Confira os aspectos bioquímicos na fisiopatologia da anemia falciforme

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Fala, pessoal! Tudo bem por aí? Hoje é dia de falar sobre os aspectos bioquímicos na fisiopatologia da anemia falciforme. Se interessou pelo assunto? Então, continue a leitura com a gente!

Para começar a falar sobre a fisiopatologia da anemia falciforme…


A anemia falciforme é uma doença genética que promove uma anormalidade da hemoglobina, caracterizada por hemoglobinas em forma de foice e anemia crônica causada pela destruição excessiva desses glóbulos vermelhos anormais, o que gera toda a sintomatologia envolvida na doença. 

Apenas o paciente homozigoto pode ser denominado como portador da anemia falciforme. O paciente heterozigoto tem um traço falcêmico, e basta ter uma mutação, a hemoglobina S (HbS), para ser dito como portador da doença falciforme. 

De modo geral, além da anemia crônica, as diferentes formas de doenças falciformes caracterizam-se por numerosas complicações que podem afetar quase todos os órgãos e sistemas, com expressiva morbidade, redução da capacidade de trabalho e da expectativa de vida. 

Além das manifestações de anemia crônica, o quadro é dominado por episódios de: 

  • dores osteoarticulares;
  • dores abdominais;
  • infecções e enfartes pulmonares;
  • retardo do crescimento e maturação sexual;
  • acidente vascular cerebral;
  • comprometimento crônico de múltiplos órgãos, sistemas ou aparelhos.

Aspectos bioquímicos


As células em forma de foice são frágeis e se fragmentam facilmente. Também são rígidas, e por isso elas têm dificuldade para fluir pelos vasos sanguíneos menores (capilares). 

Essas células anormais se tornam mais numerosas quando as pessoas têm infecções ou baixos níveis de oxigênio no sangue. O bloqueio do fluxo sanguíneo e redução do fornecimento de oxigênio para tecidos nas áreas nas quais os capilares estão bloqueados pode causar diversas consequências. 

A hemoglobina é uma proteína transportadora de oxigênio, é produzida nas mitocôndrias das células vermelhas e armazenada e transportada pelas hemácias. É constituída por 4 globinas combinadas individualmente a uma porção heme. 

Cada globina é denominada por uma letra do alfabeto grego (alfa, beta, gama, delta). A porção heme é formada por quatro anéis aromáticos de protoporfirinas, com um ferro ferroso ao centro, que é capaz de se ligar ao oxigênio, permitindo a ligação de quatro moléculas de oxigênio para cada hemoglobina. 

O normal é que o indivíduo possua a maioria (97%) das suas hemoglobinas sejam A1 (2 cadeias alfa e 2 cadeias beta), 2% seja de hemoglobina A2 (2 alfas e 2 deltas) e 1% seja de hemoglobina fetal (duas alfas e duas gamas).


O aspecto bioquímico envolvido na doença ocorre com a substituição de adenina por timina (GAG->GTG), que codifica valina ao invés de ácido glutâmico, na posição 6 da cadeia da globina beta, com produção de hemoglobina S (HbS). 

Esta pequena modificação estrutural é responsável por profundas alterações nas propriedades físico-químicas da molécula da hemoglobina no estado desoxigenado. 

Estas alterações culminam com um evento conhecido como falcização, que é a mudança da forma normal da hemácia para a forma de foice, como já foi dito, resultando em alterações da morfologia dos glóbulos vermelhos e da membrana eritrocitária. 

O processo primário deste evento é a polimerização ou gelificação da desoxiHbS. Sob desoxigenação, devido à presença da valina na posição 6, estabelecem-se contatos intermoleculares que seriam impossíveis na hemoglobina normal. 

Estes contatos dão origem a um pequeno agregado de hemoglobina polimerizada. A polimerização progride, com adição de moléculas sucessivas de HbS à medida que a porcentagem de saturação de oxigênio da hemoglobina diminui. 

Os agregados maiores se alinham em fibras paralelas, formando um gel de cristais líquidos chamados tactóides. A falcização dos eritrócitos ocorre pela polimerização reversível da HbS dentro da célula, sob condições de desoxigenação. 

Sob completa desoxigenação formam-se células em forma de foice, clássicas da anemia falciforme. Sob desoxigenação parcial podem existir pequenas quantidades de polímeros sem anormalidades morfológicas visíveis. 

A quantidade de polímeros aumenta progressivamente com a desoxigenação, até que as células vermelhas assumem a forma de foice.

Este fenômeno é reversível com a oxigenação, desde que a membrana da célula não esteja definitivamente alterada. Quando isto ocorre formam-se os eritrócitos irreversivelmente falcizados, que permanecem deformados independentemente do estado da HbS intracelular. 

As propriedades morfológicas das células falciformes são determinadas pela extensão da polimerização da HbS. Os polímeros, por serem viscosos, diminuem a deformabilidade dos eritrócitos, diminuindo o seu trânsito através da microcirculação. 

Vários fatores influenciam o grau de polimerização da desoxiHbS nas células vermelhas: a porcentagem de HbS intracelular, o grau de desidratação celular, a concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM), o tempo de trânsito dos glóbulos vermelhos na microcirculação, a composição das hemoglobinas dentro das células (% de HbS e % de Hb não-S), o pH, entre outros. 

Em geral, quanto maior a quantidade de HbS, mais grave é a doença. Os pacientes homozigóticos para HbS têm quadro clínico, em geral, mais grave do que os pacientes com hemoglobinopatia SC, SD, SOarab etc. A associação com persistência hereditária de hemoglobina fetal confere melhor prognóstico à doença. 

Além disso, a desidratação celular aumenta a concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM), facilitando a falcização, já que aumenta a possibilidade de contato.

Dito tudo isso, é fundamental que se saiba que a polimerização da hemoglobina anormal (HbS) é o cerne da fisiopatologia da anemia falciforme, uma vez que o eritrócito perde a sua capacidade de se deformar e, consequentemente, há inflamação e obstrução vascular no indivíduo acometido pela doença. 

Além disso, essas células possuem menor tempo de vida, o que contribui para a hemólise, outra complicação decorrente da doença. 

A vaso-oclusão, uma das complicações mais comuns na anemia falciforme, ocorre em geral na microcirculação, mas também pode acometer grandes artérias dos pulmões e do cérebro. É causada não só pelas hemácias, mas também por leucócitos ativados, plaquetas, óxido nítrico, células endoteliais e proteínas plasmáticas. 

Curtiu saber mais sobre o assunto?

Espero ter esclarecido as dúvidas em torno da fisiopatologia da anemia falciforme. Aqui no nosso blog, disponibilizamos uma série de conteúdos que podem fazer a diferença na sua prática médica, tanto com foco em Medicina de Emergência quanto na preparação para as provas de residência médica, então continue de olho!

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Hoje ficamos por aqui, pessoal! Até a próxima!

Auxiliou para a produção do texto: Karina Hayama

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AnuarSaleh

Anuar Saleh

Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.