Esse texto faz parte de uma sequência de dois artigos sobre a prova prática de residência médica.
Para que você entenda este texto da melhor forma, é essencial que você tenha lido a parte 1.
Em todo caso, vamos continuar de onde paramos: a 3ª estação.
O caso clínico tratava de uma adolescente que havia retornado de uma viagem aos EUA há 10 dias e que passou a apresentar sintomas compatíveis com coqueluche. O médico que realizou o atendimento na UBS confirmou o diagnóstico através de um exame de PCR para coqueluche (acredite se quiser) e a paciente já estava em tratamento.
Simples assim. Você deveria colher a anamnese da paciente com o tio e realizar a investigação epidemiológica.
Como havia treinado, iniciei me apresentando e perguntei sobre o estado de saúde da adolescente:
Perguntei então quem morava na casa além da adolescente. O tio informou que ele (Carlos), sua esposa (Vera) e seu filho de um ano (Mateus).
Quis saber, então, do histórico vacinal da criança. O tio informou que sua família é parte de uma seita anti-vax (anti-vacina).
Nessa hora, você deveria aceitar o posicionamento do tio e tentar convencê-lo sobre a importância da vacinação adequada.
Confira alguns dos itens presentes no checklist da prova prática de residência médica:
Correto | Incorreto | |
Apresentou-se de forma adequada | X | |
Usou linguagem adequada durante a anamnese | X | |
Valorizou a visão do tio quanto a sua opinião sobre vacinas | X | |
Questionou sobre o estado de saúde de cada contato domiciliar | ||
Perguntou sobre sintomas respiratórios de cada contato domiciliar | ||
Questionou sobre situação vacinal de cada contato domiciliar |
Vale ressaltar que, durante a realização da anamnese, você deveria questionar ativamente os três últimos itens do checklist para cada contactante da adolescente.
Perdi pontos preciosos nessa questão, pois não fiz isso.
Ao terminar a tarefa 1, passei para a seguinte.
Considerando que os documentos necessários à Vigilância Epidemiológica já foram preenchidos, escreva nas linhas abaixo as recomendações relativas a cada membro da família. Obs: Na folha de respostas, havia seis linhas separadas – duas para cada contactante – em que você deveria escrever suas orientações. |
Era necessário avaliar a indicação do uso de quimioprofilaxia para os contactantes e atualização do histórico vacinal para cada membro da família.
Dê as orientações gerais ao tio da paciente. |
Nesse momento, você deveria explicar os próximos passos. O ator foi instruído a questionar ativamente sobre determinadas questões que constavam no checklist:
Parece complicado?
E é. Achei essa questão bem difícil. Não havia treinado a realização de uma questão meramente interpretativa onde a única habilidade exigida seria a anamnese. Portanto, preste atenção nestes dois detalhes para que você não tenha o mesmo problema que eu tive:
A prova prática de Residência Médica geralmente tem questões que não exigem habilidades práticas.
Portanto, o ideal é que você treine intensamente a realização de anamnese direcionada aos temas mais frequentes das provas, principalmente na medicina preventiva.
É muito comum, durante a realização das provas práticas, darmos muito valor a determinados pontos de uma questão que não são tão relevantes quanto pensamos.
Deixa eu explicar melhor.
Nesta questão, o checklist continha cerca de 30 itens. Durante a prova, errei a quantidade de dias que a paciente deveria ser isolada após instituição da antibioticoterapia. Coloquei que ela poderia retornar às atividades escolares após um dia de antibioticoterapia – e saí muito preocupado, pois achei que havia errado toda a tarefa 3, o que equivaleria a 1/3 da estação.
No entanto, este era apenas um item dentre 30 presentes no checklist da prova prática de residência médica.
O caso clínico descrevia um adolescente que acabara de sofrer um acidente perfurocortante na perna esquerda. O exame físico não mostrava alterações significativas com exceção da ferida.
Escreva a conduta adequada para esse paciente naquele momento. Obs: Quatro linhas para a resposta. |
Orientei a lavagem da ferida com soro fisiológico 0,9%, assepsia e antissepsia adequadas, colocação de campos estéreis seguido de anestesia local, exploração e sutura da ferida.
Após terminar, solicitei a tarefa seguinte.
