da apresentação da doença. Antes da introdução da vacina, em 1999, contra o Haemophilus influenzae sorotipo B (Hib), tínhamos este patógeno como o segundo maior causador de meningite, principalmente em crianças. Após a introdução da vacina, houve uma redução de mais de 90% dos casos de meningite relacionados a essa bactéria.
Basicamente, vamos falar sobre a quimioprofilaxia de meningite na gestante que tem contato com pacientes que apresentaram essas duas doenças.
Em primeiro lugar, temos a doença meningocócica, que é uma infecção bacteriana aguda causada pela Neisseria meningitidis (meningococo). Ela se manifesta mais comumente como um quadro de meningite meningocócica, ou seja, com febre associada à rigidez de nuca, podendo apresentar vômito ou outros sintomas neurológicos em conjunto. O quadro mais grave dessa condição, embora menos comum, é a meningococcemia, que ocorre quando há disseminação sistêmica da bactéria.
A segunda doença que discutiremos, como já falado, é a meningite bacteriana causada pelo Haemophilus influenzae sorotipo B, que também necessita de um esquema de quimioprofilaxia aos contactantes. Atualmente, esse patógeno é menos frequente como causador de meningites, assumindo a terceira posição em incidência, logo atrás do atual segundo colocado, o Streptococcus pneumoniae (pneumococo). Porém, deixaremos o pneumococo para uma outra conversa, já que, no caso dessa bactéria, não necessitamos de um esquema para quimioprofilaxia.
De forma geral, a meningite por Hib é transmitida por contato direto, por meio de secreções respiratórias. No caso da doença meningocócica, a manifestação pode ser paulatina ou fulminante.
Clinicamente, apresenta-se com quadro de febre, cefaleia, letargia, vômitos e náuseas. Quando examinamos a paciente, vemos muitas vezes petéquias, rigidez de nuca, sinais de Kernig e Brudzinski e acometimento neurológico (tanto déficits focais quanto alteração no estado mental e convulsões).
Em casos mais graves da doença, podemos ter um choque séptico, manifestando-se com uma CIVD, com a famosa Síndrome de Waterhouse-Friderichsen.
Para o diagnóstico, em ambos os casos, utilizamos o estudo e a cultura do líquido cefalorraquidiano (LCR) ou outras formas de identificar o agente (sangue e raspado de lesões petequiais).
Após fechado o diagnóstico, devemos rapidamente iniciar o tratamento específico, visto que após 24h de antibioticoterapia, a taxa de transmissão está praticamente zerada.
Tanto na vida real quanto em provas, quando houver suspeita de um caso de meningite, lembre-se sempre de que devemos usar equipamento de proteção individual (EPI) adequado para atender o paciente, fornecendo a ele também uma máscara, de modo a evitarmos contato com secreções respiratórias.
Outro passo importante é notificar o caso como suspeito e depois confirmar. Lembre-se disso durante as provas!
Agora, sim, vamos para a profilaxia de meningite na gestante! Depois que fechamos o diagnóstico de meningite por meningococo ou Hib, devemos realizar a quimioprofilaxia para evitar que outras pessoas desenvolvam a doença. A indicação da quimioprofilaxia é diferente em cada uma das doenças.
Nesse caso, definimos como contatos próximos pessoas que moram junto ou compartilham o mesmo dormitório. Além disso, comunicantes de creches, escolas e local de trabalho, ou pessoas diretamente expostas às secreções do paciente. Também vale lembrar que, independentemente do estado vacinal, a quimioprofilaxia está indicada.
Definimos como contatos domiciliares pessoas que moram no mesmo lugar ou tenham ficado 4h por dia em contato em pelo 5 dos 7 dias da semana.
Atenção! No caso da paciente gestante, as indicações são exatamente as mesmas, devendo seguir as orientações conforme agente etiológico.
Agora que sabemos as indicações, bora lá entender a prescrição!
Preferencialmente, devemos iniciar a quimioprofilaxia em até 48h do contato com o paciente-fonte, para diminuir ao máximo os riscos de novos casos de meningite.
A profilaxia de meningite na gestante é realizada com rifampicina. A dose, a posologia e a duração do tratamento dependem do agente etiológico. Apesar de ser classificada como categoria C, a rifampicina é segura na gestação e não há evidências de que esse medicamento possa apresentar efeitos teratogênicos. Portanto, essa deve ser a medicação de escolha para profilaxia de meningite na gestante.
As doses, tanto para crianças quanto para adultos (e gestantes), estão descritas abaixo. A preferência é para rifampicina.
Fonte: Ministério da Saúde.
Fonte: Ministério da Saúde.
Vale lembrar que a imunização é a principal forma de prevenção da doença e sempre devemos checar e orientar a paciente a atualizar o calendário vacinal.
Acabaram-se as dúvidas quanto à quimioprofilaxia? Em resumo, temos duas doenças que merecem receber a quimioprofilaxia: a meningite por meningococo e pelo Hib. Todos os contatos próximos ou que tiveram exposição (sem proteção) às secreções do paciente devem receber a profilaxia.
A meningite é uma doença que assusta, mas conseguimos evitar danos maiores quando prescrevemos adequadamente o tratamento e a quimioprofilaxia.
A medicação de escolha é a rifampicina, mesmo em gestantes, normalmente na dose de 600mg, ou de 12/12h por 2 dias para a Neisseria meningitidis. Por outro lado, aplica-se a mesma rifampicina 1 vez ao dia por 4 dias, nos casos de Haemophilus influenzae sorotipo B.
Não vamos esquecer de notificar, usar EPI e fornecer máscara ao paciente, quando encontrar um caso suspeito.
Agora ficou mais claro? Abra o aplicativo e bora fazer questões! Gostou dessas dicas? Então, não deixe de checar também o nosso Guia de Prescrições para acabar com quaisquer dúvidas que surjam no momento de receitar o paciente.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em Saúde: volume 1 / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia e Serviços. – 1. ed. atual. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.
Gaúcho, nascido em Novo Hamburgo em 1995. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas/Universidade Estadual de Campinas (FCM-UNICAMP) em 2019. Residência em Ginecologia e Obstetrícia no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher CAISM-UNICAMP. Só escala a montanha quem é capaz de dar o primeiro passo.