Morte súbita no esporte: o que é e como acontece

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Definida pela OMS como óbito inesperado em até uma hora do início dos sintomas, a morte súbita no esporte é decorrente de uma interrupção repentina da atividade cardíaca e, consequentemente, colapso hemodinâmico. 

Basicamente, o coração para de bater (ou bate de forma ineficaz, como na taquicardia ventricular sem pulso e na fibrilação ventricular). Colocando em números, ocorre de 0,28 a 1 morte súbita no esporte a cada 100 mil atletas por ano.

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Vamos seguir?

Morte súbita abortada

Nesse cenário, inicialmente, o médico segue o BLS (Suporte Básico de Vida) e o ACLS (Suporte Avançado de Vida Cardiovascular), pois se trata de uma PCR (parada cardiorrespiratória).

  • Na PCR, existem quatro ritmos possíveis: fibrilação ventricular (FV),  taquicardia ventricular (TV) sem pulso, atividade elétrica sem pulso (AESP) e assistolia;
  • FV e TV sem pulso são ritmos chocáveis, ou seja, têm indicação de desfibrilação elétrica;
  • A maioria das mortes súbitas é de ritmos chocáveis (84%). Quanto mais rápido for submetido à desfibrilação, melhor é o prognóstico (sobrevida cai 10% a cada 1 minuto em PCR);
  • Principais medidas: identificação rápida da PCR, RCP precoce com compressões efetivas e desfibrilação precoce;
  • Locais de treinos e competições devem ter um desfibrilador externo automático (DEA) disponível para ser utilizado em menos de cinco minutos.

Procedimentos para morte súbita abortada

Após o episódio de morte súbita no esporte, devem ser tomados os cuidados pós-PCR, bem como uma avaliação minuciosa de um cardiologista, para tentar descobrir a causa do evento e tratá-la se for possível.

Caso tenha sido uma morte súbita por ritmo chocável, há indicação de CDI (cardiodesfibrilador implantável). O aparelho é implantado (ou seja, fica abaixo da pele do paciente com eletrodos posicionados no interior do coração). Ele detecta arritmias malignas e entrega um choque (36J) sempre que for necessário.

A volta ou não do atleta ao esporte após a morte súbita abortada depende de vários fatores discutidos entre o médico e o atleta. É sempre uma decisão difícil de ser tomada. Cabe ao médico explicar ao paciente sobre os riscos de voltar à atividade previamente exercida.

Quais são as possíveis causas de morte súbita no esporte?

O que causa morte súbita? Diversas alterações estruturais e arritmogênicas são responsáveis pelos casos de PCR no atleta, sendo a mais frequente a cardiomiopatia hipertrófica (25-36% dos casos) em esportistas com menos de 35 anos.

O exercício vigoroso associado às cardiopatias ocultas parece ser o que desencadeia a arritmia responsável pela morte súbita no esporte. Confira algumas possíveis causas dessa condição abaixo:

  • origem anômala das artérias coronárias;
  • displasia arritmogênica do ventrículo direito;
  • aortopatia (exemplo: síndrome de Marfan);
  • doença valvar (exemplo: estenose aórtica congênita);
  • síndrome do QT longo congênito;
  • síndrome de Wolff-Parkinson-White;
  • síndrome de Brugada;
  • doença arterial coronariana (principal causa em atletas com > 35 anos)

Existe alguma prevenção da morte súbita no esporte?

Há muita discussão sobre a avaliação pré-participação (APP) em atividades esportivas, tendo em vista a baixa prevalência de morte súbita no esporte e o grande número de atletas. 

A consequência do mal súbito é um elevado número de falsos positivos, ou seja, alterações são encontradas em quem não apresenta nenhuma doença subjacente. Por conta disso, há realização de exames desnecessários, podendo levar a uma iatrogenia.

A American Heart Association (AHA) indica apenas anamnese e exame físico. A Sociedade Europeia de Cardiologia, a Sociedade Brasileira de Cardiologia e a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte também indicam a realização de exames complementares para atletas profissionais.

