Nós sabemos que você está obcecado, passa 80% do tempo pensando em quando vai tomar sua vacina da Covid-19 e nos outros 20% você está escolhendo o look para sair bem na foto da vacina. E isso só é possível graças aos esforços de cientistas que trabalham incessantemente, numa “corrida científica” global sem precedentes, com estudos clínicos multicêntricos em andamento ocorrendo em tempo recorde.
Nosso objetivo aqui é destrinchar um pouco sobre as vacinas mais relevantes do momento e atualizar sobre o que está sendo publicado de relevante sobre o assunto. Se você está à procura de informação quente e de qualidade sobre as vacinas mais importantes, se liga no que preparamos para você!
Com base em dados do mês de agosto de 2021, no Brasil, temos cerca de 121 milhões de pessoas imunizadas com ao menos 1 dose de vacina e 51 milhões com ao menos 2 doses, o que corresponde a 57% e a 24% da população brasileira, respectivamente. Demais países como Espanha, Chile, Qatar, Portugal e Canadá já estão bem mais avançados , com cerca de 65% da população completamente imunizada.
Atualmente, estão disponíveis para uso no país as vacinas Coronavac (Sinovac Biotech e Instituto Butantan), Janssen vaccine (Janssen-Cilag), Oxford/Covishield (Fiocruz e AstraZeneca) e Comirnaty (Pfizer e Wyeth). Dentre elas, apenas as duas últimas possuem registro concedido para uso. A Coronavac e a Janssen possuem até o momento apenas o registro de uso emergencial.
Antes que apareçam aqui os “Sommeliers de vacina”, vamos repetir o mantra do SUS: “eu vou tomar a vacina que estiver disponível!” As diferenças entre os imunizantes existem, mas elas não são motivo para nos recusar a receber determinada vacina. Ou pior: orientar de forma incorreta nossos pacientes e familiares sobre as verdadeiras contra indicações. Há muita politização nestes discursos e muita informação falsa rodando pelas redes, então fica esperto para não sair falando bobagem por aí!
As novas tecnologias empregadas em algumas vacinas da Covid-19 são muito inovadoras, utilizando plataformas desenvolvidas por meio de engenharia genética. Isso acabou catalizando o desenvolvimento de vacinas para outras doenças, como a vacina da malária, o que será tema para um próximo post. Até o momento, estão em ensaio clínico de fase 3 vacinas para a Covid-19 feitas de RNA, DNA, vetores virais não replicativos e vírus inativados.
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Toda nova vacina deve passar por rigorosos processos de estudo. Neste quadro abaixo, disponível no site da Anvisa, podemos compreender melhor como isso acontece:
(A) Pesquisa básica e testes não clínicos
A primeira etapa de testes ocorre em laboratório, utilizando modelos experimentais animais ou meios de cultura. Aqui queremos saber se a vacina possui segurança para começar a ser testada em seres humanos.
(B) Estudos clínicos
Estes são os estudos nos quais a vacina é testada em seres humanos e possuem diferentes fases de teste, de acordo com o número de pessoas e delineamento do estudo.
Fase 1
Nessa fase, testa-se basicamente a segurança da vacina da Covid-19 e as possíveis reações indesejadas, como dor no sítio de aplicação. Ainda nessa fase pode-se testar a imunogenicidade da vacina. Em geral, testa-se em um pequeno grupo de pessoas jovens e saudáveis.
Fase 2
Ainda testando a segurança da vacina, nesta etapa é a hora de avaliar a dose, a forma de vacinação e a capacidade de gerar anticorpos. A vacina é depois administrada a várias centenas de voluntários para continuar a avaliar a sua segurança e capacidade de gerar uma resposta do sistema imunológico. Os participantes nesta fase têm as mesmas características (idade, sexo) que as pessoas a quem a vacina se destina.
