Fala, pessoal! Depois de falar sobre a etiologia, hoje vamos falar sobre o tratamento da hemorragia pós-parto! A FIGO (Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia) define a hemorragia pós-parto (HPP) como:
A hemorragia pós-parto pode ser maciça se a perda sanguínea for maior que 2 litros em 24 horas; ou se o valor da hemoglobina da paciente reduzir pelo menos 4 g/dL; ou se a paciente precisar de transfusão sanguínea de pelo menos 4 concentrados de hemácias; ou ainda se a perda sanguínea desencadear distúrbios da coagulação.
O mnemônico dos “4 Ts” destaca as quatro principais causas de hemorragia pós-parto. Em algumas situações mais de um fator pode estar causando a hemorragia.
Os “4 Ts” são (na ordem de maior para a menor incidência):
A Tabela 1 resume as causas específicas de HPP.
“4TS” | Causa | Frequência |
Tônus | Atonia uterina | 70% |
Trauma | Lacerações, hematomas, inversão e rotura uterina | 19% |
Tecido | Retenção de tecido placentário, coágulos, acretismo placentário | 10% |
Trombina | Coagulopatias congênitas ou adquiridas, uso de medicamentos anticoagulantes | 1% |
O controle precoce do sítio de sangramento é a medida mais eficaz no combate ao choque hipovolêmico. A terapêutica deve ser direcionada para a causa do sangramento.
O tratamento medicamentoso é essencial no manejo da atonia uterina, principal causa da hemorragia pós-parto. Os esquemas terapêuticos dos uterotônicos são variados na literatura mundial, e não existem estudos consistentes que demonstrem a superioridade de um sobre outro.
Além disso, recentemente, o uso do ácido tranexâmico está sendo indicado assim que se diagnostica a HPP. Nos casos de atonia, não se recomenda mais aguardar a falha de todos os uterotônicos para iniciar o ácido tranexâmico nas primeiras 3 horas de tratamento da hemorragia pós-parto.
A seguir, faremos a descrição dos medicamentos e sequência para utilização, conforme necessidade:
A Manobra de Hamilton, ou massagem uterina bimanual, é a primeira manobra a ser realizada nos casos de atonia uterina, enquanto se realiza o uterotônico e aguarda-se o seu efeito. O esvaziamento da bexiga antes da compressão é essencial para aumentar a eficácia da manobra.
Tal manobra está representada na figura abaixo.
O BTI pode ser utilizado no controle temporário ou definitivo da HPP, sendo muito útil para viabilizar transferências. Os balões são capazes de reduzir a necessidade de abordagem cirúrgica, em especial a histerectomia e podem ser utilizados tanto após parto vaginal quanto após cesariana.
O tempo de permanência recomendado para o balão é de, no máximo, 24 horas. Na prática, utilizamos a sonda Folley como modelo de balão.
Ele está representado na figura a seguir:
Balão de tamponamento intrauterino (Balão de Bakri). Fonte: Shutterstock
O TAN consiste numa vestimenta de material sintético, geralmente neoprene, que executa compressão circunferencial sobre abdome e pelve, bem como membros inferiores.
Através dessa compressão, é obtida uma redução do sangramento local, levando a redirecionamento do fluxo para as partes superiores nobres do organismo. Essa estratégia pode ser particularmente interessante em situações como transferência da paciente para o serviço que vai realizar o tratamento da hemorragia pós-parto final.
O tratamento cirúrgico estará indicado quando houver falha do manejo medicamentoso e das outras estratégias não cirúrgicas (tais como o balão de tamponamento intrauterino), ou ainda quando a única alternativa para se conter a hemorragia for a abordagem operatória.
Existem várias modalidades de tratamento cirúrgico, dentre as quais se destacam: as suturas compressivas, as ligaduras vasculares, a histerectomia e a cirurgia de controle de danos. É claro, que nesse momento a paciente já estará aos cuidados do especialista!
É uma sutura uterina compressiva feita com fio absorvível, utilizada nos casos em que a atonia não reverteu com as medidas anteriores. Ela é realizada principalmente em partos cesáreas e é interessante, pois preserva o útero e a fertilidade da paciente.
É uma opção para tentar conter o sangramento através da ligadura das artérias uterinas bilateralmente; ou da ligadura das artérias hipogástricas (que se encontram após a separação das ilíacas e anteriormente à saída das uterinas); ou da ligadura das artérias ilíacas externas.
A rafia vascular é raramente realizada devido à necessidade de experiência nesse tipo de procedimento.
É uma forma efetiva de conter o sangramento, porém não é realizada na maioria das vezes, pois requer equipe especializada e tecnologia, que raramente estão disponíveis.
É o último recurso utilizado para conter o sangramento em um caso de HPP, dado que é um procedimento cirúrgico maior que impede a paciente de gestar no futuro.
Se ela for necessária, devemos realizar histerectomia subtotal (com preservação do colo uterino), pois possui tempo cirúrgico menor, é uma cirurgia menos invasiva e possui menos riscos de complicações.
Ficamos por aqui! Gostou de entender mais sobre o tratamento geral da hemorragia pós-parto? Acredite, é bom saber de todos os métodos para não se afobar na hora certa. Priorize o bem estar da paciente e na sua recuperação.
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Paulista, nascido em Americana em 1995. Formado pela Universidade de Brasília em 2019. Residência em Ginecologia e Obstetrícia no HC-FMUSP. Sucesso é o acúmulo de pequenos esforços repetidos dia a dia. Siga no Instagram: @danielgodamedway