Suporte Básico de Vida e a atualização da AHA 2020

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E aí moçada! Já falamos anteriormente aqui no blog sobre o Advanced Cardiovascular Life Support (ACLS), um documento publicado pela American Heart Association (AHA), ao tratar do protocolo de taquiarritmias. Hoje, no entanto, vamos entrar um pouco mais a fundo em outro: o Suporte Básico de Vida (BLS)!

Como você já sabe, a AHA sofre atualizações periódicas em algumas de suas diretrizes já publicadas – em 2020, essas atualizações foram para a Reanimação Cardiopulmonar (RCP) e o Atendimento Cardiovascular de Emergência.

As diretrizes iniciais para RCP foram publicadas em 1966. Desde então, já foram revisadas e atualizadas diversas vezes. Isso você já sabe e já leu no texto sobre o algoritmo de PCR em adultos, mas como foi que ficou a cadeia de sobrevivência nas atualizações de PCR intra ou extra-hospitalar? 

Um sexto elo foi adicionado para enfatizar a importância da recuperação: o Suporte Básico de Vida (BLS). E é aí que chegamos no texto de hoje: vamos revisar e em seguida falar um pouquinho deste sexto elo! Bora lá?

Ilustração referente à cadeia de sobrevivência proposta pela AHA.
Ilustração referente à cadeia de sobrevivência proposta pela AHA (Créditos: AHA)

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Como o socorrista leigo ou o profissional de saúde podem efetuar um bom Suporte Básico de Vida?

Cadeia de sobrevivência publicado pela AHA em 2020. IHCA: Cadeia de sobrevivência intra-hospitalar; OHCA: Cadeia de sobrevivência extra-hospitalar.
Cadeia de sobrevivência publicada pela AHA em 2020. IHCA: Cadeia de sobrevivência intra-hospitalar; OHCA: Cadeia de sobrevivência extra-hospitalar.

Apesar dos avanços recentes, menos de 40% dos adultos recebem RCP iniciada por leigos e menos de 12% têm um DEA aplicado antes da chegada ao departamento de emergência de um hospital. Quanto maior for o tempo sem a oferta de suporte básico de vida adequado à vítima, menor será a chance de reversão da PCR e pior será o prognóstico neurológico observado após o retorno à circulação espontânea.

O foco principal no tratamento da parada cardíaca em adultos inclui o reconhecimento rápido, fornecimento imediato de RCP de qualidade e desfibrilação precoce da fibrilação ventricular e taquicardia ventricular sem pulso. 

Mas vamos por partes! Primeiro, a sistematização do atendimento:

1)    Verificação da segurança da cena:

Quando você se depara com uma situação de possível PCR, seu primeiro foco deve ser você mesmo! Se não, serão duas vítimas, concorda?

Então, o algoritmo de BLS da AHA 2020 inicia-se com a verificação da cena, priorizando a avaliação de riscos envolvidos a este atendimento. A cena é segura? Então vamos ao próximo passo.

2)    Avaliação da responsividade:

O socorrista leigo que não identifica resposta a um estímulo tátil ou verbal em um paciente inconsciente, com respiração ausente ou anormal (gasping) deve presumir que a vítima está em parada cardíaca!

A RCP administrada de maneira precoce pelo socorrista leigo melhora a sobrevida após parada cardíaca. O benefício de administrar RCP nesta situação supera qualquer risco potencial de aplicar compressões torácicas em alguém que está inconsciente, mas não em parada cardíaca. Foi demonstrado, segundo a AHA, que o risco de lesão por RCP é baixo nesses pacientes. Os eventos adversos observados incluíram dor na área das compressões torácicas (8,7%), fratura óssea (costelas e clavícula) (1,7%) e rabdomiólise (0,3%), sem lesões viscerais descritas. 

O socorrista profissional de saúde deve verificar o pulso central em até 10 segundos, se nenhum pulso for sentido, deve assumir que a vítima está em parada cardíaca.

Após o reconhecimento da PCR, você deve chamar por ajuda (1º ELO da cadeia).

Se existir alguém por perto, beleza: convoque o indivíduo para efetuar a ligação ao serviço de emergência: 192 – SAMU; 193 – Corpo de Bombeiros; 190 – Polícia Militar. Caso o socorrista esteja só na cena, ele mesmo deve providenciar ajuda, e uma opção desta atualização é ligar para o serviço de urgência e colocar o telefone no modo viva-voz, enquanto simultaneamente aplica as manobras de suporte básico de vida!

