Shock index: tudo que você precisa saber

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Fala, galera. Como vocês estão? Espero que estejam bem e prontos para falar de shock index! Acredito que muitos aqui devem apresentar certa resistência quando começam a ler sobre escores no geral, porque na prática acabam não utilizando. Realmente, existem escores mais voltados para estudos científicos, mas outros que são fundamentais para diagnóstico, definir condutas e gravidade no pronto socorro.

Eu, particularmente, comecei a me valer dessas ferramentas devido à cobrança de alguns preceptores da residência e hoje já não vivo sem. Sendo assim, separei o texto de hoje para falarmos do shock index (SI), muito utilizado no setor de trauma, ainda com validações científicas contraditórias, mas que serve como um ótimo alerta no setor de emergência para definir gravidade do doente. Nosso objetivo aqui será simples: aprender como calcular o SI e entender sua importância na definição de condutas.

Tradicionalmente, a FC, PAS, entre outros sinais vitais, têm sido usados ​​para avaliar o estado hemodinâmico na chegada ao PS. No entanto, esses parâmetros podem ser normais, mesmo em pacientes gravemente enfermos. Isso pode levar a uma intervenção retardada, maior necessidade de cuidados intensivos e morbidade e mortalidade. 

Por exemplo, pacientes com idade avançada e hipertensão crônica podem não apresentar inicialmente sinais de comprometimento hemodinâmico, como taquicardia e hipotensão. Além disso, em quadros de hemorragia, os pacientes podem apresentar FC e PAS dentro dos limites normais, mesmo após perder até 450 mL de sangue. Devido a esses achados, o SI foi estudado para identificar uma população em risco de descompensação e desfechos desfavoráveis.

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Como calcular o shock index?

Sinais vitais como frequência cardíaca, respiratória e pressão arterial têm sido usados ​​por diferentes grupos de trauma para detectar anormalidades iniciais e de acordo com esses achados seguir algumas condutas predestinadas. 

O shock index (SI) é obtido a partir da relação entre a frequência cardíaca (FC) e a pressão arterial sistólica (PAS). É um escore fisiológico que pode orientar no atendimento pré-hospitalar e inicialmente no setor de emergência para determinar a gravidade do trauma e detectar um choque hemorrágico precoce.

Figura 1: Fórmula para o cálculo do shock index.
Figura 1: Fórmula para o cálculo do shock index. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6698590/pdf/oaem-11-179.pdf

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Descrito pela primeira vez em 1967, o SI fornece uma aproximação do estado hemodinâmico do paciente. O intervalo normal para essa medida é atualmente aceito como 0,5–0,7, embora algumas evidências sugiram que até 0,9 é aceitável. Valores próximos a 1,0 são indicativos de piora do estado hemodinâmico e choque.

Além do SI, alguns autores descrevem o SI modificado (MSI) [FC / pressão arterial média (PAM)] e o SI da idade (idade × SI) também utilizados para melhorar o valor prognóstico. O MSI foi desenvolvido para incorporar a PAM e não apenas a PAS, já que a pressão arterial diastólica (PAD) também é usada para determinar a gravidade clínica da doença.

Outro conceito importante é o índice de choque pediátrico ajustado (SIPA), que é calculado com a  mesma fórmula do SI, mas com valores de corte ajustados de acordo com a faixa etária (Vide figura 1). 

Figura 2: Variações do  shock index.
Figura 2: Variações do  shock index. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6698590/pdf/oaem-11-179.pdf.

Qual a utilidade do SI? Existe alguma limitação?

Grande parte da literatura relacionada a SI no pronto-socorro visa identificar uma ferramenta confiável e precoce para prever choque hemorrágico, necessidade de transfusão maciça e mortalidade, mas existem algumas limitações importantes:

  • A validação com estudos prospectivos é limitada;
  • A utilidade do SI em idosos, pacientes febris ou aqueles com condições crônicas que podem alterar a hemodinâmica basal (por exemplo, hipertensão) e não ter mudanças consistentes na FC em resposta ao estresse hemodinâmico;
  • Medicamentos como beta-bloqueadores, beta-agonistas ou outros anti-hipertensivos mostraram alterar a associação de SI e mortalidade. 

Apesar de ser melhor descrito em estudos relacionados ao trauma, o SI tem sido ampliado para outras condições, como sepse, gravidez ectópica e embolia pulmonar. Ele nunca deve ser usado para diagnosticar ou descartar doenças críticas isoladamente. Em vez disso, deve ser usado em conjunto com sinais vitais e outros marcadores na tomada de decisão clínica de pacientes em risco de desfechos como internação em hospital ou UTI, choque e mortalidade. 

É isso!

É isso, pessoal! Esperamos que tudo tenha ficado claro e que você tenha compreendido o conteúdo!

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Referências

  1. Erica Koch, et al. Shock index in the emergency department: utility and limitations.
  2. Montoya, K. F. Shock index as a mortality predictor in patients with acute polytrauma.

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MatheusCarvalho Silva

Matheus Carvalho Silva

Matheus Carvalho Silva, nascido em 1993, em Coronel Fabriciano (MG), se formou em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Residência em Cirurgia Geral na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM).