SARS: conheça a síndrome respiratória aguda grave

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Um dos assuntos mais importantes a serem dominados pelos médicos é a SARS (síndrome respiratória aguda grave). Relacionado à COVID-19, o vírus se refere a uma complicação adquirida por infecção, por isso é chamado SARS-COV-2. 

Para facilitar a compreensão, neste texto, o quadro será abordado como SARS. A seguir, você entende o que é a síndrome respiratória aguda, como ela se desenvolve e como seguir com os casos clínicos encontrados nos plantões.

O que é a SARS?

Diferentemente da síndrome do desconforto respiratório (SDRA), a SARS é uma doença infecciosa (uma pneumonia viral), de evolução rápida, emergente e, inclusive, responsável pela primeira pandemia do século XXI.

A SDRA tem múltiplas causas, mas, de forma superficial, o edema pulmonar é a origem da gravidade. Não havia casos de SARS desde 2004, e nenhum deles teve relação com o coronavírus identificado dessa vez. Então, surgiu um novo vírus que causou a pandemia que vivenciamos nos últimos anos.

Epidemiologia da síndrome respiratória aguda grave

Hipóteses indicam que os casos iniciais teriam surgido na província de Guangdong, no Sul da China, como uma epidemia incomum de pneumonia grave no final de 2002. Em 2003, desenvolveu-se um surto internacional (não pandêmico), envolvendo 29 países, com 8.098 casos de provável SARS e cerca de 770 mortes.

Etiologia da SARS

A origem do SARS-Cov-2 não é clara. O fato é que outros vírus, semelhantes ao da síndrome respiratória (SARS), foram identificados em animais, principalmente nos que fazem parte da alimentação humana.

Isso torna provável a hipótese de que o SARS-Cov-2 tenha sido transmitido primeiro para os humanos consumidores dos produtos daqueles animais, o que surpreendentemente ocasionou a transmissão entre pessoas.

No entanto, ainda não foi encontrado nenhum animal ou ser humano que seja, de fato, o reservatório do vírus. Ele estava apenas em laboratórios, o que leva a outra hipótese: falha no sistema de biossegurança.

Contudo, pesquisas recentes levam a crer que pode haver animais, como os morcegos-ferradura, que sejam reservatórios naturais de um vírus muito semelhante ao SARS-Cov-2.

Outro ponto a ser discutido é sobre as práticas de confinamento de animais para abate e consumo. Animais que ficam em locais insalubres e apertados facilitam a transmissão e aumentam as chances de mutações genéticas rapidamente, ao ponto de o ser humano ser infectado.

O que ocorre com a infecção?

O vírus da SARS é transmitido, principalmente, por meio das gotículas respiratórias, entrando no corpo humano pelas mucosas da face e do trato respiratório. Então, tem início a viremia.

O período de incubação varia de dois a dez dias. O risco de transmissão é maior durante a segunda semana da pós-infecção. Três fases são identificadas durante a evolução da doença:

  • replicação viral;
  • pneumonite inflamatória; 
  • fibrose pulmonar;

Os achados radiológicos dos pulmões incluem danos alveolares difusos, padrão vidro-fosco e infiltrados inflamatórios. Quanto maior a evolução da doença, mais fibrose se estabelece, comprometendo muito a complacência pulmonar e a capacidade respiratória.

Sempre há febre quando ocorre infecção de vias aéreas e pneumonia?

Não! A resposta febril típica pode estar ausente em pacientes idosos (que podem apresentar apenas mal-estar, perda do apetite ou delírio evidenciado por uma queda em idoso não propenso a isso). Além disso, bebês e crianças apresentam sintomas brandos, como a coriza, em cerca de 50% dos casos.

Como abordar a SARS?

As manifestações clínicas da síndrome respiratória são inespecíficas e confundem-se com outras causas de infecção respiratória. Porém, uma combinação de características clínicas e, principalmente, epidemiológicas, aumenta a probabilidade pré-teste de um diagnóstico de SARS.

Como, às vezes, há apenas a presença epidemiológica de um caso de Influenza, como a síndrome gripal, é imprescindível testar a população para confirmar ou afastar o diagnóstico.

História clínica

O objetivo é demonstrar as características epidemiológicas e clínicas que aumentam a suspeita da infecção. Isso deve incluir o questionamento sobre os seguintes fatores epidemiológicos:

  • história de viagem recente, em um período de dez dias após surgimento dos sintomas, para um local doméstico ou estrangeiro com transmissão recente, suspeita ou documentada, de síndrome respiratória aguda grave (SARS);
  • história de contato próximo e prolongado com uma pessoa com suspeita ou documentada infectada com SARS;
  • história de exposição a qualquer pessoa com doença respiratória inexplicada;
  • história de contato com materiais contaminados: de particular importância em relação a profissionais de saúde.

Quais são os sintomas da síndrome respiratória aguda grave?

O pródromo da SARS é muito semelhante aos de outras infecções virais, com mialgia, mal-estar, febre, diarreia e até cefaleia. Progride para sintomas iniciais de febre, tosse e faringite.

Sintomas mais tardios incluem dispneia (iniciando de 8 a 12 dias após o surgimento dos sintomas), diarreia aquosa (ocorre em 20% a 25% dos casos na segunda semana) e dor torácica.

