Vaginite e vaginose: tudo o que você precisa saber

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Fala, galera! Tudo bem? Hoje nós vamos falar a respeito da vaginite e da vaginose. Esse é um tópico muito importante, porque se trata da principal queixa no consultório do ginecologista. Então, é preciso estar preparado para saber como lidar com o problema.

As vulvovaginites e vaginoses são responsáveis pela maioria dos atendimentos médicos ginecológicos. Elas causam corrimento vaginal que podem incomodar as pacientes e afetar negativamente a qualidade de vida delas. Existem várias causas de corrimento vaginal patológico, sendo que a vaginose bacteriana, a candidíase e a tricomoníase são as principais delas. 

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Imagem 1. Saiba mais sobre as vaginites e vaginoses. Disponível em: https://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/25734647.jpg?w=700

Os casos de vaginite e vaginose podem ser recorrentes e requerem acompanhamento para tratamento adequado e resolução. Nós sabemos que vocês têm muita coisa para estudar no ano preparatório para as provas de residência médica, mas esse tema é muito importante e sempre cai, então vamos estudá-lo com carinho. Inclusive, aproveite para ler sobre como melhorar o estudo para residência médica neste link.

Definição de vaginite e de vaginose

Em primeiro lugar, é necessário dizer que vaginite corresponde a uma alteração vaginal causada por um processo inflamatório local decorrente de uma infecção ou de alteração da microbiota vaginal fisiológica. Quando ocorre a alteração da flora vaginal normal, composta principalmente por Lactobacillus, há um desequilíbrio do ambiente vaginal fisiológico.

Diante da situação explicada acima, alguns microorganismos podem proliferar. Isso pode gerar um processo inflamatório e, então, diz-se que estamos diante de um quadro de vaginite. Quando não há inflamação associada, presenciamos um quadro de vaginose.

As vaginites e vaginoses são as principais causas de corrimento vaginal e são condições que acometem o epitélio estratificado vaginal. Os microorganismos causadores das vulvovaginites e vaginoses podem ser:

  • fungos;
  • excesso de bactérias anaeróbicas;
  • protozoários;
  • aumento significativo de lactobacilos. 

As principais causas de vaginite e vaginose, por sua vez, são: 

  • candidíase vulvovaginal;
  • vaginose bacteriana;
  • tricomoníase;
  • vaginose citolítica. 

Elas são responsáveis por até 40% das queixas das consultas ginecológicas e cursam com conteúdo vaginal aumentado, com quantidade, cor e características variadas. As pacientes, a depender do agente etiológico, também podem se queixar de: 

  • dor;
  • prurido;
  • ardência;
  • dispareunia;
  • disúria.

Candidíase vulvovaginal

Gente, a candidíase vulvovaginal é uma das mais frequentes causas de corrimento vaginal patológico e, aproximadamente, um terço das mulheres terá, pelo menos, um episódio na vida. 

As pacientes com candidíase queixam-se, sobretudo, de prurido vulvar e corrimento vaginal esbranquiçado, mas também podem sentir: 

  • disúria;
  • dispareunia;
  • ardência;
  • edema;
  • hiperemia vulvar. 

No exame físico, é possível identificar corrimento vaginal esbranquiçado, grumoso, como “leite talhado”, que pode estar aderido às paredes vaginais e ao colo uterino.

A Candida albicans é o principal fungo que causa a candidíase, lembrando que ela pode ser componente da flora vaginal fisiológica e que, em algumas situações específicas, ela se torna patogênica, causando a candidíase. Entretanto, existem as espécies não albicans de Candida, que também podem causar candidíase – temos que pensar nelas principalmente nos casos complexos e recorrentes. As outras espécies, como a C. glabrata, C. parapsilosis e C. tropicalis, podem causar candidíase em até 10% dos casos.

O diagnóstico de candidíase pode ser baseado na clínica da paciente, através da anamnese e do exame físico ginecológico. Porém, é recomendado realizar exame a fresco para descartar possíveis diagnósticos diferenciais sempre que for possível. 

No exame a fresco, pode ser possível visualizar ao microscópio leveduras e pseudohifas, que confirmam o diagnóstico. O padrão ouro para o diagnóstico é a cultura para fungos em meio específico, e devemos realizá-la em casos complicados ou recorrentes, pois ela confirma o diagnóstico de candidíase e determina a espécie de Candida para direcionar o tratamento.

