Tem vontade de fazer estágio no exterior durante a residência? Se sim, saiba que essa é uma ótima escolha para sua carreira médica! A experiência que você tem lá fora pode agregar em vários aspectos da prática, além de mostrar uma realidade diferente da que a gente vivencia por aqui.
Esse assunto é tão interessante, que inclusive foi tema do episódio 6 do podcast Papo de Clínica, parceiro da Medway. O bate-papo contou com a participação de Dante e Rafael, cofundadores do podcast, que tiveram a oportunidade de estagiar em outros países: Dante, na Nova Zelândia e Rafael na Harvard Medical School, nos EUA.
E, como sempre, a gente traz o resumão dessa conversa por aqui, para adiantar alguns pontos importantes sobre o tema. Bora lá?
E então, como foi a experiência dos meninos com o estágio no exterior? Durante o R4 de UTI, Dante tinha direito a um estágio eletivo.
Ele decidiu procurar UTIs na Nova Zelândia e na Austrália, reconhecidas mundialmente. Após enviar e-mails para hospitais em ambos os países, foi aceito no Auckland City Hospital, na Nova Zelândia. Lá, ele trabalhou na CVICU (Cardiovascular Intensive Care Unit), a UTI de Cirurgia Cardíaca, que é o único centro de ECMO da Nova Zelândia. Isso proporcionou a Dante uma experiência valiosa, complementando seu conhecimento adquirido durante a residência.
Rafael, por sua vez, realizou seu estágio eletivo durante a residência em Clínica Médica no HC da USP, durante o R2. Na residência de Clínica da USP, existem dois estágios eletivos, que podem ser feitos no R1 e no R2. No R2, Rafael foi para um laboratório de neuromodulação na faculdade de medicina de Harvard, em Boston.
Graças à parceria histórica entre as faculdades de medicina da USP e de Harvard, e ao fato de que o chefe do laboratório tinha sido residente de neurologia no HC, ele teve uma conexão facilitada. Com a ajuda da coordenadora da residência médica, que organizou e viabilizou o estágio, Rafael passou 30 dias em um estágio observacional focado em pesquisa, adquirindo uma experiência extremamente rica.
Ambos realizaram estágios observacionais. Dante acompanhava os residentes e médicos, mas não tinha permissão para realizar procedimentos ou preencher documentos. Ele contribuía lendo prontuários e verificando exames, além de observar alguns procedimentos inéditos para ele.
O estágio de Rafael também foi observacional, mas com um foco em pesquisa. Sua rotina era tranquila, com atividades no laboratório. Esse estágio foi valioso para a discussão de metodologias científicas e proporcionou a oportunidade de trabalhar com pessoas de diferentes nacionalidades.
E como eles conseguiram um estágio no exterior? Bom, o Dante enviou e-mails para várias UTIs na Austrália e na Nova Zelândia, sendo aceito em uma unidade na Nova Zelândia. Por outro lado, Rafael, conforme mencionado, conseguiu seu estágio através da própria faculdade. Sua professora entrou em contato com Harvard, e então Rafael continuou a comunicação com o professor responsável pelo estágio lá.
Se a instituição do aluno tem parcerias com locais no exterior, essa pode ser uma excelente alternativa, pois o processo tende a ser mais simples do que enviar e-mails individualmente, por exemplo.
Mas ainda existem algumas dicas valiosas que podem agilizar sua jornada para conquistar essa oportunidade. Veja só!
Para quem está no internato ou no R1 e deseja fazer estágio em outro país, o ideal é começar a economizar dinheiro com 1 a 2 anos de antecedência. Além disso, é crucial planejar com bastante antecedência as passagens, visto, seguro, hospedagem e toda a documentação necessária. Todo esse processo é demorado, e o próprio processo seletivo (se houver) também pode demandar um tempo significativo.
Antes de optar por um estágio em outro país, é essencial conhecer a língua local. Dante, por exemplo, tinha um bom nível de inglês, mas enfrentou dificuldades na Nova Zelândia devido ao sotaque diferente e ao uso de alguns termos desconhecidos para ele. Portanto, além de ter um bom nível de inglês, é importante que o aluno se familiarize com as particularidades da língua local antes de viajar para o país.
E em relação ao dinheiro, quanto você gastaria para ir estagiar fora? Isso depende do destino escolhido pelo estudante. A Nova Zelândia, por exemplo, é um país caro, com preços mais altos. Dante estima que gastou cerca de 16/17 mil reais apenas com o estágio naquela época (2018/2019), sem contar as despesas turísticas. Uma das grandes desvantagens do estágio observacional é o custo financeiro, já que o aluno precisa cobrir todas as suas despesas.