Anamnese e exame físico

  • Questionário de prontidão para atividade física (PAR-Q) pode ser utilizado sistematicamente;
  • História familiar deve ser investigada e uso de drogas lícitas ou ilícitas deve ser questionado, bem como comorbidades prévias;
  • Sintomas a serem questionados: palpitações, síncope, dor precordial e dispneia;
  • Grau de recomendação I / nível de evidência A.

Laboratoriais e RX de tórax

  • Hemograma, glicemia de jejum, função renal, função hepática, lipidograma, ácido úrico, EQU, EPF, sorologias para Chagas (se a epidemiologia for compatível);
  • RX de tórax (PA + perfil);
  • Grau de recomendação I / nível de evidência B.

Eletrocardiograma

A prática esportiva promove alterações morfofuncionais no coração, demonstráveis no ECG de repouso. Saber diferenciar as alterações fisiológicas das patologias é importante para evitar uma possível desqualificação de competições, bem como que o paciente seja submetido a exames desnecessários.

  • Grau de recomendação I / nível de evidência A
Alterações consideradas fisiológicasAlterações sugestivas de cardiopatias
Bradicardia/arritmia sinusalInversão de onda T
BAV 1° grauDepressão do segmento ST
BAV 2° grau (Mobitz I)Ondas Q patológicas
Sobrecarga ventricular esquerda isoladaSobrecarga atrial esquerda
Atraso final da condução do ramo direitoBAV 2° grau (Mobitz II)
Repolarização precocePré-excitação ventricularBloqueio de ramo esquerdo ou direitoIntervalo QT longo ou curtoSugestivo de síndrome de BrugadaSobrecarga ventricular direitaDesvio de eixo elétrico

Teste ergométrico

  • Pode ser indicado na avaliação inicial ou sucedido de outros exames complementares;
  • Variáveis avaliadas: capacidade de exercício, dor torácica, segmento ST, pressão arterial, frequência cardíaca e arritmias cardíacas;
  • Grau de recomendação I / nível de evidência A.

Teste cardiopulmonar de exercício máximo (TCPE)

  • Para atletas, é o procedimento de escolha quando se deseja obter uma medida válida, precisando da condição aeróbica e da determinação da frequência cardíaca dos limiares para prescrição do exercício;
  • Grau de recomendação I / nível de evidência A.

Ecocardiograma

  • Modalidade diagnóstica confirmatória a ser realizada após suspeição durante avaliação pré-participação inicial (grau de recomendação I / nível de evidência A);
  • Não há evidência para uso rotineiro em indivíduos assintomáticos (grau de recomendação III).

Cabe ressaltar que as indicações previamente citadas são referentes aos atletas profissionais. Em pessoas que praticam atividade física de forma regular (não atletas), basta a realização de anamnese e exame físico. A AHA não indica ECG, mas a Sociedade Europeia de Cardiologia, sim.

Preparação para procedimentos de morte súbita

Apesar de rara, a morte súbita no esporte pode acontecer, exigindo preparo. Além disso, você precisa estar continuamente treinado e atualizado. Para agir de forma rápida e eficaz, é importante fazer um curso de BLS e ACLS.

A identificação rápida da PCR, o início imediato do RCP (com compressões efetivas) e a desfibrilação precoce (com presença do DEA em ambientes esportivos) são o que verdadeiramente salvam o paciente. O básico bem feito salva vidas!

Aprenda sobre as práticas dos plantões de emergência

A morte súbita no esporte é importante para as práticas de Medicina de Emergência. Se você deseja aprender os principais procedimentos que podem aparecer no seu plantão, conheça o PSMedway. Assim, você fica preparado para colocar técnicas da atuação médica em prática do dia a dia!

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BrunoBlaas

Bruno Blaas

Gaúcho, de Pelotas, nascido em 1997 e graduado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Residente de Clínica Médica na Escola Paulista de Medicina (UNIFESP). Filho de um médico e de uma professora, compartilha de ambas paixões: ser médico e ensinar.