O tratamento da candidíase sempre deve ser avaliado caso a caso. Além disso, é preciso que ele seja orientado pelas condições clínicas da paciente. É fundamental orientar medidas comportamentais para prevenção e melhora do quadro, como:

  • higiene íntima;
  • não uso de roupas íntimas apertadas;
  • melhora da imunidade. 

O tratamento medicamentoso deve ser escolhido em conjunto com a paciente, avaliando as características do quadro clínico, se é uma candidíase complicada ou não complicada. Precisamos lembrar que ele pode ser feito pela via oral ou vaginal, em dose única ou regime prolongado.

Vaginose bacteriana

Pessoal, a vaginose bacteriana (VB) é a causa mais comum de corrimento vaginal de origem patológica nas pacientes na mencame. No mundo, pode acometer até 30% das mulheres em idade reprodutiva. Ela ocorre por um desbalanço da flora vaginal fisiológica, quando há diminuição da quantidade de lactobacilos e aumento de bactérias anaeróbicas, como a Gardnerella vaginalis (principal agente etiológico da VB), Prevotella, Atopobium, Megasphaera, Leptotrichia, Bifidobacterium, Sneathia, Dialister, Ureaplasma, Mobiluncus e Mycoplasma.

As pacientes com vaginose costumam evoluir com corrimento vaginal com coloração branca ou cinza, com cheiro desagradável, que ocorre por conta da volatização das aminas no pH mais alcalino (mais elevado) da vagina na vaginose bacteriana. Entretanto, muitas pacientes com vaginose podem ser assintomáticas, o que corresponde a até 50% dos casos.

O diagnóstico de VB é confirmado quando temos três dos quatro critérios de Amsel, que são: 

  • corrimento esbranquiçado ou acinzentado;
  • pH vaginal mais alcalino;
  • teste das aminas positivo (Whiff test);
  • presença de Clue Cells (células alvo – células epiteliais superficiais envolvidas por cocobacilos) na avaliação microscópica. 

Atualmente o padrão ouro para o diagnóstico é o escore de Nugent, que avalia alguns elementos da bacterioscopia do corrimento vaginal com a coloração de Gram e, quando encontra-se entre 7 e 10, é característico de vaginose bacteriana.

Sempre devemos tratar as pacientes com vaginose bacteriana para evitar complicações que podem impactar negativamente na qualidade de vida delas, principalmente as gestantes, pois a VB pode propiciar trabalho de parto prematuro e outras complicações obstétricas. O medicamento mais usado no tratamento é o Metronidazol, o qual pode ser utilizado pela via oral ou vaginal.

Tricomoníase

A tricomoníase é uma infecção sexualmente transmissível (IST) que pode causar infecção gênito-urinária na mulher e uretrite no homem, sendo que a maioria dos homens são assintomáticos. A tricomoníase também pode ser assintomática nas mulheres, porém a maioria das pacientes se queixam de corrimento vaginal com odor, ardência vulvar, dor nas relações sexuais e disúria

Ela é a IST não-viral mais frequente na população, portanto, temos que conhecê-la e tratá-la corretamente. A tricomoníase pode acometer até 5% da população no Brasil e a sua incidência é maior em populações vulneráveis.

A tricomoníase é a infecção pelo protozoário flagelado Trichomonas vaginalis e, como muitos homens são assintomáticos, a transmissão se torna facilitada. Isso acontece porque o vetor da doença é o homem, o qual, na ejaculação, leva os protozoários da uretra masculina para a vagina feminina. O diagnóstico é feito a partir da anamnese e do exame físico, que pode revelar corrimento vaginal esverdeado, mal cheiroso, bolhoso e pode haver a presença de colpite ou ”colo em morango”. O diagnóstico é confirmado mediante:

  • bacterioscopia a fresco;
  • coloração de gram;
  • cultura da secreção vaginal, caso a bacterioscopia não veja o protozoário flagelado.

O Trichomonas vaginalis é um protozoário que consegue fagocitar outros microorganismos, como bactérias, fungos e vírus, e pode transportá-los para o trato reprodutivo superior, propiciando a ocorrência de outras infecções e doença inflamatória pélvica. 

