Quadro clínico do lúpus e seus sintomas: saiba mais!

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Oi pessoal, tudo bem com vocês? Por aqui tudo em dia! Hoje estou aqui para continuar uma série de textos muito interessantes sobre o quadro clínico de lúpus! Lúpus eritematoso sistêmico.

O lúpus é uma doença autoimune sistêmica que pode tudo. Pode acometer pele, articulações, rins, cérebro, qualquer órgão e também pode aparecer em pessoas de qualquer raça, idade, gênero, mas, é mais prevalente em mulheres em idade fértil e também em negras.

Só no Brasil já são mais de 60 mil pessoas com lúpus e, nos últimos anos, essa doença ganhou espaço na mídia e no mundo não médico também pela influência de mulheres famosas que possuem a doença, como as atriz e cantora Selena Gomez. 

Esse tipo de visibilidade é fundamental para a doença: ajuda tanto na disseminação do conhecimento sobre ela, quanto na mitigação de possíveis esteriótipos e preconceitos que possam existir com os portadores dela.

O quadro clínico do lúpus

Porque essa doença consegue gerar tantos estigmas e preconceitos assim? Isso acontece porque o lúpus, como seu nome bem traduz, é uma doença sistêmica com capacidade de acometer vários órgãos e, virtualmente, todos os tecidos do corpo humano, gerando medo do diagnóstico.

A própria atriz Selena Gomez, também recentemente, compartilhou em suas redes sociais, uma mensagem sobre ter sido submetida a um transplante renal devido ao lúpus, tamanha pode ser a agressividade da doença.

No lúpus podemos ter manifestações sistêmicas, musculoesqueléticas, cutâneas, hematológicas, neurológicas, cardiopulmonares, renais, gastrointestinais, tromboses, oculares, etc. Mas as mais comuns são as manifestações cutâneas e musculoesqueléticas.

A mialgia difusa é extremamente comum e tende a ter relação com atividade de doença. Entretanto, apesar da prevalência do sintoma, ele não é específico o suficiente para auxiliar no diagnóstico. Diferente da artrite e artralgia, achados com especificidade considerável, figurando entre os critérios diagnósticos atuais. 

A maioria dos portadores de lúpus tem poliartrite intermitente, simétrica, que pode tanto ser leve quanto incapacitante e que aparece, geralmente, em mãos, punhos e joelhos, de baixo potencial erosivo.

E, apesar do padrão não-erosivo do acometimento ósseo, as manifestações osteoarticulares podem acarretar deformidades incapacitantes por acometimento tendíneo e ligamentar: a incidência do tônus muscular basal sobre as estruturas fragilizadas leva a subluxação progressiva e desalinhamento articular. 

Mesmo que haja o aspecto chamativo da deformidade, caso a mão do paciente seja pressionada contra uma superfície plana, as deformidades “desaparecem”, em função do dano estrutural está limitado às partes moles, diferente do que acontece, por exemplo, na artrite reumatoide.

Fonte: Ribeiro et.al (2011).
Fonte: Ribeiro et.al (2011).

Percebam as deformidades articulares (ocasionadas por sobrecarga de partes moles) que falamos acima!

Outra manifestação osteomuscular bastante explorada quando o assunto é quadro clínido do lúpus é a osteonecrose avascular, que consiste em alterações vasculares que resultam em interrupção do aporte sanguíneo e consequente isquemia tecidual. 

Este fenômeno é limitado (principalmente em provas) à cabeça do fêmur, em função de sua tímida vascularização. Os fatores de risco para essa situação são frequentes no paciente com LES: uso de AINES e uso de corticoide sistêmico. 

A manifestação clínica é dor mecânica em topografia de quadril com limitação dolorosa para movimentos em todos os planos e o exame de imagem para o diagnóstico precoce é a ressonância magnética. A radiografia pode demonstrar perda do contorno usual da cabeça do fêmur, particularmente, após a fase aguda.

E as manifestações cutâneas?

Também presente na maioria dos casos de lúpus, a dermatite lúpica pode ser aguda, subaguda ou crônica. E, como era de se esperar, existem muitas lesões que podem ser diagnosticadas sob essa etiqueta.

