Se a sua meta é atuar sempre em benefício da qualidade de vida dos pacientes, a Reumatologia pode ser a área da medicina ideal para você, pois proporciona um acompanhamento próximo e constante da evolução de cada quadro.
Além de ser gratificante, essa especialidade médica oferece excelentes oportunidades no mercado de trabalho, que sofre um déficit de profissionais especializados em diversas regiões do Brasil.
Quer entender melhor o que faz um reumatologista e como seguir carreira nessa área? Neste conteúdo, você encontra tudo isso e ainda confere uma entrevista exclusiva com duas especialistas: a Dra. Natália Yumi Shirozu Soares Matias, formada pela Unifesp, e a Dra. Letícia Lima Santos, residente de Reumatologia pela PUC-Campinas!
O reumatologista é o médico especializado em doenças do sistema musculoesquelético e do tecido conjuntivo, do qual estruturas como tendões, articulações e ligamentos fazem parte.
Como esse profissional também trata de ossos e músculos, é muito comum o público confundir as funções dele com as de um ortopedista. Porém, enquanto a Reumatologia foca na parte clínica e nos problemas inflamatórios ou degenerativos, a Ortopedia envolve cirurgias e tratamentos de fraturas e correções.
Muitas das doenças reumatológicas englobam dores crônicas ou afetam os movimentos do corpo. Portanto, mais que diagnosticar as doenças e receitar um tratamento, o médico reumatologista acompanha a evolução do paciente de forma constante para promover a reabilitação.
Além dessa proximidade com o paciente, a Reumatologia exige certa disposição para o trabalho em equipe. Como há uma grande diversidade de patologias que, em alguns casos, acomete órgãos internos, além do sistema musculoesquelético, é necessário fazer parcerias com outros especialistas.
A Dra. Natália Yumi Shirozu Soares Matias, reumatologista formada pela Unifesp, explica como funciona a prática do reumatologista no dia a dia:
“A reumatologia é basicamente uma especialidade ambulatorial. Existem alguns reumatologistas que se especializam mais em intervenção, mas a prática é centrada em consultas e, às vezes, no trabalho em centros de infusão. Na clínica, a maioria das queixas está relacionada à dor crônica, fibromialgia e problemas osteomusculares — temas que, muitas vezes, passam despercebidos durante a formação, mas são fundamentais na prática.”
A Dra. Letícia Lima complementa com uma visão ampla do campo de atuação:
“O reumatologista tem atuação principalmente na área clínica ambulatorial, ou seja, ambulatórios e consultórios. Eventualmente, também pode atuar na parte hospitalar, passando visitas em enfermarias, seja para tratamento ou investigação diagnóstica. Além disso, pode realizar procedimentos como infiltrações articulares, punções e usar ultrassom articular para diagnóstico e acompanhamento. De forma geral, o cotidiano é tranquilo, mas exige atenção, pois lidamos com pacientes complexos que, por vezes, necessitam de internação.”
Na verdade, o que chamamos popularmente de reumatismo é um conjunto de mais de 100 doenças, com várias peculiaridades. Muitas delas são bem comuns, tanto que, de acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 15 milhões de brasileiros sofrem de alguma dessas patologias.
As doenças reumatológicas, ou reumáticas, podem afetar diferentes órgãos em variadas intensidades, mas um sintoma faz parte da maioria delas: dor nas articulações. Já as causas podem ser inflamatórias, metabólicas, autoimunes ou degenerativas.
Entre as doenças mais conhecidas estudadas pela Reumatologia, estão artrite reumatoide, artrose, fibromialgia, bursite, osteoporose, gota, lúpus e lombalgia, isto é, dor na lombar, que, segundo a Organização Mundial da Saúde, pode atingir cerca de 80% da população, e também pode ter causas reumatológicas.
Com diversas causas e grande abrangência, as patologias reumáticas podem atingir pessoas de qualquer faixa etária, gênero ou constituição física. Para o especialista em Reumatologia, não falta demanda de trabalho, mas é imprescindível ter uma formação completa e investir em atualizações constantes.