Depois de conhecer todos os fatos mencionados, sempre devemos instituir o tratamento correto para evitar complicações. As pacientes devem ser tratadas, inicialmente, com Metronidazol ou Tinidazol 2 gramas, via oral, em dose única. É muito importante acompanhar as pacientes para evitar que as reinfecções ocorram. Além disso, para o tratamento adequado, devemos chamar o parceiro para avaliação e tratamento e orientar a paciente a rastrear outras ISTs. 

Vaginose citolítica

Pessoal, a vaginose citolítica é uma condição que ocorre pela proliferação exagerada de Lactobacillus, principal constituinte da flora vaginal fisiológica. Quando temos excesso de Lactobacillus redução do pH vaginal, pois eles produzem peróxido de oxigênio e, quando o pH está muito baixo, ocorre citólise e os sintomas podem surgir. Ainda não são totalmente conhecidos os fatores que estimulam esse desbalanço da microbiota vaginal. 

O quadro clínico da vaginose citolítica inclui, principalmente, corrimento vaginal branco e prurido vulvar, que pioram durante a menstruação. Porém, as pacientes também podem se queixar de:

  • ardência vulvar;
  • disúria;
  • dispareunia. 

No exame especular, observamos corrimento vaginal esbranquiçado, fluído ou com grumos, que pode estar aderido às paredes vaginais. 

Para o diagnóstico, podemos avaliar o pH, que costuma ser ácido, inferior a quatro. Também podemos fazer a bacterioscopia da secreção vaginal, que mostra aumento da quantidade de Lactobacillus, presença de fragmentos celulares decorrentes da lise celular e ausência de leveduras ou esporos, excluindo candidíase, o principal diagnóstico diferencial da vaginose citolítica. 

Como a etiologia da doença ainda não é completamente conhecida, não existe um tratamento específico para essa condição. Contudo, recomenda-se o uso de medidas para tornar o ambiente vaginal mais alcalino, como aplicação de bicarbonato de sódio em duchas vaginais, sobretudo antes da menstruação.

Causas pouco frequentes de vaginite e vaginose

Confira, agora, algumas causas pouco comuns de vaginite e vaginose:

  • Vaginite atrófica: acomete pacientes no climatério e é decorrente do hipoestrogenismo;
  • Vaginite lactacional: acomete lactantes e também é decorrente do hipoestrogenismo;
  • Vaginite irritativa: ocorre pelo uso de medicamentos ou cosméticos irritantes para a mucosa vaginal;
  • Vaginite alérgica: é decorrente da hipersensibilidade a medicamentos, látex ou cosméticos;
  • Vaginite descamativa inflamatória: pode ocorrer nos casos de líquen plano;
  • Vaginite autoimune: pode ocorrer em algumas doenças auto-imunes;
  • Vaginite por corpo estranho: ocorre principalmente na infância;
  • Vaginite psicossomática: acomete pacientes psiquiátricas.

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Para resumir o tópico relacionado à vaginite e vaginose

Galera, as vaginites e vaginoses causam corrimento vaginal e são o principal motivo que fazem as pacientes buscarem atendimento ginecológico, podendo ser responsáveis por, aproximadamente, um terço das consultas ginecológicas. 

Portanto, temos que conhecê-las e saber que as principais causas de vaginites e vaginoses são: candidíase, vaginose bacteriana e tricomoníase. É muito importante saber as características clínicas de cada uma delas. Além disso, o diagnóstico e o tratamento também devem estar na ponta da língua!

Sobre vaginite e vaginose, é isso!

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Referências

https://www.uptodate.com/contents/approach-to-females-with-symptoms-of-vaginitis?search=vaginite&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1

https://www.febrasgo.org.br/images/arquivos/manuais/Manual_de_Patologia_do_Trato_Genital_Inferior/Manual-PTGI-Cap-06-Vulvovaginites.pdf

https://www.febrasgo.org.br/images/pec/Protocolos-assistenciais/Protocolos-assistenciais-ginecologia.pdf/NOVO_Vaginites-e-Vaginoses.pdf

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MarceloLucchesi Montenegro

Marcelo Lucchesi Montenegro

Paranaense, nascido em Curitiba em 1991. Formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 2016, com residência em Ginecologia e Obstetrícia na UNICAMP, concluída em 2019. Especialização em Ginecologia Endócrina e Reprodução Humana pela USP-RP em 2019 até 2020. Tem experiência como fellow em Reprodução Humana pela clínica NeoVita, em São Paulo (SP). Nada vem de graça, os resultados refletem a sua dedicação! Siga no Instagram: @dr.marcelomontenegro