É crucial que a ajuda venha com um desfibrilador portátil, e, por favor, não se esqueça de solicitar um DEA inicialmente!

Vixe! A vítima não respondeu, chamei por ajuda e agora? Como prossigo com o Suporte Básico de Vida?

Após o reconhecimento da parada cardíaca e chamar por ajuda com um desfibrilador externo automático, a cadeia de sobrevivência continua com o início imediato da RCP.

A compressão torácica de qualidade (2º ELO da cadeia) deve ser prioridade, e se disponíveis dispositivos de barreira, pode-se efetuar 2 ventilações a cada 30 compressões.

A interrupção deve ser realizada assim que o desfibrilador estiver disponível, quando será realizada avaliação do ritmo e a aplicação de choque caso indicado (3° ELO da cadeia).

Durante a reanimação cardiopulmonar é indicada a abertura de vias aéreas: o socorrista leigo treinado, que sinta confiança em realizar as compressões e as ventilações, bem como o profissional de saúde, devem proceder dessa maneira.

Manobras indicadas são realizadas inclinando a cabeça e elevando o queixo simultaneamente, caso não haja suspeita de lesão cervical. Outra coisa: a pressão cricoide em PCR de adultos não é indicada de forma rotineira.

Ao aplicar as compressões torácicas durante um atendimento de BLS, o socorrista deve colocar a base de uma das mãos no centro do tórax da vítima, na metade inferior do esterno, e a base da outra mão sobre a primeira.

A evidência do que constitui uma RCP ideal continua a evoluir conforme as pesquisas surgem. Vários componentes principais foram definidos para a RCP de alta qualidade, incluindo a minimização das interrupções nas compressões torácicas, proporcionando compressões com frequência (100-120 por minuto) e profundidade adequadas (5-6 cm), evitando apoiar-se no tórax entre as compressões e ventilação excessiva.

Sempre que possível, você deve realizar a RCP com a vítima em superfície rígida e em posição supina. 

Após a chegada do serviço de resgate, devemos fornecer ao paciente o suporte avançado de vida (4º ELO da cadeia) juntamente ao transporte para o serviço hospitalar priorizando as medidas pós PCR (5º ELO da cadeia).

E qual é o sexto (e último) elo da cadeia de sobrevivência do Suporte Básico de Vida?

Pacientes vítimas de PCR com reanimação bem sucedida, suas famílias e cuidadores necessitam de assistência. Nesta última atualização, foi dada uma importância maior ao apoio psicológico e físico aos sobreviventes e às pessoas que o cercam.

É recomendada uma avaliação estruturada para transtornos de ansiedade e depressão em pacientes e familiares. Pacientes sobreviventes muitas vezes enfrentarão problemas físicos, neurológicos, cognitivos, emocionais ou sociais, que nem sempre estão evidentes após a alta hospitalar!

A jornada pela reabilitação e recuperação (6º ELO da cadeia) se inicia e o planejamento aqui será tudo! Avaliação multidisciplinar, de fonoaudiologia, neurologia, cardiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia/psiquiatria, serviço social – todas devem ser disponibilizadas após a alta médica.

O socorrista pode, eventualmente, sofrer ansiedade ou transtorno de estresse pós-traumático após fornecer o BLS e deve receber apoio psicológico após o evento.

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Quando devo suspender os esforços do BLS em PCR ocorrida fora do hospital?

Caso TODOS os critérios abaixo estejam presentes, o transporte ao hospital não é indicado após o fornecimento de manobras de suporte básico de vida:

  • PCR não presenciada por um médico de serviço de emergência; 
  • não retorno à circulação espontânea;
  • nenhum choque foi administrado.

E aí, ficou por dentro da atualização?

Esperamos que tenha aprendido a seguir o passo-a-passo da cadeia de sobrevivência e efetuar o suporte básico de vida sem erro, e que tenham gostado do texto! Também falamos aqui no blog sobre as atualizações Suporte Avançado de Vida Pediátrico, conhecido como PALS; dá uma olhada!

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Bons estudos!

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DhiegoCampostrini

Dhiego Campostrini

Nascido em 1990. Médico graduado em 2014. Formado em Clínica Médica pelo Hospital Santa Marcelina-SP. Residência em Cardiologia da UNIFESP-EPM. Ex-preceptor, médico concursado do Hospital do Servidor Público Municipal - SP. Apaixonado por aprender e ensinar; fascinado pela Medicina.