Hora de tratar de um assunto polêmico: o chip da beleza! Esse é um implante hormonal que ainda não tem autorização da Anvisa e acumula várias contraindicações de organizações importantes, como a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBEM), o Endocrine Society (Sociedade de Endocrinologia Americana) e o American Menopause Society (Sociedade Americana de Menopausa – NAMS).
Ainda assim, muitos médicos ainda indicam o implante para suas pacientes. Por isso, é importante entender exatamente do que ele se trata, se existem benefícios reais com seu uso e quais são os efeitos colaterais comuns. Talvez seja hora de repensar essa prescrição, e é por isso que a gente decidiu propor uma reflexão a respeito.
Então, vamos lá? A seguir você pode tirar suas dúvidas e descobrir como ele atua no organismo feminino.
O chip da beleza nada mais é do que um implante subdérmico bioabsorvível, também chamado de pallet. Ele abriga um único hormônio ou mais, e seu tamanho varia entre 3 e 5 centímetros. Apesar do nome, o implante hormonal não tem nada a ver com os microdispositivos eletrônicos tão comuns na tecnologia.
A cápsula, composta pelo mesmo silicone utilizado em próteses, é colocada no subcutâneo. Normalmente no braço ou no glúteo, mas em alguns casos, no abdômen ou no dorso. Para essa inserção é preciso realizar uma anestesia local na paciente.
A partir desse momento, o chip começa a liberar os hormônios no corpo da paciente e a fazer efeito. O pequeno corte feito na pele se cura com o tempo, e não é muito profundo, então isso acontece relativamente rápido com os cuidados certos.
O implante conta com paredes porosas para que os hormônios continuem a se espalhar continuamente. Essa movimentação pode ser de 5 meses até 3 anos, dependendo da composição de hormônios da cápsula.
Não é preciso se preocupar com inserções frequentes. Depois de colocado, o chip não requer manutenção e só é retirado depois do tempo pré-determinado para sua atuação. Então, um novo dispositivo é colocado, por meio do mesmo procedimento.
A verdade é que não existe nenhum grande segredo nesse funcionamento. Ele simplesmente exerce sua função por conta própria assim que se encontra no subcutâneo, sem maiores interferências.
O chip da beleza tem em sua receita a gestrinona e os esteroides androgênicos. Essa combinação tem como finalidade promover os seguintes benefícios:
A escolha dessa composição não foi feita por acaso. A gestrinona é a grande responsável por reduzir a globulina de ligação de hormônios sexuais (SGBG). Sendo assim, a testosterona em sua forma livre se multiplica, e, como consequência, a ação muscular de anabolizantes corporais, como a oxandrolona, além da própria testosterona, é potencializada.
Além disso, outros hormônios podem ser encontrados a depender do tipo de implante escolhido. Por exemplo, nestorone, estradiol, levonorgestrel, nomegestrol, entre outros.
Os implantes contribuem com uma vantagem importante para a saúde das pacientes. Em comparação a pílulas de uso oral, eles apresentam uma hepatotoxicidade mais baixa. Além disso, as chances de trombose caem drasticamente.
Isso acontece porque o chip não navega pelo organismo. Dessa maneira, os hormônios não passam pelo fígado primeiro. Ao pensar nessa questão, é a forma de tratamento que se torna mais interessante e efetiva quando o assunto é obter resultados.
Como as aplicações ocorrem em períodos mais prolongados, a paciente costuma apresentar uma adesão mais positiva ao tratamento. Afinal, ela não precisa se preocupar com o horário certo de tomar a pílula anticoncepcional todos os dias e há mais garantia de efeito.
Para completar, vale lembrar que o chip da beleza foi criado inicialmente com a intenção de contribuir para o tratamento da endometriose. Por isso também a escolha da gestrinona como composto principal, já que ela conta com propriedades antiestrogênicas, androgênicas e antiprogestogênicas.
Como isso, consegue inibir a produção de gonadotrofinas da hipófise, que resulta na contracepção. Por interromper o ciclo menstrual, é uma forma de tratar casos leves e mais complexos de endometriose.
O conteúdo dos implantes é totalmente customizável. Por isso, ele pode ser alterado com diferentes hormônios, pensando em diferentes necessidades. Contudo, há um risco real de sub ou superdosagem, se considerarmos que a dose exata para um paciente normalmente é subjetiva.
Ainda é importante ressaltar que a análise laboratorial não aceita interferências diretas em relação à quantidade da reposição que será feita. Portanto, tudo depende da orientação do médico.
Mesmo que a maioria dos hormônios usados em um implante hormonal sejam denominados como bioidênticos e isomoleculares, não há qualquer garantia de que que efeitos colaterais não aconteçam. Entre os mais comuns, estão:
A falta de autorização da Anvisa se dá pelo fato de que a gestrinona é um hormônio de condições sintéticas. Portanto, não existe qualquer evidência científica que comprove sua qualidade e segurança a longo prazo.
E então, gostou de saber um pouco mais sobre o chip da beleza? Como você pode ver, a recomendação depende bastante da necessidade e da condição da paciente, mas também envolve totalmente o bom senso do médico, e é isso o que faz dele tão polêmico. Por isso, é importante continuar a se informar sobre ele, além de aguardar pela avaliação da Anvisa, que pode autorizar de vez ou banir o implante.
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Paulista, nascido em Americana em 1995. Formado pela Universidade de Brasília em 2019. Residência em Ginecologia e Obstetrícia no HC-FMUSP. Sucesso é o acúmulo de pequenos esforços repetidos dia a dia. Siga no Instagram: @danielgodamedway