Conheça os projetos que facilitam e democratizam a inserção de DIU

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Projetos de facilitação e mutirões de capacitação para a inserção do DIU (dispositivo intrauterino) acontecem desde 2019 em São Paulo e em outras regiões do país. O intuito de tais ações, desenvolvidas pela ginecologista Mariana Viza, é popularizar, democratizar e “desgourmetizar” o método contraceptivo.

A temática de métodos contraceptivos é essencial para o atendimento na área da Ginecologia e da Obstetrícia, bem como para a orientação nos plantões. Em nosso blog, há diversos conteúdos para guiar seu estudo. Desta vez, o DIU é o objeto de análise pelas iniciativas que incentivam a utilização. 

Como saber se o DIU é a melhor opção para a paciente? 

Assim como as pílulas anticoncepcionais, existem diferentes tipos de DIU: cobre, prata e hormonal. Todos possuem funcionalidades e composições que os diferem e se adequam a diferentes organismos. 

Devido a essa possibilidade de escolha, a anamnese deve ser complementada com exames que auxiliam na orientação individualizada dos pacientes. Portanto, antes da indicação da inserção do DIU, é essencial uma avaliação cautelosa.

Aplicação do DIU na Casa Irene Viza 

Inaugurada em 31 de agosto de 2021, a Casa Irene Viza está localizada no Sacomã, região Sudeste da cidade de São Paulo. O nome do local é uma homenagem à avó da idealizadora, que utilizou a primeira pílula anticoncepcional lançada no mercado na década de 1960. 

Nesse espaço, Mariana faz os atendimentos e a inserção do DIU de forma rápida e desburocratizada. “Eu brinco que é o drive-thru do DIU. Você chega, coloca o DIU e vai embora, que é o correto. O recomendado pela OMS e pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia é a paciente chegar e colocar o DIU naquele momento”.

Segundo a ginecologista, a maioria das mulheres pode realizar a aplicação do DIU no momento da consulta. Ela conta que os casos em que há contraindicação para a aplicação nesse primeiro encontro podem ser identificados por um bom exame físico e uma boa anamnese.

A facilitação também é acompanhada por uma redução de valores e possibilidades de métodos de pagamento. Atualmente, a Casa Irene Viza é capaz de inserir até 400 DIUs mensalmente.

Mesmo assim, na realidade brasileira, isso não é o suficiente. “Ainda tem gente que não consegue pagar”, aponta Mariana, que também trabalha no Sistema Único de Saúde (SUS).

Histórico da ginecologista na aplicação do DIU

Quando trabalhava na Unidade Básica de Saúde (UBS) de Taboão da Serra, a médica realizava três inserções por dia. “Eu me sentia enxugando gelo”, conta a ginecologista. 

A partir dessa experiência, a ideia foi criar os mutirões para pulverizar o conhecimento de modo a escalar e ter mais impacto na saúde da população. A primeira experiência aconteceu em 2019, quando foi para Ariquemes (Rondônia), logo após a conclusão da residência médica. 

No mesmo estado, posteriormente, aconteceram outros mutirões nas cidades de Cujubim e Buritis. Durante essas viagens, ela também contou com a ajuda do marido, Marcos Marangoni — ginecologista e nosso ex-professor.

Como as inserções acontecem?

Segundo Mariana, como as UBSs já possuem o material necessário, fica fácil organizar o processo. “O que elas não têm é gente capacitada para inserir, e é aí que eu entro”, comenta. 

Como a verba, os materiais e o próprio DIU são disponibilizados pelo SUS, basta que as secretarias de saúde entrem em contato com a ginecologista, que atua como prestadora de serviço.

Os profissionais que se dispõem a participar são instruídos sobre a inserção do DIU, o que inclui equipe médica e de enfermagem. Além disso, o diálogo com as pacientes faz parte do mutirão para esclarecer os mitos sobre o método contraceptivo.

Segundo Viza, o médico generalista já é plenamente capacitado a inserir o DIU. “Eu gosto muito de ensinar médico generalista porque ensino mais coisas”. A própria aplicação do DIU, as técnicas de conforto e humanização também fazem parte do treinamento.

A iniciativa de Mariana foi mostrada no Profissão Repórter ao ar em outubro de 2021. O foco da reportagem foi mostrar como é o acesso das mulheres à contracepção. 

O DIU no Brasil

Hoje, o SUS oferece nove métodos contraceptivos diferentes, partes fundamentais de políticas de planejamento familiar e saúde sexual. Ainda assim, o DIU no Brasil não é o mais comum devido à falta de informação. 

De acordo com uma pesquisa publicada na Revista Latino-Americana de Enfermagem, de um grupo de 1858 mulheres, apenas 99 utilizavam ou já haviam utilizado o método — algo próximo de 5% das entrevistadas. Em 2017, dados da Febrasgo apontaram que apenas 1,7% das brasileiras em idade fértil o adotavam.

O estudo aponta que o nível de conhecimento sobre o método esteve muito associado ao uso atual ou anterior do DIU, assim como da intenção de utilizá-lo. Ainda que o método seja um dos mais eficazes e duradouros, e o acesso a ele via SUS seja universal, há alguma resistência e considerável desinformação.

Informação acessível 

Foi justamente para enfrentar os problemas relacionados à informação que a médica também começou a atuar no ambiente digital. Com um canal no YouTube e um perfil no Instagram, ela esclarece dúvidas e tenta tranquilizar as mulheres interessadas no DIU

“Eu comecei a fazer vídeos na internet porque eu percebi que as pacientes iam no Google para se informar. Os médicos ficavam irritados, dizendo: ‘a paciente vai no Google e chega cheia de opinião’. Porém, eu rebatia: ‘gente, se ela está indo pro Google, é para lá que eu vou”, explica a ginecologista. 

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JoãoVitor

João Vitor

Capixaba, nascido em 90. Graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e com formação em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) e Administração em Saúde pelo Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). Apaixonado por aprender e ensinar. Siga no Instagram: @joaovitorsfernando