Exame físico

Nesta avaliação, o paciente pode estar febril, geralmente, com temperaturas acima de 38 °C, associadas a dispneia, taquipneia, taquicardia, desnaturação e até cianose. A ausculta pulmonar pode revelar estertores inspiratórios, chiados e até crepitações mais grossas.

Investigação adicional

A primeira coisa a fazer é a oximetria de pulso, para avaliar a saturação de oxigênio, e a verificação do comprometimento de trocas gasosas. Em um contexto intensivo, a gasometria deve ser utilizada.

Exames solicitados para detectar a SARS

No hemograma completo, a leucopenia é comum, com linfopenia relatada em 98% às custas de queda de CD4 e CD8. Encontra-se a trombocitopenia na presença de coagulação intravascular disseminada.

Não esqueça de que, infelizmente, a tuberculose é uma doença endêmica no Brasil. Portanto, o teste de escarro deve sempre ser considerado.

É possível realizar a detecção de SARS-Cov-2 diretamente de uma amostra, por um RT-PCR. Ele deve ser pedido em todos os casos suspeitos, idealmente entre três e oito dias de sintomas de síndrome respiratória aguda, como informados anteriormente.

Testes sorológicos para diagnóstico de produção de anticorpos específicos para SARS-Cov-2 são para vigilância epidemiológica e diagnóstico retrospectivo. Colete-os quando há a primeira suspeita de diagnóstico. Para esse teste, a soroconversão costuma ocorrer de uma a quatro semanas após o início dos sintomas.

Exames para o vírus da gripe (Influenza)

Não dá para esquecer da Influenza. Culturas e detecção de anticorpos contra Influenza podem direcionar a investigação para essa condição (causada, principalmente, pelos vírus A e B, que podem evoluir para SARS).

Lembrando que quatro pandemias, que também podiam causar SARS, estiveram presentes ao longo da história:

  • gripe espanhola de 1918 (H1N1);
  • gripe asiática de 1957 (H2N2);
  • gripe de 1968 (H3N2);
  • gripe suína de 2009 (H1N1).

Critérios para definir os casos

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a definição clínica de casos de síndrome respiratória (SARS) requer todos os itens a seguir:

  • febre (≥ 38 °C);
  • um ou mais sintomas de infecção do trato respiratório inferior: tosse, dificuldade em respirar, dispneia;
  • evidência radiológica de infiltrados pulmonares consistente com pneumonia ou síndrome do desconforto respiratório.

Já o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC — órgão estadunidense) atualizou a definição clínica de caso para SARS.

Doença inicial do trato respiratório

É necessário haver duas ou mais das seguintes características:

  • febre;
  • calafrios;
  • tremores;
  • mialgia;
  • cefaleia;
  • diarreia;
  • faringite;
  • rinorreia.

Doença de leve à moderada do trato respiratório

  • febre (≥ 38 °C) associada a um ou mais sintomas de IVAS;
  • tosse;
  • dispneia;
  • dificuldade em respirar.

Doença respiratória grave

  • IVAS de leve à moderada, associada à evidência radiológica de infiltrados pulmonares consistente com pneumonia ou síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA).

Critérios epidemiológicos da SARS

Os critérios epidemiológicos da síndrome respiratória (SARS) são os seguintes: 

  • viagem recente, em um período de dez dias após o surgimento dos sintomas, para um local de transmissão suspeita ou documentada de SARS;
  • contato próximo com pessoa com diagnóstico confirmado ou suspeita de SARS.

Já os critérios laboratoriais são:

  • detecção de anticorpos séricos para SARS-Cov-2;
  • detecção de RNA do SARS-Cov-2 por teste RT-PCR.

Como tratar a SARS?

Até o momento, não existem terapias eficazes contra a SARS. Muitas intervenções (a maioria controversa) foram tentadas, mas sem sucesso. Portanto, o tratamento concentra-se no alívio dos sintomas, na prevenção, no alívio das complicações e no suporte das funções vitais.

O suporte ao infectado é feito à base do manejo, o que inclui a administração de oxigênio suplementar, para corrigir a saturação/hipoxemia, a reposição de fluidos perdidos pela diarreia ou pela febre, e o uso de antitérmicos e analgésicos, para controlar a febre e a dor.

Continue estudando com a gente!

Agora que você já sabe o que é a síndrome respiratória, fica mais fácil melhorar as avaliações dos casos clínicos. Não se esqueça de continuar estudando as doenças semelhantes para saber diferenciá-las. Para isso, acompanhe os conteúdos aqui, em nosso blog.

Caso você queira estar ainda mais preparado para cuidar dos casos de síndrome respiratória aguda grave (SARS), veja nosso Guia de Prescrições. Com ele, não vão existir dúvidas sobre as medicações, e você vai dominar seu plantão no pronto-socorro!

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BrunoGuerretta Belmonte

Bruno Guerretta Belmonte

Nascido em Santo André, médico formado pela UNESP e pela Brock University (Canadá) em 2017 e Médico de Família e Comunidade pela SMS do Rio de Janeiro em 2021. Apaixonado pelos tablados da sala de aula e aficcionado por aviões. Para mim, como escreveu Clarice, “ Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.”