Rafa, por sua vez, gastou cerca de 17 mil reais em hospedagem durante os 30 dias que passou em Boston (também uma cidade cara). A experiência completa de 30 dias, incluindo turismo, custou entre 30 e 35 mil reais (em 2019).
Para quem deseja uma experiência mais econômica, é possível reduzir os gastos abrindo mão do turismo e cozinhando em casa, por exemplo. Outra opção é escolher países mais baratos, mas com boa qualidade de saúde. Para UTI, por exemplo, países como Portugal, México e Chile tendem a ser mais acessíveis.
Um estágio internacional pode trazer diversas vantagens, principalmente no que diz respeito à abertura de novas perspectivas e à possibilidade de observar diferentes práticas médicas. Embora o impacto direto no currículo possa ser limitado, a experiência adquirida e a bagagem que pode ser aplicada na prática clínica futura são extremamente valiosas.
Uma das principais contribuições de um estágio em outro país é a oportunidade de ver como diferentes abordagens e condutas médicas também podem ser eficazes. Isso expande a compreensão e a flexibilidade do profissional, permitindo que ele adapte e adote novas práticas conforme necessário. Por exemplo, observar como a equipe médica de outro país lida com determinadas situações pode inspirar mudanças ou melhorias na prática clínica ao retornar ao seu país de origem.
No entanto, é importante reconhecer que o impacto de um estágio observacional no currículo não é tão significativo quanto um estágio prático. O verdadeiro valor está na experiência vivida, na interação com profissionais de diferentes nacionalidades e na exposição a novas técnicas e tecnologias. Essas vivências podem enriquecer a prática clínica ao fornecer novas ferramentas e abordagens que podem ser implementadas no dia a dia do profissional.
Para quem está interessado em saber como são as práticas médicas em outros países e tem condições financeiras para arcar com os custos, um estágio no exterior pode ser uma experiência altamente enriquecedora. É uma oportunidade de vivenciar diferentes sistemas de saúde, aprender novas metodologias e expandir a rede de contatos profissionais. Essas conexões internacionais podem ser úteis no futuro, seja para colaborações em pesquisas, troca de conhecimentos ou até mesmo oportunidades de trabalho.
Além disso, a experiência no exterior pode ajudar a desenvolver habilidades pessoais, como a adaptação a novos ambientes, a resolução de problemas e a comunicação intercultural. Essas habilidades são altamente valorizadas no mundo médico, pois permitem ao profissional lidar melhor com pacientes de diversas origens e colaborar efetivamente com colegas de diferentes culturas.
Outro aspecto a ser considerado é o planejamento financeiro. Estágios no exterior podem ser caros, e é essencial que o profissional esteja preparado para os custos associados, que podem incluir passagens aéreas, hospedagem, alimentação e seguro de saúde. Optar por destinos mais acessíveis ou buscar bolsas de estudo e financiamentos pode ajudar a tornar essa experiência mais viável.
Países como Portugal, México e Chile oferecem boas oportunidades para estágios na área de saúde, muitas vezes com custos mais baixos em comparação a países como Estados Unidos, Reino Unido ou Nova Zelândia. Esses países têm sistemas de saúde bem desenvolvidos e podem proporcionar experiências valiosas sem a necessidade de um investimento financeiro tão alto.
Então, pense bem em seus objetivos e condições. Cada experiência é individual, então vale a pena avaliar com cuidado o que de fato será interessante para você e não simplesmente ir na onda de passar um tempo fora só por passar, certo?
Por fim, a gente deixa mais algumas observações que podem te ajudar nessa vivência. Para começar, vale ressaltar a importância de buscar hospitais de referência da especialidade que você pretende seguir. Assim, você já consegue direcionar melhor suas metas na certeza de ter algo interessante para o futuro.
Também é indispensável que você domine a língua local. Isso é algo que fez a diferença na experiência dos meninos, e que com certeza vai te salvar demais no dia a dia, e, acima de tudo, na própria rotina dentro do hospital.
No mais, é aproveitar! O trabalho é importantíssimo, mas a convivência com as pessoas e o ambiente igualmente é. Então, além de trabalhar ao longo do estágio no exterior, faça passeios, experimente a gastronomia, vá a pontos turísticos… enfim, separe os momentos certos para turistar, porque isso vai acrescentar demais a essa oportunidade.
E então, curtiu saber mais sobre o assunto? Se você está decidido a viver tudo o que viu por aqui e mais um pouco, comece já a procurar sua porta de entrada: saiba mais sobre como ingressar em estágios para estudantes de Medicina no exterior e boa sorte!
Catarinense e médico desde 2015, Djon é formado pela UFSC, fez residência em Clínica Médica na Unicamp e faz parte do time de Medicina Preventiva da Medway. É fissurado por didática e pela criação de novas formas de enxergar a medicina. Siga no Instagram: @djondamedway
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