Fase 3
A eficácia é a grande questão desse momento: a vacina precisa mostrar a que veio e provar que de fato é capaz de proteger contra a doença. A vacina é administrada a milhares de voluntários – e comparada com um grupo semelhante de pessoas que não receberam a vacina – para determinar se a vacina é eficaz e para estudar a sua segurança num grupo maior de pessoas. Ou seja, é realizado um ensaio clínico de fato, com grupo intervenção (os que recebem a vacina) e o grupo controle (os que recebem o placebo).
Registro
Neste momento, a Anvisa faz uma revisão técnica e rigorosa dos dados de segurança e eficácia, checando os meios de produção da vacina a fim de avaliar sua qualidade. É ela quem dá o sinal verde para que a vacina seja comercializada e disponibilizada no país.
Feita de vírus vivo atenuado, a Coronavac emprega uma tecnologia tradicional e já bem estudada, presente em várias vacinas que constam no programa nacional de imunizações. Ela estimula uma resposta imune à proteína Spike, presente na superfície do vírus e que possui papel fundamental na entrada do vírus na célula, ao se ligar ao receptor ACE2. São necessárias duas doses, com intervalo de 28 dias entre as aplicações. Em um estudo observacional que incluiu mais de 10 milhões de indivíduos no Chile, a eficácia da vacina estimada foi de 70 por cento para prevenir Covid-19 e 86 a 88% para prevenir admissão hospitalar ou morte.
Esta vacina é feita a partir de um vetor de adenovírus de chimpanzé não replicante que expressa a proteína spike. Isso induz o sistema imune do vacinado a produzir anticorpos contra essa proteína, impedindo a entrada do vírus na célula. É administrada com um intervalo de 4 a 12 semanas. Em um estudo pré-print de um ensaio randomizado multicêntrico de fase III, esta vacina teve 70,4% de eficácia (IC95% de 54,8-80,6) na prevenção de Covid-19 sintomático 14 dias após a segunda dose.
Sua aplicação pode causar alguns efeitos adversos leves, com sintomas gripais tais como indisposição, mialgia e febre baixa nos dias seguintes à sua injeção, mas esses sintomas são auto-limitados. A vacina também pode estar associada a um risco extremamente pequeno de eventos trombóticos associados à trombocitopenia, que vamos discutir mais adiante.
Com a comodidade posológica de apenas 1 dose, a vacina da Covid-19 fabricada pela Johnson & Johnson também utiliza a plataforma de um adenovírus não replicante para inocular no corpo humano o material genético da proteína Spike, com o intuito de suscitar uma resposta imune contra este alvo quando o paciente entrar em contato com o vírus.
Essa empresa promete lançar novas vacinas em breve contra outras doenças utilizando a mesma plataforma. A vacina contra o Ebola, recém-aprovada pela Comissão Europeia, é um dos exemplos. Além disso, as candidatas a vacina contra Zika, HIV e o vírus sincicial respiratório (VSR) também estão sendo desenvolvidas.
Em um ensaio de eficácia de fase III, essa vacina, administrada em dose única, teve eficácia de 66,9 por cento (IC95% de 59,0-73,4) na prevenção de Covid-19 moderado a grave, começando em ou após 14 dias após a vacinação.
A vacina da Pfizer e da BioNTech contra a Covid-19 é baseada no RNA mensageiro, ou mRNA. Essa vacina de Covid-19 pode ser desenvolvida e fabricada mais rapidamente do que as tradicionais. A Pfizer selecionou essa tecnologia de vacina baseada em mRNA devido ao seu potencial de alta resposta, segurança e capacidade de rápida produção (Tá passada?). A ideia é que o mRNA sintético dê as instruções ao organismo para a produção de proteínas encontradas na superfície do vírus. Uma vez produzidas no organismo, essas proteínas (ou antígenos) estimulam a resposta do sistema imune resultando, assim, potencialmente em proteção para o indivíduo que recebeu a vacina.
