Como reconhecer a miocardite no ECG: saiba mais!

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“A jornada de mil quilômetros começa com o primeiro passo.” E é com essa frase que iniciamos hoje mais um texto sobre eletrocardiograma. Pessoal, sei que muitas vezes esse assunto é temido, mas estamos aqui para te dar o primeiro passo na jornada de aprender a miocardite no ECG e quais são suas principais alterações eletrocardiográficas.

Bora lá? 

Para começar a falar sobre a miocardite no ECG

A miocardite é uma doença inflamatória caracterizada por infiltrados inflamatórios no miocárdio, que são associados à degeneração e necrose dos miócitos de origem não isquêmica. Esta última pode ser induzida por vários fatores, como infecções, doenças autoimunes e toxinas. 

Devido ao diagnóstico desafiador, em que não há apresentação clínica patognomônica e a doença mimetiza uma variedade de doenças miocárdicas não inflamatórias, é uma patologia com alta morbidade e mortalidade.

As manifestações clínicas da miocardite são heterogêneas e podem variar em diferentes quadros clínicos, dentre eles: 

  • curso assintomático;
  • apresentação com dor torácica simulando infarto do miocárdio (miocardite semelhante à síndrome coronariana aguda);
  • apresentação com sintomas e sinais de insuficiência cardíaca;
  • apresentação com risco de vida com choque cardiogênico e/ou arritmias malignas (miocardite fulminante).

Por ser a ferramenta de triagem inicial, traremos aqui as principais alterações eletrocardiográficas dos pacientes com miocardite, pois esses dados podem ser muito úteis na prática clínica para uma abordagem personalizada para o paciente. 

Com eles, é possível decidir a terapia apropriada, tempo de hospitalização e frequência de acompanhamento.

Alterações eletrocardiográficas da miocardite 

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Agora, fiquem com as alterações eletrocardiográficas da miocardite: 

  • Baixa voltagem QRS generalizada: principalmente em paciente com derrame pericárdico, como resultado do aumento da resistência do líquido acumulado.
  • Ondas Q patológicas: mesmo sendo consideradas alterações típicas do infarto agudo do miocárdio, também podem estar presentes na miocardite. O desaparecimento precoce das ondas Q sugere uma lesão miocárdica reversível e a resolução do processo inflamatório. No entanto, a presença de ondas Q patológicas tem sido associada a um pior prognóstico na miocardite fulminante, especialmente quando associada à elevação do segmento ST.
  • Atrasos ou bloqueios do sistema de condução, como bloqueio atrioventricular (AV) e bloqueio de ramo esquerdo e direito — a prevalência do complexo QRS largo na miocardite é variável e dependente da gravidade da apresentação clínica.
  • A elevação do segmento ST é a alteração ST mais comum na miocardite aguda, embora a depressão ST também seja possível.
Miocardite no ECG - imagem 1
Figura 1: Possíveis padrões de supradesnivelamento do segmento ST na miocardite aguda. Fonte: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7958927/#anec12726-bib-0042

A elevação do segmento ST representa um dilema diagnóstico devido ao amplo diagnóstico diferencial, incluindo a síndrome coronariana aguda. 

Miocardite no ECG: fica a dica!

Os fatores clínicos que auxiliam no diagnóstico de miocardite incluem:

  •  Idade < 40 anos;
  •  Queixa de doença viral recente;
  • Alterações de ECG de evolução lenta envolvendo mais de um território vascular;
  • Anormalidades difusas ou ausentes de movimento da parede no ecocardiograma.
  • Arritmias: a anormalidade eletrocardiográfica mais comum na miocardite é a taquicardia sinusal associada a alterações inespecíficas da onda ST/T. A taquicardia sinusal reflete principalmente o grau de inflamação sistêmica e comprometimento hemodinâmico. Além da taquicardia sinusal, fibrilação atrial e flutter atrial podem acontecer. Por sua vez, as arritmias ventriculares são uma importante causa de morte súbita cardíaca na miocardite. 
Figura 2: Exemplo de miocardite arrítmica aguda. A arritmia na apresentação é fibrilação ventricular.
Figura 2: Exemplo de miocardite arrítmica aguda. A arritmia na apresentação é fibrilação ventricular. Fonte: https://www.heartrhythmjournal.com/article/S1547-5271(18)31169-X/fulltext
  • Prolongamento do intervalo QT: a identificação de um intervalo QT prolongado é muito importante porque representa um potencial gatilho arritmogênico.
  • Ondas T: a alteração da onda T mais comum na miocardite aguda é a inversão da onda T. 
Miocardite no ECG - imagem 3
Figura 3: Eletrocardiograma de paciente com perimeiocardite. Ele mostra o seguinte: depressão do segmento PR nas derivações inferiores e V2-V6, elevação do segmento PR em aVR, elevação ST nas derivações inferiores e V1-V3 e inversão da onda T nas derivações I, II, aVL e V3-V6. Fonte: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22537332/

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Referências

Song YJ, Seol SH, Song YS, Park J, Kim KH. Prognostic implications of the electrocardiographic findings in acute myocarditis: Which is the strongest one?. Indian Heart J. 2021;73(1):121-124. doi:10.1016/j.ihj.2020.12.016

Porela P, Kytö V, Nikus K, Eskola M, Airaksinen KE. PR depression is useful in the differential diagnosis of myopericarditis and ST elevation myocardial infarction. Ann Noninvasive Electrocardiol. 2012;17(2):141-145. doi:10.1111/j.1542-474X.2012.00489.xPeretto, G., Sala, S., Rizzo, S., De Luca, G., Campochiaro, C., Sartorelli, S., … Della Bella, P. (2018). Arritmias na Miocardite: Estado da Arte. Ritmo do coração. doi:10.1016/j.hrthm.2018.11.024

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AmandaMazetto

Amanda Mazetto

Formação em Medicina na Universidade Nove de Julho pelo FIES. Pesquisa no Instituto do Coração de São Paulo da Faculdade de Medicina da USP.