Mesmo para quem não tem afinidade com a área de Neurologia, a preparação para o atendimento de um AVC é essencial nos plantões do pronto-socorro. Para isso, torna-se indispensável conhecer as principais características e manifestações clínicas da condição. Sendo assim, o que é afasia?
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Afinal, o que é afasia? De forma objetiva, é um distúrbio de linguagem. Entretanto, é muito mais que apenas a dificuldade de articular palavras, que recebe o nome de disartria (vulgarmente conhecida como “fala enrolada”).
Você já deve saber que há um hemisfério cerebral dominante para a linguagem, que na maioria das pessoas é o esquerdo. Isso é influenciado pela dominância manual do paciente: se for destra, há 99% de chance do hemisfério esquerdo ser o dominante; se for canhota, essa chance fica entre 70% e 90%.
Dessa forma, mesmo nos canhotos, a probabilidade maior é do dominante ser o hemisfério cerebral esquerdo. Em resumo, por via de regra, a afasia ocorre por lesões no hemisfério cerebral esquerdo.
Após compreender o que é afasia e como ela se diferencia da disartria, é importante observar como o exame da linguagem ocorre, já que essa parte do exame neurológico será alterada. A semiologia da linguagem é dividida em cinco passos.
Essa parte é avaliada com a descrição do ocorrido pelo paciente. Durante a avaliação da fala espontânea, vários aspectos podem ser percebidos, mas o principal é definir a fluência verbal: capacidade de produzir palavras por minuto.
Não é necessário contar quantas palavras o paciente fala por minuto, mas ter uma noção e definir se o paciente é fluente ou não fluente (ou seja, se a fala é fluida, normal ou entrecortada). Essa é uma das principais partes do exame da linguagem, já que a afasia é dividida em fluentes e não fluentes.
O protótipo da afasia não fluente é a afasia de Broca. O paciente tem a noção de que não consegue se expressar adequadamente, por isso, aparenta estar muito desconfortável e angustiado. Por esse motivo, ela também é chamada de afasia de expressão ou motora.
As frases são curtas e cometem erros gramaticais chamados parafasias fonêmicas (troca de fonemas; por exemplo, ao tentar dizer “caneta”, o paciente diz “careta”). Lesões do giro frontal inferior esquerdo, no qual se encontra a área de Broca, cursam com esse tipo de afasia.
O principal representante da afasia fluente é a afasia de Wernicke. Nela, o paciente tem o discurso fluido, ou seja, produz uma quantidade adequada de palavras. Porém, o discurso é desprovido de significado, pois o principal comprometimento é a compreensão.
O paciente também comete erros gramaticais, mas as parafasias são semânticas (troca de “grupo” semântico da palavra; por exemplo: ao dizer “caneta”, o paciente diz “relógio”).
De forma simples, é possível examinar a nomeação pedindo para o paciente nomear objetos simples por confrontação (caneta, óculos, relógio, etc.), partes do corpo e objetos (cotovelo, punho, dedo, unha, tampa da caneta, ponteiro do relógio).
Vale ressaltar que a nomeação de objetos e partes do corpo é mais sensível que o exame de objetos por inteiro. Essa é a principal parte do exame da linguagem com suspeita de uma afasia, pois todas possuem anomia.
Essa avaliação é dividida em três partes, examinadas na sequência a seguir: começa com perguntas simples, ou seja, aquelas em que a resposta é “sim” ou “não”. Após, pode-se pedir para o paciente seguir comandos simples e complexos. Por fim, há a análise de voz passiva.
A principal afasia que tem déficit de compreensão é a de Wernicke. O paciente tem um discurso fluido, mas totalmente sem sentido. Ao ouvir perguntas para o médico avaliar a compreensão, a pessoa tem dificuldade e erra. Por isso, essa condição também é chamada de afasia de compreensão ou sensitiva.
Uma característica interessante dessa condição é a presença de anosognosia, definida pela falta de consciência do próprio déficit neurológico (nesse caso, da linguagem). Portanto, o paciente tem um discurso completamente desconexo e, mesmo assim, acredita que está falando adequadamente.
Nessa etapa, avaliam-se especialmente alguns circuitos cerebrais que conectam a área de compreensão (área de Wernicke) com a área de expressão (área de Broca). O feixe anatômico que conecta essas duas áreas é o fascículo arqueado.
O exame começa com o profissional solicitando ao paciente que repita palavras simples e isoladas. Feito isso, o médico pede que o paciente repita frases curtas e, por fim, frases longas.
A afasia é considerada déficit de linguagem. Sendo assim, já que leitura e escrita fazem parte da linguagem, esses aspectos sofrem mudanças em grande parte dos tipos.
Antes de fazermos algumas observações importantes sobre a afasia, é sempre importante lembrar que saber desconfiar de um AVC é fundamental, afinal, é uma doença muito comum de surgir no PS. Sabemos que o manejo desses pacientes com AVC não é fácil e, principalmente por ser uma corrida contra o tempo, não diagnosticá-lo pode alterar completamente a vida do doente. No nosso e-book gratuito AVC: do diagnóstico ao tratamento, te ensinamos o manejo do AVC, desde o primeiro contato com o paciente até a alta hospitalar. Informação nunca é demais, então que tal dar uma olhada lá também? Clique AQUI e baixe gratuitamente!
A causa mais comum da condição é o AVC. É muito comum que os pacientes tenham afasia global, mas com um predomínio motor ou sensitivo (predomínio de comprometimento da fluência ou da compreensão). Além disso, confira algumas observações importantes:
Como o próprio nome sugere, a afasia transcortical sensitiva ocorre por lesões subcorticais (núcleo caudado para a afasia motora; tálamo para a afasia sensitiva). Confira a tabela para auxiliar na memorização dos subtipos de afasia:
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Paranaense nascido em 1990. Formado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) de Curitiba em 2014. Residência em Neurologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Palo (HCFM-USP), concluída em 2019. No HCFM-USP, experiência como preceptor dos residentes entre 2019-2020. Concluiu um fellowship em Neuroimunologia em 2021. Experiência como médico assistente do departamento de Neuropsiquiatria do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR). "As doenças são da antiguidade e nada se altera sobre elas. Somos nós que mudamos na medida em que estudamos e aprendemos a reconhecer o que antes era imperceptível."