Dê dois pontos simples |
Dentre os materiais dispostos na mesa (Porta-agulha, pinça dente-de-rato, fio de nylon, álcool 70%, degermante e um pequeno campo cirúrgico), você deveria escolher o que seria necessário para fazer a sutura.
Segui o passo a passo descrito na tarefa 1 e realizei a sutura. Nessa tarefa havia uma pegadinha em que muita gente caiu. Era necessário realizar a exploração adequada da ferida pois havia um pedaço de palito (corpo estranho) no interior da ferida.
Aqueles que suturaram a ferida com o corpo estranho em seu interior provavelmente tiveram boa parte ou toda a tarefa 2 anulada.
Após terminar, solicitei a última tarefa.
Recebi um cartão vacinal em que deveria checar a data da última dose de vacina antitetânica da paciente, para então realizar a interpretação adequada e passar quatro orientações para a paciente.
Minhas respostas foram o retorno em 10 dias para retirada dos pontos, orientação quanto a sinais de infecção da ferida e uma dose de reforço da antitetânica.
Deixei uma linha em branco pois o tempo se encerrou antes que eu pudesse completar a resposta. Apesar da dificuldade, estava novamente confiante pois, ao meu ver, consegui um bom desempenho em 3 de 4 questões.
Um pequeno detalhe me ajudou durante a realização dessa questão:
Durante a realização de questões práticas, verbalize constantemente o que você está fazendo.
Digo isso porque, durante a realização da tarefa 2 (dar dois pontos), expliquei à examinadora como procederia desde o início. Cada passo era avaliado e, quando disse que se estivesse diante de uma ferida “real” realizaria a exploração da mesma, a examinadora solicitou que eu a fizesse naquele momento.
Nem nos meus sonhos imaginaria que poderia ter que “retirar um corpo estranho” durante a prova prática de Residência Médica. Porém, esse foi o diferencial na pontuação da minha prova pois fiz 1,8 de 2,0 possíveis nesta questão.
Restava apenas a última estação. Teria boas chances de ser aprovado se obtivesse um bom resultado nela. Era tudo ou nada.
O caso clínico era sobre uma gestante com 31 semanas de gestação pela DUM e 35 semanas pelo USG do primeiro trimestre. A paciente acabara de ser internada na enfermaria pois deu entrada no PS com a pressão arterial = 160 x 110mmHg.
Solicite os exames essenciais para a avaliação materno-fetal. Obs: Havia uma folha com 7 linhas para que você descrevesse os exames solicitados. |
Pela suspeita de pré-eclâmpsia, solicitei: proteinúria de 24h, bilirrubina total e frações, TGO, hemograma com contagem de plaquetas, creatinina, DHL (esqueci de solicitar a cardiotocografia).
Solicitei, então, a próxima tarefa.
Recebi outra folha que informava que a paciente evoluiu com cefaleia, presença de escotomas cintilantes e PA = 180 x 115mmHg.
Informe a hipótese diagnóstica: Iminência de eclâmpsia |
Segui para a terceira tarefa, onde fui informado que a paciente apresentou uma crise convulsiva e solicitava que você escolhesse as medicações e materiais adequados para o cenário atual. Havia quatro linhas para a resposta.
Nesse momento, fiz o diagnóstico de eclâmpsia e procurei pelo sulfato de magnésio. A banca também disponibilizou outras medicações (gluconato de cálcio, diazepam, propofol, soro fisiológico, midazolam). Você deveria escolher as adequadas para a situação.
O problema é que não reparei que em cima da maca estavam vários dispositivos (cateter nasal para oferta de oxigênio, cânula de guedel, laringoscópio, tubo orotraqueal, sonda vesical de demora, máscara com ambu, seringas para insuflar o cuff) que também faziam parte da questão.
Acabei colocando como resposta apenas o sulfato de magnésio, gluconato de cálcio e soro fisiológico 0,9%.
Cheguei então à última tarefa.
A paciente foi adequadamente estabilizada e será transferida para outro serviço. Através do telefone presente em cima da mesa, realize a passagem de caso para o plantonista do outro Hospital. |
Basicamente, você deveria passar detalhadamente a história da paciente.