Além do conhecimento técnico, a capacidade de conduzir uma excelente anamnese e exame físico é essencial para um médico reumatologista::
“O crucial é saber fazer uma boa anamnese e um bom exame físico. Muitas vezes, o diagnóstico está todo na história clínica — só que ninguém parou para escutar o paciente com atenção. Também é essencial saber ouvir. A maioria das queixas envolve dor, e esses pacientes costumam ser muito demandantes. Às vezes, só o fato de serem ouvidos com empatia já faz diferença”, destaca a Dra. Natália.
A Dra. Letícia reforça:
“É extremamente importante a dedicação aos estudos. Muitos medicamentos e métodos diagnósticos estão surgindo, especialmente entre os imunossupressores biológicos. Também é essencial saber ouvir, pois queixas sutis podem fazer toda a diferença. Além disso, lidamos com muitas mulheres em idade fértil, o que exige atenção redobrada ao escolher medicamentos. E o exame físico precisa ser completo — dos pés à cabeça — para garantir uma abordagem clínica eficaz.”
Essas competências ressaltam a importância da escuta ativa, da precisão na coleta de dados clínicos e da empatia: elementos que destacam qualquer reumatologista.
A maior demanda para o profissional de Reumatologia está na prática clínica. Por haver muitas doenças crônicas, sem cura, o acompanhamento é fundamental para garantir melhor mobilidade e qualidade de vida, o que ocasiona relações duráveis de trabalho entre os médicos e os pacientes.
O setor público, em ambulatórios, nas regiões que concentram menor número de profissionais, é um ótimo caminho para ingressar no mercado. De acordo com o último estudo Demografia Médica no Brasil, de 2025, há somente 3.255 reumatologistas registrados no país, e a maioria atua no Sudeste.
O médico reumatologista também pode encontrar vagas na área de pesquisa. Com os avanços científicos, há chances de atuação na indústria farmacêutica, para criação de novos medicamentos, ou nos laboratórios, para estudos genéticos e de anticorpos.
Outra opção é focar em procedimentos pontuais ligados à reumatologia, como realização de exames invasivos e ultrassonografias ou aplicação intravenosa de imunobiológicos, realizada em centros de infusão, que requer o acompanhamento de um especialista.
A remuneração do reumatologista pode variar de acordo com diversos fatores, como experiência e local de atuação. Porém, de acordo com pesquisa do Salário.com.br, o salário médio no país é de R$ 7.857,63 para uma jornada de 18 horas semanais.
O número foi apurado por meio de dados oficiais do Novo CAGED, além de contratações e desligamentos. Ainda segundo a página, a faixa salarial do especialista fica em torno de R$ 7.643,03 a R$ 13.812,70 sem levar em conta adicionais ou bônus.
A residência médica em Reumatologia tem duração de 2 anos, com uma carga de 60 horas semanais. Para ingressar no programa é necessário, primeiro, concluir a residência médica em Clínica Médica, que também dura 2 anos.
Dessas 60 horas, 30 devem ser dedicadas a trabalhos ambulatoriais, enquanto as outras 30 podem ser cumpridas em unidades de internação, laboratórios, medicina física, reabilitação, estágio complementar em Ortopedia e outras atividades.
“A residência precisa ter muito ambulatório. […] Também é essencial ter contato com pacientes internados, interconsultas, e saber realizar intervenções como infiltrações. Outro diferencial é ter acesso ao ultrassom dentro da residência — mesmo que ninguém saia expert, o contato desde cedo faz diferença no futuro”, destaca Natália.
A Dra. Letícia descreve o equilíbrio entre teoria e prática:
“A residência é majoritariamente ambulatorial, com uma menor carga de atividades hospitalares. Algumas instituições têm plantões no pronto-socorro, outras não. Comparada a outras áreas da clínica médica, é uma residência mais tranquila. O aprendizado é amplo: exige escuta, exame físico completo, contextualização e o uso integrado dos conhecimentos da Clínica Médica. A área vem crescendo muito com o aumento das doenças autoimunes, o envelhecimento populacional e os avanços diagnósticos e terapêuticos.”
Com o fim do período de residência, os médicos podem se inscrever para a prova da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), que concede o título de Especialista em Reumatologia (TER) aos aprovados. Os especialistas também podem se associar à entidade e contar com diversos benefícios oferecidos.
Agora, vamos conferir as competências desenvolvidas em cada ano da residência em Reumatologia, de acordo com a Matriz Curricular do programa!