Ainda indisponível no Brasil, foi a vacina de Covid-19 desenvolvida em tempo recorde e muito utilizada na vacinação nos Estados Unidos. Sua plataforma é semelhante à da Pfizer, ou seja, consiste em RNA mensageiro dentro de uma nanopartícula lipídica que irá se apropriar do aparato de síntese proteica celular para induzir a produção da proteína Spike pelos linfócitos, que desencadeiam uma cascata de resposta imunológica. É administrada por via intramuscular em duas doses com 28 dias de intervalo.
Em um estudo de fase 3, esse imunizante demonstrou 94,1 % de eficácia (IC95% de 89,3-96,8) na prevenção de Covid-19 sintomático em ou após 14 dias após a segunda dose
Moçada, sem bocamolismo aqui, hein? As complicações existem sim, mas são extremamente raras! O risco de adoecer é muito maior, portanto, muito cuidado ao contraindicar uma imunização tão importante!
Para fins de farmacovigilância, é considerado efeito adverso da vacina todo e qualquer evento que ocorra em até 30 dias após a aplicação. Vamos destrinchar abaixo as principais complicações descritas até o momento:
Muito se falou nos veículos de imprensa sobre esse efeito adverso preocupante das vacinas, o que levou algumas pessoas, inclusive médicos, a temerem pela aplicação da vacina da Covid-19.
Notou-se através de notificações de farmacovigilância que alguns pacientes que receberam a vacina da Covid-19 desenvolvida pela AstraZeneca desenvolveram uma síndrome protrombótica. Alguns indivíduos que receberam a vacina da Janssen também desenvolveram a doença. Esse efeito adverso foi denominado “trombocitopenia trombótica imunológica induzida por vacina (VITT)”. A fisiopatologia desta doença lembra muito a trombocitopenia induzida por heparina (HIT).
O VITT é causado por anticorpos da classe IgG que reconhecem o fator plaquetário 4 (PF4) ligado às plaquetas. Ocorre então a formação de imunocomplexos e consumo de plaquetas, culminando no quadro clínico paradoxal de trombocitopenia e trombose. Descrevendo assim, parece de fato um pouco complicado de entender, mas se liga nessa imagem:
A princípio, as vacinas envolvidas neste efeito adverso grave são as vacinas Astrazeneca e Janssen.
O tratamento desta entidade clínica consiste basicamente em administrar ao paciente imunoglobulina e anticoagulantes orais diretos, como o fondaparinux, por exemplo. É muito importante evitar o uso de heparina! Ao anticoagular o doente com heparina, podemos jogar lenha na fogueira deste processo de autoimunidade, piorando o quadro clínico de formação de imunocomplexos.
A FDA (Food and Drug Administration) emitiu recentemente um alerta sobre a possibilidade de associação entre as vacinas de Covid-19 que utilizam a plataforma de RNA mensageiro (Pfizer e Moderna) e surgimento de miocardite, principalmente em adolescentes e adultos jovens. Até o momento, nenhum caso fatal foi reportado, sendo a maioria dos casos composta de casos leves. No Brasil, ainda não foi relatado nenhum evento semelhante em pessoas que tomaram a vacina de Covid-19 produzida pela Pfizer.
Houve associação entre as vacinas de Covid-19 que utilizam a plataforma de adenovirus não replicante com a síndrome de Guillain-Barré, uma polineuropatia aguda imunomediada que cursa com fraqueza muscular progressiva e bastante simétrica acompanhada por reflexos tendinosos profundos ausentes ou deprimidos.
A recomendação atual, ainda carente de boas evidências, é de que se evite as vacinas de Covid-19 que utilizam essa plataforma (Janssen e Astrazeneca) em indivíduos com histórico pessoal de Guillain-Barrè.
Galera, não se esqueçam. A vacinação em massa é a maior promessa para que seja possível retornar à nossa vida pré-pandemia. Quando chegar sua vez, não deixe de tomar todas as doses. Aproveita e tira aquela selfie bonita e posta nas redes sociais pra incentivar seus amigos a se vacinarem também!
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Capixaba, nascida em Vitória em 1995. Formada pela Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM) em 2020. Residência em Infectologia no Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Apaixonada por aprender e ensinar todos os dias.
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