Confira o checklist:
Correto | Incorreto | |
Nome | X | |
Idade | X | |
Paridade | X | |
Idade Gestacional | X | |
Evolução durante a internação com diagnóstico de eclâmpsia | X | |
Informar sobre o provável diagnóstico de restrição do crescimento fetal | X | |
Informar que foi realizado dose de sulfato de magnésio | X | |
Indicar realização de cesariana | X | |
Informar que aguardava os resultados dos exames referentes a vitalidade fetal | X |
Após finalizar a questão, aguardei o término dos 10 minutos para poder sair da prova.
Foi nessa hora que percebi que, em cima da maca, estavam alguns dos itens que provavelmente faziam parte do gabarito, como a sonda vesical de demora para quantificação do débito urinário e a máscara com ambu ou o cateter de O2 para oferta de oxigênio suplementar.
Não acreditei. Era uma questão relativamente simples e eu não dei atenção para os itens presentes na sala. Portanto, preste bem atenção:
Ao entrar em qualquer estação, passe o olho no ambiente ao seu redor. Muitas vezes, ficamos cegos pro que está à nossa volta quando estamos focados em uma tarefa.
A visualização prévia do que está ao seu alcance aumenta suas chances de entender do que se trata determinada estação.
Ao sair da prova e encontrar com meus amigos, tive uma sensação clara. A aprovação estava em minhas mãos. Por pequenos vacilos, deixei escapar. Não estava nem um pouco satisfeito, mas a partir daquele momento, não poderia fazer mais nada. Estava nas “mãos de Deus”.
Antes de concluir, deixo pra você um último detalhe que é bem frequente e acomete a maioria dos candidatos após a realização da prova prática de Residência Médica:
A maioria dos candidatos pensa que não foi bem durante provas práticas.
É muito raro que alguém saia confiante. Sem exceção, todos vacilamos em alguns pontos, e é da natureza do ser humano valorizar os próprios erros mais do que os acertos.
Também é fato que você não vai acertar todas as questões. A média dos candidatos que têm um excelente resultado gira em torno de 6,0 – 7,0. Portanto, se você for muito bem, vai ter errado 30% da prova.
Nunca encontrei com um colega que tenha se sentido bem ao sair da prova. Portanto, fique tranquilo se ficar chateado depois das provas. É o que acontece com todo mundo.
Fique tranquilo. Não há nada que você possa fazer até saírem os resultados, de qualquer maneira.
Espero que tenha te ajudado a se preparar para a prova de que você vai fazer nesse fim de ano.
Se gostou dos textos, não deixe de se aprofundar nesse tema tão pouco explorado nas faculdades e cursinhos. Não dá pra “deixar pra depois que passar na primeira fase”. Não tem tempo depois pra preparação e a segunda fase vale 40% da nota final – praticamente outro concurso.
Felizmente, existem técnicas que permitem que você consiga se preparar para a primeira e segunda fases ao mesmo tempo. Assim, você não precisa contar com a sorte na hora da prática.
A gente fala de algumas dessas técnicas no nosso e-book Como brilhar na prova prática de Residência Médica, além de te mostrarmos checklists completos de estações bastante frequentes, pra que você saiba os diferentes tipos de abordagem na 2ª fase. E é 100% gratuito! Dá uma olhada!
E só pra reforçar: se quiser se aprofundar na preparação para a prova prática, confere o CRMedway, nosso curso preparatório pra prova prática de Residência Médica. Por lá, você pode contar com 300 checklists e mais de 40 estações simuladas para imergir dentro da prova prática, além de um Atlas Multimídia para estudar e revisar imagens. Bora conhecer as versões online e presencial?
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No último ano, a primeira fase da prova de residência médica da ISCMSP foi realizada à tarde, às 14h, na Universidade São Judas Tadeu – Unidade Mooca, próximo ao metrô Bresser. Os portões abriram um pouco antes das 13h. É importante tentar chegar no horário para evitar contratempos, já que é o mesmo local para todos os candidatos e o fluxo de carros costuma ficar intenso!
Capixaba, nascido em 90. Graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e com formação em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) e Administração em Saúde pelo Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). Apaixonado por aprender e ensinar. Siga no Instagram: @joaovitorsfernando
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