Vaginose citolítica: o principal diagnóstico diferencial da candidíase

Moçada, a vaginose citolítica se apresenta como uma leucorréia grumosa, frequentemente confundida com a candidíase devido aos sintomas semelhantes de prurido, disúria e dispareunia. A hipótese diagnóstica surge quando há ausência de melhora com antifúngico. 

Fisiopatologia da vaginose citolítica

É caracterizada pela proliferação excessiva de Lactobacillus sp, levando a uma redução excessiva do pH, redução de leucócitos e citólise importante.

A etiopatogenia, e fatores de risco e/ou desencadeantes são desconhecidos. O que se sabe é que a proliferação exagerada dos lactobacillus promoveria uma atividade citolítica importante, cujos produtos são responsáveis pelos sintomas comumente apresentados. 

Quadro Clínico 

A sintomatologia mais frequente é a leucorreia grumosa, com prurido associado, ardor, disúria ou dispareunia. Frequentemente, os sintomas pioram no período pré-menstrual. 

Você deve estar se perguntando: “mas é muito parecido com a candidíase?” É verdade, esse é um dos principais diagnósticos diferenciais da candidíase, e muitas vezes só é diagnosticado com a falha do uso do antifúngico.

Por isso, a suspeita da vaginose citolítica deve ser aventada naquelas pacientes com candidíase sem melhora com o tratamento clínico habitual, ou então com “candidíase de repetição ou recorrente”. Idealmente, para melhor elucidação diagnóstica, devemos solicitar uma bacterioscopia da secreção vaginal. 

Através desse exame, podemos compreender a flora vaginal desta paciente, como a proporção de lactobacillus, leucócitos, e também a presença de citólise. A cultura da secreção vaginal também é benéfica, pois podemos identificar a presença ou ausência de microrganismo e orientar melhor o tratamento. 

Exame ginecológico 

Durante o exame especular, é possível observar leucorreia de aspecto flocular,  fluido ou em grumos, aderente ou não às paredes vaginais.

Tipicamente, o ph fica entre 3,5-4,5 e o teste de aminas é negativo. A microscopia revela citólise associada a expressivo aumento dos lactobacilos, raros leucócitos ou ausência deles, núcleos desnudos e restos celulares devido à lise das células epiteliais; além da ausência de hifas e esporos, como abaixo:

Bacterioscopia vaginal

As principais alterações comumente observadas na lâmina da secreção vaginal dessas pacientes incluem:

• flora tipo I (bacilar) intensa; 
• escore de Nugent de 0 a 3.;
• células descamativas em grande quantidade;
• leucócitos ausentes ou pequena quantidade (0 ou 1 por campo). 

Lise celular intensa, com núcleos desnudos e muito material celular no esfregaço.

Relembrando a classificação de Nugent:

Tratamento da vaginose citolítica

Não existe uma conduta específica para a vaginose citolítica, uma vez que a causa é desconhecida. Entretanto, o tratamento envolve a alcalinização do meio vaginal.

Utilizamos duchas vaginais com bicarbonato de sódio (30-60g) diluído em 1 litro de água, 2-3 vezes por semana, até a remissão da sintomatologia.

Tratamento: Vaginose Citolítica

Ducha vaginal com bicarbonato de sódio. Misturar uma colher de sopa em 1 litro de água morna e colocar intravagina, uma vez ao dia, por 10 dias. Cápsulas manipuladas. Bicarbonato de sódio 2%. Aplicar na vagina em dias alternados, por 10 a 20 dias.

Entendeu mais sobre a vaginose citolítica?

E aí? Curtiu conhecer um pouco mais sobre uma das principais vulvovaginites não-infecciosas, a vaginose citolítica?

É fundamental praticarmos o senso crítico ao avaliarmos as pacientes com leucorreia na ginecologia, e aventar a possibilidade de diagnósticos diferenciais de vulvovaginites menos frequentes, especialmente naquelas pacientes que não melhoram com o tratamento inicial. 

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