O lúpus eritematoso discoide é a dermatite lúpica mais comum de todas e o nome não é à toa: as lesões são discoides, com margens eritematosas pigmentadas e escamosas. São ligeiramente elevadas e seu centro é atrófico, despigmentado. 

Mas, atenção! Apenas 5% das pessoas com lúpus discoide têm LES, no entanto, 20% dos pacientes com LES têm lúpus discoide!

Apesar disso, essa não é a primeira manifestação cutânea que nos vêm à mente quando falamos de lúpus, não é mesmo?

O eritema fotossensível na face – bochechas e nariz — o famoso rash em borboleta, ele sim é a “carinha do LES”. Aqui temos uma lesão ligeiramente elevada, escamosa que pode aparecer, além das áreas clássicas, nas orelhas, no queixo, na região do colo do tórax, no dorso e nas superfícies extensoras dos braços.

Para fechar as manifestações cutâneas, temos o lúpus cutâneo subagudo: lesões que evoluem em áreas fotoexpostas, poupa a face, tem associação importante com anti-SSA (anti-Ro) e tendência a resolução não cicatricial, além de assumir dois padrões estereotipados: lúpus cutâneo subagudo anular e lúpus cutâneo subagudo pápulo-escamoso.

Para não dizer que não falei das flores…

Um importante grupo de manifestações clínicas do lúpus eritematoso sistêmico são as manifestações renais! A nefrite lúpica costuma ser a manifestação mais grave dessa doença e, juntamente com as infecções, é a principal causa de morte nesses pacientes.

São 6 classes diferentes: a classe 1 descreve alterações histológicas na ausência de sintomas e a classe 6 descreve alterações terminais e irreversíveis, caracterizando rim crônico. No meio disso, temos variações. Aqui não nos cabe diferenciar histopatologicamente cada uma dessas classes, mas falaremos de algumas características comuns a todas elas!

Todas têm associação com a positividade do autoanticorpo Anti-DNA. A sua positividade aumenta a probabilidade de nefrite e sua dinâmica laboratorial reflete a atividade de doença (aumento do título sugere reativação da doença renal e a redução do título sugere resolução do quadro). 

Sempre temos redução do complemento sérico durante os períodos de atividade de nefrite. De forma semelhante ao anti-DNA, os níveis de complemento também variam com a atividade da doença, mas, ao contrário (tendência a redução durante períodos de atividade e normalização durante remissões). 

E, por fim, temos sedimento urinário ativo durante períodos de atividade (o padrão esperado muda conforme a classe de nefrite, porém a correlação entre atividade/remissão e sedimento ativo/ausência de sedimento ativo é mantida em todas as classes). 

Inclusive, como a nefrite é assintomática na maioria dos casos, um exame de urina deve ser sempre solicitado na suspeita de LES.

Ficamos por aqui

Mas, saibam: o quadro clínico do lúpus tem muitas mais manifestações do que as que conversamos aqui, ok? Como vimos, o “tudo pode ser lúpus”. Não desanimem, no entanto: as manifestações mais comuns, mais clássicas e mais graves são essas e, com a prática clínica também é possível desenhar um “paciente padrão” em mente para facilitar o reconhecimento.

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No nosso próximo texto (e último) falaremos um pouquinho mais sobre o diagnóstico e tratamento do LES, mas, enquanto isso, aproveitem nosso conteúdo do blog e leiam sobre quais são as instituições mais buscadas do estado de São Paulo para fazer Reumatologia – essa especialidade encantadora à qual “pertence” (entre muitas aspas), o lúpus!
Nos vemos já! PRA CIMA!

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LarissaMenezes

Larissa Menezes

Nascida em Franca/SP, em 92, formou-se em medicina pela PUC-Campinas, em 2018. Especialista em Clínica Médica pela UNICAMP e completamente apaixonada por essa área cheia de detalhes e interpretações. Filha de professora e de um ávido leitor, cresceu com muito amor pelo ensino também, unindo essa paixão à medicina.