Fala meu povo, tudo bem com vocês? Hoje nossa conversa é sobre o manejo clínico no DPOC exacerbado. Essa é uma condição caracterizada por uma piora aguda dos sintomas respiratórios de base do paciente com DPOC.
É um quadro recorrente em UPA e PS, com que vocês com certeza irão se deparar, mais cedo ou mais tarde. E saber tratar corretamente será um divisor de águas. Respira fundo e vamos juntos!
Não tem como nos jogarmos diretamente no manejo clínico sem antes compreendermos, pelo menos, o básico sobre DPOC. Então, vamos nessa!
A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma patologia caracterizada por limitação do fluxo de ar e acomete mais de 5% da população, com importante morbidade e mortalidade.
Durante um episódio de DPOC exacerbado ocorre uma piora aguda dos sintomas crônicos, além da variação normal do dia a dia ou então uma maior necessidade de uso de medicações sintomáticas do que o habitual.
Importante ter em mente que a descompensação do DPOC é comum e que em 10 anos apenas 25% dos pacientes não apresentam nenhum episódio de exacerbação. Dentre os pacientes que recebem alta hospitalar, cerca de 64% necessita de uma nova internação.
Abaixo, imagem ilustrativa com alvéolo e brônquio normais à esquerda e com DPOC à direita (alvéolos com enfisema e com estrutura comprometida e brônquio com inflamação e muco)
O paciente com DPOC exacerbado costuma se apresentar com sintomas respiratórios e há diversos sinais e sintomas que acabamos vendo na prática.
Mas colocando os pingos nos is, a definição de DPOC exacerbado é a presença de pelo menos 1 dos sintomas cardinais. E quais são eles?
Infecção (70%) – H. influenzae / S. pneumoniae / M. catarrhalis / Vírus |
Má adesão ou técnica incorreta |
Broncoespasmo |
Tromboembolismo pulmonar |
Hipertensão pulmonar |
Edema pulmonar |
Infarto agudo do miocárdio |
Arritmias |
Fatores ambientais (poluição / alteração de temperatura) |
Finalmente! Chegamos no lugar que todo mundo estava esperando. Bora falar sobre o manejo clínico no DPOC exacerbado galera.
Fonte: Banco de imagens – Shutterstock
Broncodilatadores:
O tratamento inicial envolve o uso de broncodilatadores beta-2-agonistas de curta ação (exemplo: Salbutamol e Fenoterol). Em casos mais graves podemos associar um anticolinérgico de curta ação (exemplo: ipratrópio).
Exemplo prático:
Os benefícios do corticoide nesses cenários são a melhora do fluxo aéreo e dos sintomas, bem como uma redução no tempo de internação e de falha terapêutica.
Em termos de via de administração, a via oral é equivalente à via endovenosa, ou seja, a prioridade será por VO, deixando a EV para os casos de não resposta ou pacientes que não conseguem tomar medicamentos.
Indo além, por quanto tempo manter a corticoterapia? O estudo REDUCE respondeu esta pergunta e mostrou que não há diferença significativa entre manter por 5 ou 14 dias.
Exemplo prático: Prednisona 40 mg/dia VO – por 5 dias ou Metilprednisolona 60 mg EV – 1-4x/dia – por 5 dias.
Muita calma nessa hora! Nem todo paciente com DPOC exacerbado deve receber antibioticoterapia; repito, nem todo paciente deve receber ATB!
Mas então para quem o antibiótico estará indicado?
Pacientes com DPOC exacerbado que tenham pelo menos 2 sintomas cardinais (relembrando: piora da dispneia / aumento do volume do escarro / escarro mais purulento).
Exemplo prático. Qual antibiótico usar? Depende.
Informação mais importante aqui: Meta de saturação de O2 = 88-92%. Ué, como assim?
Entenda o conceito e nunca mais vai esquecer: pacientes com DPOC apresentam áreas pulmonares comprometidas (com enfisema, por exemplo) e que não conseguem ser ventiladas.
Por conta disso, naturalmente já apresentam uma concentração de CO2 (pCO2) mais elevada. O nosso corpo, nesse estado de pCO2 elevado, faz uma vasoconstrição fisiológica e, consequentemente, manda menos sangue para as áreas acometidas; e o resultado, é um direcionamento do fluxo sanguíneo para as áreas mais ventiladas (“sadias”).
Sim, o corpo humano é incrível! No entanto, quando ofertamos muito oxigênio (com níveis superiores de 92%) a gente acaba ventilando essas áreas acometidas pelo DPOC e o fluxo de sangue deixa de priorizar as áreas boas.
A consequência disso é que o sangue acaba não sendo oxigenado corretamente e aumenta o ácido carbônico (CO2) e o nosso paciente sofre rebaixamento do nível de consciência.
Bom, mas é claro, como já falado, a meta é entre 88-92%, portanto se tiver abaixo devemos ofertar O2 para o nosso paciente. Para isso existem diversas formas, tais como:
E quais as indicações de VNI?
No entanto, às vezes é necessária. Vamos ver as indicações?
Paciente chegou no hospital com uma exacerbação do DPOC e deve sair de lá compensado, mas mais do que isso, bem orientado!
Faz parte do manejo clínico do paciente com DPOC exacerbado orientar sobre:
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Bons estudos!
Gaúcho, de Pelotas, nascido em 1997 e graduado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Residente de Clínica Médica na Escola Paulista de Medicina (UNIFESP). Filho de um médico e de uma professora, compartilha de ambas paixões: ser médico e ensinar.