Quando um paciente chega à emergência com suspeita de acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi), cada minuto conta. A identificação rápida da extensão da lesão isquêmica é fundamental para definir a melhor abordagem terapêutica, e é aí que entra o Escore ASPECTS (Alberta Stroke Program Early CT Score).
Criado para avaliar de forma estruturada as alterações iniciais no cérebro por meio da tomografia computadorizada sem contraste, o ASPECTS se tornou uma ferramenta indispensável na prática neurológica.
Neste artigo, vamos explorar tudo o que você precisa saber sobre o Escore ASPECTS: como ele funciona, quais regiões do cérebro são analisadas, suas vantagens e limitações, além de seu impacto no manejo do AVC isquêmico.
Vamos lá?
O Escore ASPECTS (Alberta Stroke Program Early CT Score), criado no ano de 2000, é uma ferramenta fundamental na avaliação inicial de pacientes com suspeita de AVC isquêmico (AVCi).
Ele é um sistema de pontuação quantitativa desenvolvido para avaliar a extensão da lesão isquêmica no território da artéria cerebral média (ACM), utilizando imagens de tomografia computadorizada (TC) sem contraste.
Vale reforçar que esse ASPECTS que estamos falando é uma ferramenta exclusiva para AVCi de ACM (no final do artigo vocês irão entender o porquê desta informação ser relevante).
A principal função do ASPECTS é identificar a presença e a extensão de alterações precoces no parênquima cerebral, como edema citotóxico e perda de diferenciação entre substância cinzenta e branca, que são indicativos de isquemia cerebral. Essas alterações são frequentemente sutis e podem ser difíceis de detectar sem um sistema de pontuação estruturado.
O Escore ASPECTS divide o território vascular da ACM em 10 regiões específicas, cada uma representando uma área funcionalmente importante do cérebro. Essas regiões são divididas em dois grupos: cortical e subcortical.
8. Cápsula Interna Posterior
9. Núcleo Caudado
10. Lobo Temporal
Cada uma dessas regiões é avaliada quanto à presença de sinais precoces de isquemia. Se uma região apresenta alterações isquêmicas, ela recebe uma pontuação de 0. Se não há alterações, a pontuação é 1. O escore total varia de 0 a 10, onde 10 indica ausência de lesão isquêmica e 0 indica envolvimento de todas as regiões.
O Escore ASPECTS tem várias funções importantes no manejo do AVC isquêmico agudo:
As diretrizes de 2019 da American Heart Association/American Stroke Association (AHA/ASA) recomendaram o tratamento com trombectomia mecânica apenas para pacientes com ASPECTS ≥6. No entanto, estudos subsequentes descobriram que a trombectomia mecânica melhora os resultados para pacientes com AVCi da ACM que têm um grande núcleo isquêmico (por exemplo, definido por um ASPECTS 3 a 5 ou por um volume de núcleo ≥50 mL).
Agora, vamos conferir as vantagens e limitações dessa ferramenta:
O Escore ASPECTS é uma ferramenta valiosa no manejo inicial de pacientes com AVCi da ACM. Sua capacidade de quantificar a extensão da lesão isquêmica de forma rápida e confiável o torna essencial para a tomada de decisão clínica, especialmente no contexto de terapias de reperfusão.
A compreensão e aplicação adequada do Escore ASPECTS podem contribuir significativamente para melhorar os desfechos dos pacientes com AVCi de ACM, reduzindo sequelas e melhorando a qualidade de vida. Portanto, é fundamental que os profissionais de saúde envolvidos no atendimento de AVC estejam familiarizados com essa ferramenta e suas nuances.
O AVCi também pode ocorrer no território posterior do cérebro, que é suprido pelas artérias vertebrobasilares. Para abordar essa necessidade, recentemente foi desenvolvida uma adaptação do ASPECTS, conhecida como PC-ASPECTS (Posterior Circulation ASPECTS). Este escore é especificamente projetado para avaliar a extensão da isquemia no território posterior, que inclui o tronco encefálico, o cerebelo e os lobos occipitais.
Essas são as principais informações que você precisa saber sobre o Escore ASPECTS. Para acompanhar mais conteúdos médicos, além de dicas de estudos para a residência médica, fique de olho aqui, no nosso blog!
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Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Residência Médica em Clínica Médica pela Unicamp.