No R1, o residente consolida o domínio das bases anatômicas, bioquímicas, fisiológicas e imunológicas do sistema músculo-esquelético e das doenças autoimunes sistêmicas. Aprende a realizar anamnese detalhada, exame físico focado no aparelho locomotor e interpretação de exames laboratoriais e de imagem — como radiografias, ressonância magnética e medicina nuclear.
Também é treinado em procedimentos fundamentais, como artrocentese, infiltrações e análise do líquido sinovial. Ao longo do ano, o residente participa ativamente do atendimento ambulatorial, de internações e da elaboração de hipóteses diagnósticas e planos terapêuticos, além de desenvolver habilidades em ética médica, prescrição segura e produção de prontuários clínicos bem estruturados.
Já no R2, o residente aprofunda o manejo das principais doenças reumáticas — incluindo lúpus, artrite reumatoide, espondiloartrites, esclerose sistêmica, vasculites, miopatias inflamatórias e fibromialgia —, além de atuar em áreas como reumatologia pediátrica, reabilitação e medicina paliativa.
Ganha proficiência na interpretação de exames como capilaroscopia, densitometria óssea e eletroneuromiografia, e no uso de terapias avançadas, como os imunobiológicos. Também desenvolve habilidades de comunicação com pacientes e familiares, lidera discussões clínicas e participa de atividades científicas, como produção e apresentação de trabalhos. Tudo isso com atenção constante aos aspectos legais, éticos e socioeconômicos envolvidos no cuidado reumatológico.
A residência em Reumatologia da USP exige pré-requisito em Clínica Médica e é sediada no Instituto Central do Complexo do Hospital das Clínicas da FMUSP. Possui enfermaria com 16 leitos, além de um Hospital Dia com 10 poltronas para infusões não biológicas.
O serviço dispõe de 32 ambulatórios especializados, atendendo mais de 2 mil pacientes por mês. Toda a infraestrutura foi recentemente modernizada, incluindo salas para ultrassom, medicina do exercício e esportiva aplicada a doenças reumatológicas, capilaroscopia, centros de infusão e laboratórios de pesquisa.
Além disso, o programa conta com laboratórios dedicados à ciência do sistema musculoesquelético. Graças a essa sólida estrutura, a residência em Reumatologia da USP é reconhecida como uma referência nacional e internacional.
A Unicamp é outra escolha bastante disputada para quem busca residência em Reumatologia: no último edital foram 33 inscritos concorrendo a apenas 4 vagas, indicando uma seleção bem intensa.
O programa oferece ensino de excelência, com docentes renomados e um complexo hospitalar completo. Há forte incentivo à pesquisa científica, com suporte institucional à realização de trabalhos acadêmicos.
Na Unifesp, também é alta a concorrência: são apenas sete vagas por ano em Reumatologia, e o número de candidatos costuma igualar o de vagas, refletindo a grande reputação do programa.
Os residentes participam de ambulatório, enfermaria, plantões, aulas e discussões de casos, totalizando mais de 8 mil horas de atividades durante a formação.
O Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos (HUPES), vinculado à UFBA e administrado pela Ebserh, é uma unidade de referência em média e alta complexidade. Na área de Reumatologia, atende pacientes com doenças como lúpus, oferecendo tanto assistência clínica quanto exames e procedimentos cirúrgicos.
O programa de Reumatologia do Hospital Universitário da UFJF (HU-UFJF) é acessível via pré-requisito em Clínica Médica, oferecendo 2 vagas por ano com duração de dois anos. A seleção é feita por meio do exame unificado ENARE.
Na UERJ, o programa de Reumatologia também exige pré-requisito em Clínica Médica e tem duração de dois anos. Foram oferecidas 5 vagas no último edital. A seleção ocorre por meio de prova única (objetiva, e para pré-requisito há também discursivas). A residência é realizada no Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE).
A Reumatologia é uma área gratificante e que oferece muitas oportunidades no mercado. Todo esforço para ingressar na especialidade vale a pena. Então, nada como uma forcinha, não é mesmo?
Se você quer ser aprovado em Reumatologia, conheça o Extensivo R3 de Clínica Médica, o preparatório que te leva com direcionamento e personalização à aprovação no R3!
Professora da Medway. Formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com Residência em Clínica Médica (2019-2021) e Medicina Intensiva (2022-2025) pela Universidade de São Paulo (USP - SP). Siga no Instagram: @anakabittencourt